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12 junho 2021 às 22h03

Parque Ribeiro Telles. 16 milhões, 790 árvores e novo pulmão para Lisboa

O dia de Santo António foi a escolha da Câmara Municipal de Lisboa para inaugurar o novo espaço verde da cidade, na Praça de Espanha, uma das obras mais emblemáticas do mandato de Fernando Medina.

DN

Ainda não está totalmente concluído, mas o essencial do rosto deste novo grande espaço verde da cidade de Lisboa - quase tão grande como o Jardim da Estrela - está esculpido na Praça de Espanha e é reconhecido por todos os que por ali passam. Para a Câmara Municipal de Lisboa, o que está feito é suficiente para o presidente Fernando Medina inaugurar o designado Parque Ribeiro Telles, em homenagem ao histórico arquiteto lisboeta, já este domingo, dia de Santo António.

"A intervenção de requalificação da Praça de Espanha veio introduzir uma profunda transformação no território e integra um conjunto alargado de projetos e obras que, à medida que foram estando com os seus trabalhos concluídos, foram sendo postos à disposição da população. Foi o caso da rede viária, das ciclovias e agora é chegada a vez da componente verde da intervenção. Assim, o novo parque verde com os respetivos equipamentos infantis e desportivos vai abrir, prevendo-se que gradualmente infraestruturas de apoio como a cafetaria e os quiosques entrem também em funcionamento", diz em comunicado a autarquia lisboeta.

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As obras deste Parque Urbano arrancaram no início de 2020 e estava inicialmente previsto que terminassem nesse mesmo ano, a tempo da Lisboa Capital Verde Europeia, mas essa conclusão foi depois adiada para primeiro trimestre de 2021, e voltou a prolongar-se até agora. Consequência, disseram ao DN os responsáveis, do inverno chuvoso e dos casos de covid-19 que foram atrasando os trabalhos. Em setembro passado, recorde-se, desabou o túnel do metropolitano, causando quatro feridos ligeiros.

Orçada em 16 milhões de euros, a requalificação da Praça de Espanha (o parque e a rede viária, já finalizada) foi a maior obra a decorrer nos últimos meses na cidade. No pico dos trabalhos chegou a juntar 300/350 pessoas por dia.

Apesar de inaugurado oficialmente, esta que é uma das mais emblemáticas obras do mandato de Fernando Medina - que tem esta semana estado debaixo de fogo por causa da transmissão de dados pessoais de ativistas anti-Putin para a embaixada russa - ainda não está totalmente concluída. Além da cafetaria e quiosques de apoio referidos no comunicado da CML, o jornal Público revelava este sábado que também não estão prontos alguns caminhos que atravessarão a área relvada, bem como a ponte pedonal que ligará a Fundação Calouste Gulbenkian à nova praça.

Em declarações ao DN em fevereiro passado, José Veludo, um dos projetistas do ateliê de arquitetura paisagista NPK, que venceu o concurso internacional para a requalificação da praça, disse ao remata a questão sublinhava que o projeto teve a "ambição de se expandir até onde podia", destacando a valorização qualitativa do espaço. "O que tínhamos aqui eram "ilhas" que não comunicavam umas com as outras. Não havia um espaço sustentável. Agora, vamos ter meio quilómetro em espaço de parque em continuidade direta quando antes não existiam nem 50 metros. Mais espaço natural, mais sustentado."

A primeira decisão tomada pelos projetistas foi tentar manter o maior número possível de árvores. Foi por aí que começou a obra, na primavera de 2019, com o transplante de 102 árvores. Foi a maior operação de transplante que já se fez na cidade. A maior parte foi levada para outros locais na cidade, algumas mudaram de sítio na Praça de Espanha.

José Veludo assinalou que a permanência de árvores de grande porte, já com décadas de crescimento, iria dar ao parque "um avanço no tempo". Estes espaços, sublinhou, "nunca estão concluídos quando são inaugurados". O objetivo é que seja a natureza fazer o resto: "É todo um sistema que tem de vir a funcionar com espontaneidade."

"Nós não escolhemos árvores, escolhemos associações de plantas", afiançou o arquiteto paisagista. Apontava para o outro lado da estrada, para os jardins da Gulbenkian, onde ressaltavam as flores brancas de um folhado, um arbusto de grande porte, já a dar os primeiros sinais da primavera que se aproximava. Planta comum em Portugal, é abundante no espaço verde da Gulbenkian e "será um dos reis" do futuro Parque. O objetivo é que haja "continuidade".

Na Praça de Espanha "vai aparecer o que apareceria se não estivesse aqui ninguém", assegurava o projetista. Nas encostas argilosas haverá uma presença dominante do zambujeiro, nas zonas mais planas do centro do Parque domina o carvalho português, ao longo da linha de água "as associações são ripícolas, surgindo os choupos, os freixos, os salgueiros e os lódãos". Estão plantadas "mais 580 árvores de 25 espécies diferentes, mais de 50 000 espécies de arbustos, herbáceas e bolbos de 60 espécies diferentes", explicava José Veludo, sublinhando que "mais de 90% das espécies são autóctones e potenciais da região de Lisboa". No total, com os exemplares pré-existentes que permaneceram, a Praça de Espanha terá 790 árvores.

No terreno antes ocupado com um terminal rodoviário surgiu a clareira central do parque, onde ficará localizada a cafetaria, a nova entrada do metro e um parque infantil, junto à avenida Columbano Bordalo Pinheiro.

Mas o perfil deste Parque não se fica por esta zona central, a sua face definitiva estende-se também aos edifícios, alguns de grande envergadura, que vão ser construídos em redor. No espaço onde esteve instalado o mercado azul será construída uma nova unidade do Instituto Português de Oncologia e a nova sede do grupo Jerónimo Martins. Do outro lado, no final da Avenida de Berna, onde estava a moradia do restaurante A Gôndola, entretanto demolida, surgirá outra grande construção, a sede do Montepio.

Este grande parque urbano, com mais de seis hectares, cria um contínuo verde desde os Jardins da Amnistia Internacional, no Corredor Verde de Monsanto, até aos Jardins da Gulbenkian, ambos espaços da autoria de Gonçalo Ribeiro Telles, este último em coautoria com António Viana Barreto.

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