Nauru. E depois do fosfato?
Mala de viagem (125). Um retrato muito pessoal de Nauru.

"Nós somos a mais pequena nação insular, mas podemos dar um exemplo ao mundo." Quem assim falava era um responsável governamental de Nauru, na reunião já citada, realizada na Nova Zelândia, acerca do futuro do turismo na Oceânia. O responsável nauruano explicou que, como Nauru não possui rios, a água para consumo é coletada em tanques de águas pluviais nos telhados de edifícios residenciais e comerciais, para além daquela que provém de furos artesianos escavados ao redor da ilha. Naturalmente, este método de reciclagem a partir da chuva é possível porque quem tem falta é obrigado a construir sistemas de cariz ecológico. Se este exemplo fosse aplicado à escala mundial, ganhava o Planeta, e todos nós. A ilha é localizada na parte sudoeste do oceano Pacífico e a 3000 quilómetros da costa nordeste da Austrália, e para lá chegar é necessário viajar num voo de 4 horas e meia de Brisbane com a Nauru Airlines. O país não tem uma capital oficial, embora Yaren tenha a sede do Parlamento e o aeroporto internacional. Em termos turísticos, Nauru é o país menos visitado do mundo. Aquele responsável insistia que seria proveitoso que se ganhasse uma economia de escala na zona em estudo. E lembrou que, ao longo da década de 1960, houve discussões sobre uma possível mudança de toda a população para uma ilha ao largo de Queensland, na Austrália, porque Nauru se tornaria inabitável trinta anos depois, segundo as previsões. Por conta do impacto das mudanças climáticas e da mineração de fosfato, os cientistas acreditavam que a paisagem estava tão danificada que investir na reconstrução da ilha seria muito caro, a ponto de a realocação ser vista como a única opção. Porém, o responsável nauruano disse: "Conseguimos ultrapassar essa visão apocalíptica. Os nauruanos opuseram-se à ideia e optaram por permanecer." Em 1968, Nauru tornou-se independente, sendo o país mais rico do mundo em Produto Interno Bruto "per capita", devido aos seus vastos depósitos de fosfatos, que eram compostos formados a partir de excrementos de aves. Porém, o fosfato acabou na década de 1980 e a economia entrou em colapso porque não houve investimento noutros setores, nomeadamente no turismo. Presentemente, a ilha já não tem esse recurso, pelo que o turismo pode vir a ser um setor importante, desde que se integre na estratégia da Oceânia para o setor. Era para isso que estávamos na Nova Zelândia, para ajudar a criar para Nauru algo de novo, para além de este país ser um ponto estratégico no oceano, mas também para que o turismo não seja como o anterior incremento pela exploração dos depósitos de fosfato finitos até à exaustão, sem diversificação económica. As ilhas, pelas suas singulares características, atraem naturalmente os turistas, gerando empregos e receitas que são necessários. O sector do turismo representa muitas vezes a força motriz que está por detrás da economia das pequenas ilhas. Mas, em certos casos, essa indústria assumiu tais proporções que ameaça os ecossistemas e as próprias culturas. A utilização sustentável e uma política racional de conservação desses mesmos recursos são pré-requisitos essenciais para a sua plena exploração. Num mundo que se caracteriza pela crescente globalização, as economias das ilhas revelam-se extremamente vulneráveis, devido à sua reduzida dimensão e à distância que as separa dos mercados emissores. Depois do fosfato, poderá seguir-se o turismo como gerador de riqueza, mas com benefício de diferentes setores de atividade, naquela ilha que é o exemplo maior de como o uso desenfreado de recursos naturais não renováveis e a destruição ambiental extensiva podem rapidamente arruinar um Estado.
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Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.