Sociedade
08 maio 2021 às 22h06

O exército de camuflados por detrás da vacinação

Esta semana, Gouveia e Melo entrou em "modo de combate" em direção à meta de vacinar, em média, 100 mil pessoas por dia. No quartel-general junto ao bunker da NATO, em Oeiras, tem um exército de camuflados, cujas principais armas são as suas cabeças matemáticas.

Na véspera, pelas 11 da noite, tínhamos sido avisados de que Gouveia e Melo chegaria mais tarde (pelas 10 da manhã) do que o habitual (9h00), porque o carro (um idoso Mercedes com 20 anos) tinha avariado na viagem para o Porto e já não podia regressar nessa noite.

Mas quando chegámos ao quartel-general, junto ao bunker da NATO, em Oeiras, pelas 10 horas combinadas, o vice-almirante já estava no seu gabinete desde muito mais cedo, com pouco mais de quatro horas de sono dormidas. "Afinal conseguimos uma boleia à noite e chegámos as três da manhã", sorri.

Recebe-nos fardado com o seu camuflado, enquadrado por uma moldura de janela com o mar azul brilhante e bonançoso em frente, do qual se eleva o Forte de São Julião da Barra. Oferece-nos café. Demora pouco sentado, porque, mal começa a falar, eleva o seu metro e noventa e três, dirige-se ao quadro branco que tem junto à parede a meio da sala.

Num gesto que iria ser recorrente durante todo o tempo que o acompanhámos, pega em quatro marcadores grossos, um preto, um azul, um vermelho e um verde, e começa a desenhar as palavras que vai proferindo. "Entrámos em modo de combate esta semana. Desde ontem que o objetivo é, a partir da próxima semana, vacinar mais 100 mil pessoas por dia."

Já está feita a diretiva para a vacinação massiva que arrancará na semana de 10 a 16 de maio e agora "é preciso pôr toda a máquina a andar", afirma o almirante.

Desenha uma espécie de grade no quadro, dividida ao meio por um traço vermelho. "A matriz que estamos a fazer tem em conta a capacidade máxima que cada centro de vacinação assume, e isso será repartido pelas inoculações das segundas doses, as primeiras, as doses únicas, as pessoas com comorbilidades, tudo junto, auto agendamento central e agendamento local, cada um destes blocos vai somar as 100 mil doses por dia", continua a esboçar no quadro.

Não esconde o incómodo com as notícias do fim de semana, nas quais se viram alguns locais com filas longas de pessoas à espera para ser vacinadas, reclamando de haver agendamentos para a mesma hora.

Em alguns casos os auto agendamentos, que são registados a nível central do Serviço Nacional de Saúde (SNS), sobrepuseram-se a marcações já feitas localmente pelos centros de saúde. Gouveia e Melo sublinha que "o erro foi detetado, foi pontual e está a ser corrigido. Sabíamos que esta questão dos agendamentos iria ser um dos maiores desafios quando o tsunami chegasse. E ele chegou".

O coordenador da task force recusa-se a falar sobre os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), entidade que gere todas as bases de dados informáticas do SNS, com a qual a sua equipa tem uma relação exaustiva permanente, mas esta semana foi divulgado o diagnóstico que o governo apresentou a Bruxelas para justificar um investimento nestes sistemas de 300 milhões de euros no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência e o retrato não deixa margem para dúvidas sobre as "dificuldades de natureza digital" com que a task force da vacinação tem de contar.

"Tecnologias obsoletas, que dificultam o adequado desempenho e segurança dos dados dos utentes", foram "criadas múltiplas aplicações, que tentam minorar o problema, tornando o acompanhamento do sistema ainda mais complexo e espartilhado, bem como aumentando a necessidade de recursos e de operação. [...] A não integração dos sistemas tem impacto ao nível da eficiência da prestação de cuidados (maior carga de trabalho e consequente desgaste dos profissionais, desumanização dos cuidados) e na gestão dos doentes e dos serviços" é escrito no relatório.

Para já, enquanto as coisas não se resolvem, os agendamentos centrais e locais vão ser registados de forma separada, os primeiros de manhã e os segundos de tarde.

Gouveia e Melo realça o "excelente apoio" que "todos têm dado à task force, desde o SPMS às autarquias e Proteção Civil, incluindo bombeiros, na execução de todo o processo de vacinação".

A arquitetura destes centros também teve a mão da task force. "Nos postos maiores até criámos uma sala para ansiosos, para aquelas pessoas que chegam uma hora ou mais de uma hora mais cedo e depois querem ser logo atendidas.

Assim ficam tranquilas a aguardar", refere. Há mais de 200 centros de vacinação em todo o país, 119 dos quais de grande dimensão, com capacidade para vacinar, no mínimo, entre 800 a mil pessoas por dia. Para já, a task force descarta os centros de vacinação móveis, do tipo drive thru.

As cadeiras rodam e juntam-se em semicírculo numa das pontas da sala. É hora do briefing da manhã, nesta terça-feira um pouco atrasado por causa dos convidados (o DN), onde a equipa faz um ponto de situação sobre o que está a ser tratado, por tratar e as preocupações.

São cerca de uma dúzia os militares nesta sala, todos de camuflado, ou não fosse essa a farda que o vice-almirante elegeu para a task force. "Há aqui padrões de que não prescindo e dos quais nos orgulhamos. Fomos escolhidos pelas nossas capacidades militares e esta é a nossa farda de trabalho, comum a todos os ramos", afiança.

Avança Paulo Antunes, coronel do Exército, que é o chefe de estado-maior da task force, e apresenta a síntese do dia. O ambiente é bastante informal, alguns militares estão de pé, outros sentados.

Gouveia e Melo está sentado junto à tela de televisão através da qual se veem pequenos quadradinhos com caras de militares que acompanham a reunião de outros pontos - oficiais de ligação na sala de situação, nas administrações regionais de saúde, nas bases logísticas, entre outros, num total de três dezenas de militares que constituem a equipa da task force.

Na parede branca sobressaem os gráficos com os dados do plano de distribuição versus vacinas encomendadas, inoculadas, ali tudo é controlado rigorosamente.

Um dos oficiais que estava ao telefone no fundo da sala pede licença para se aproximar de Gouveia e Melo e segreda-lhe qualquer coisa ao ouvido. O almirante acena que sim, "avancem para as reservas, sim, avancem, está autorizado".

Partilha com o resto da equipa que em Torres Vedras houve um número significativo de pessoas que não compareceu à hora agendada. Neste dia, recorde-se, o presidente daquela autarquia, Carlos Bernardes, foi encontrado morto em sua casa. Pode ter sido só coincidência, mas os frascos já estavam preparados e é preciso chamar agora as pessoas na lista de reserva - um procedimento criado pela task force precisamente para evitar sobras.

Continua o briefing, com alguns problemas a fazer franzir as revoltas e espessas sobrancelhas de Gouveia e Melo. Um deles é que, aparentemente, certos pontos de receção de vacinas só aceitam a sua entrada até às 16 horas.

"Como? Estão a brincar connosco? Estamos num combate, não há horários. Recebem nem que seja à meia-noite", assevera. Nem é preciso dizer mais nada. Como um corpo só, a equipa já sabe o que tem de fazer: informar quem de direito que os horários devem ser flexíveis.

Outro "processo pendente/problema" é a "ausência temporária do capitão-tenente Rui Deus". "Sr. Almirante, Deus vai ser pai e tem de se ausentar uns dias para a Madeira. Estamos aqui a ver como vamos conseguir substituí-lo ou, pelo menos, contar com ele a partir de casa."

Não é por acaso que este oficial merece lugar no power point. Doutorado em Matemática Aplicada pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, este oficial da Marinha é um dos crânios da task force, perito em estatísticas e investigação operacional. "Tiras três dias, certo?", interroga Gouveia e Melo, reclinando-se na cadeira com ar irónico. "Pelo menos o fim de semana, Sr. Almirante", responde Rui Gonçalves Deus.

Acabariam a combinar que poderia trabalhar mais uns dias de casa, não sem que o coordenador da task force exigisse a Deus que trouxesse para a equipa "algumas daquelas coisinhas boas da Madeira". Gouveia e Melo conhece bem este oficial. Foi seu orientador de tese na Escola Naval.

Um dos oficiais lembra que ainda não conseguem ter acesso à idade de cada uma das pessoas vacinadas e realça que é um dado importante para o planeamento. Gouveia e Melo pega no telemóvel, troca algumas palavras com alguém, à frente de todos, e nessa tarde a informação pretendida chega.

Neste dia, é esperada a publicação de uma nova norma da DGS que define as regras e prioridades. A task force, que prepara e faz as recomendações, aguarda com expectativa para saber como vai ser. Uma das alterações será dar à task force a decisão sobre as prioridades e ritmo de vacinação dos grupos profissionais que contribuem para a resiliência do Estado, como os polícias e bombeiros.

Faz novo telefonema a perguntar porque ainda não saiu a norma e, pela reação, alguém do outro lado da linha diz que já foi publicada e está no site da DGS. "Já está? Então espere só um momento que vou já meter a bota da tropa na cara aqui de um indivíduo que disse que não", afirma, ao mesmo tempo que pisca o olho para o seu pessoal.

Na sala de operações estão, além de Deus, o coronel do Exército Paulo Antunes, os dois oficiais responsáveis pela comunicação, Ramos Oliveira e José Luís, ambos da Marinha, o médico Penha Gonçalves, que é quem prepara com a DGS as normas para a vacinação, o sargento João Dias, o designado "controleiro" das denúncias e reclamações que lhe chegam, depois de analisadas pela sargento Orlanda Lima, e envia para a PJ e/ou para a Inspeção-Geral da Administração da Saúde, e os outros militares que constituem as divisões de Logística, Operações Correntes (planeamentos até 15 dias) e Operações Futuras (planeamentos para um mês).

Esta última preparou a diretiva para a fase de vacinação massiva e está a trabalhar a matriz para os agendamentos. Integra, além de Rui Deus, o tenente-coronel da Força Aérea Rocha Pinto, que, estando na reserva, respondeu ao apelo da task force para que apoiasse a equipa com os seus conhecimentos informáticos.

Está junto a ele o major do Exército e engenheiro geógrafo Carvalho Dias, das Operações Correntes. "Pegamos no trabalho das Operações Futuras e afinamo-lo para a semana presente", explica.

Num dos computadores, o capitão-tenente Pero Nero Leão, formado na Escola Naval em Comunicações e Sistemas de Informação, olha fixamente para uma folha Excel repleta de números. Tem como função monitorizar o ritmo semanal de inoculações por faixa etária, a cada dia, a sua distribuição e comparar com o previsto.

É perto do meio-dia quando dá por finalizado o briefing, com alguns telefonemas pelo meio, interrupções e muitas explicações delineadas a marcador no quadro.

O almoço frugal vem dentro de uma mala térmica de esferovite e é servido numa das salas de apoio. Nesse dia é solha frita com arroz. Junta-se à mesa o chefe de gabinete, capitão de mar-e-guerra Palmeiro Ribeiro, que todos tratam carinhosamente por "Ritinho", em "homenagem" à sua mulher, de nome Rita. Trocam sorrisos e apercebemo-nos de que estamos no meio de uma private joke que não nos vai ser explicada.

Trocam-se histórias e experiências desta nova missão. Desde que passou a ser figura pública, Gouveia e Melo tem sido surpreendido por alguns "fãs". Num desses episódios, conta, tinha saído das instalações da task force e passou no supermercado para levar algumas coisas para casa.

Estava na fila para pagar e uma senhora à sua frente, que estava a pagar, diz para a funcionária da caixa: "Vá, deixe estar, fique com os trocos e deixe este senhor passar, que ele tem muito que fazer e está com pressa!" e puxou Gouveia e Melo.

Ramos de Oliveira confirma que já testemunhou diversas situações de pessoas "que vão ao encontro do Sr. Almirante, lhe pegam nas mãos e dizem obrigado, obrigado", deixando-os sem palavras.

"Fico muito constrangido. Estive a maior parte dos anos da minha vida de militar num submarino debaixo do mar. As reações das pessoas, a agradecer-me, colocam-me um peso ainda maior nos ombros. O que prometo é que tudo farei para corresponder."

Em meia hora Gouveia e Melo está de volta ao seu gabinete, onde liga, apressado, o Zoom, para uma videochamada com a Madeira. Saímos. E voltaríamos a sair durante outra telerreunião, que durou mais de duas horas, com a ministra da Saúde e os responsáveis das ARS.

Nessa noite irá à RTP 3, e o jantar, no mesmo registo do almoço, é muito rápido, antes da saída pelas 20h20. Para esta entrevista, conduzida pela jornalista Cristina Esteves, Gouveia e Melo tinha preparado algumas "munições". Uma delas foi anunciar que os doentes com as comorbilidades consideradas de risco pela DGS que estivessem a ser acompanhados nas consultas externas dos hospitais seriam vacinados nos próprios hospitais.

Passava das nove e meia quando deu por finalizado o dia de trabalho. Ou não. "Tenho ainda de pensar esta noite como vou resolver algumas questões", reconhece.

Gouveia e Melo já está a escrever no quadro quando chegamos às combinadas 9h. "To do list" encabeça uma sequência de tópicos. "Tenho aqui umas questões para pôr em marcha", diz, enquanto vai escrevendo.

"Prescrição médica eletrónica" está no topo e a sua preocupação prende-se com a necessidade de os médicos dos centros de saúde utilizarem este sistema para identificar os seus doentes, a partir dos 16 anos, com comorbilidades consideradas prioritárias para vacinar. "Agendamento central", "verifica matriz de referência", "professores", "100 K dia", "vacinação nos hospitais", prossegue.

O seu gabinete é minimalista. Além deste quadro branco, que é uma espécie de prolongamento de si, tem na secretária dois ecrãs grandes do computador, onde passam folhas de Excel, barras de gráficos e tabelas. Muita matemática sempre presente.

Entra o comandante José Luís (as portas estão sempre abertas), um dos assessores para a imprensa. Está satisfeito com o impacto da entrevista de ontem à RTP. "Foram dadas várias informações importantes e toda a gente está a replicar", sublinha este capitão-de-fragata que deu a volta ao mundo no navio-escola Sagres.

Desta vez o briefing começa às 9h44 e é mais rápido, porque Gouveia e Melo decidiu visitar um dos centros de vacinação de Lisboa. "Percebi que as pessoas se sentem acarinhadas e valorizadas e sempre que posso vamos ao terreno", justifica.

Não sai muito bem-disposto da sala, porque, pelos dados que lhe deram, julgou que não iria atingir nessa semana os 100 mil vacinados por dia. Volta-se para o quadro e escreve enquanto fala.

"Isto é matemática, têm de ser dados passos sequenciais. Não pode haver uma solução para cada local de vacinação. Há dias em que se vai ter de trabalhar mais. Sorry, não se pode andar a fazer tricô", afirma perante a sua equipa, que o olha como se estivesse a dar uma aula.

Saímos em cima da hora, pelas 10h33, para a visita ao centro de vacinação. Completa a farda com a boina azul da Marinha. A viagem é rápida, num carro emprestado, pois o Mercedes continua na oficina, e chegamos a horas ao Centro de Saúde de Sete Rios, onde está a aguardar Luís Pisco, diretor da ARS de Lisboa e Vale do Tejo.

Sem câmaras nem holofotes, a paragem não demora. Os pescoços dos utentes viram-se quando o grupo passa. "É ele? O almirante das vacinas?", questiona uma mulher na sala de espera.

O destino é agora o Centro de Vacinação do Lumiar, situado no Centro Hindu de Lisboa, em Telheiras. Já são 11h30 e o aroma a caril da conhecida cantina desperta o palato para o almoço.

"Quando sairmos, ainda comemos uma chamuça", dita o almirante, a dar nota que também sentiu. Está tudo organizado, conforme a arquitetura da task force, mas sem a original sala para ansiosos. "Não é preciso aqui, o espaço é tão grande que quem chega mais cedo fica tranquilamente à espera juntamente com as outras pessoas", justifica Helena Caria, da Câmara Municipal de Lisboa.

Uma das enfermeiras aproxima-se do grupo de Gouveia e Melo. "Muito obrigada por esta visita, Sr. Almirante. É muito importante para nós, dá-nos força", diz Sofia Pimenta. "Ele é a nossa imagem de referência em todo este processo", completa.

Todos querem tirar uma fotografia com o almirante de camuflado. Kirit Bachu, o presidente do Centro Hindu, e Dolar Parshotan, administrador, aproximam-se e também querem uma fotografia.

Gouveia e Melo aproveita para lhes agradecer. "Este centro de vacinação tem uma particularidade de grande simbolismo, de entreajuda entre comunidades. Disponibilizaram este espaço e isso tem um enorme significado", sublinha.

"É um grande orgulho para a nossa comunidade poder servir a sociedade", corresponde Bachu, obrigando o grupo a passar pela cantina e a degustar um fresquíssimo sumo natural de cana-de-açúcar com gengibre e limão e chamuças de legumes acabadas de fritar. De regresso à base, o almirante vai satisfeito. "Sou mesmo um militar feliz. Tenho muito orgulho na minha farda", desabafa.

Ao almoço volta a juntar o seu núcleo duro. Palmeiro, Penha Gonçalves, Paulo Antunes e Ramos de Oliveira. Descontraído, conta histórias de praxes nos submarinos, sustos, tempos bem passados e missões arriscadas. Usa muitas analogias quando fala.

Junta de novo a equipa da task force na sala de operações e pede novo ponto da situação sobre a matriz que pediu. Rocha Pinto e Carvalho Dias partilham as suas ideias, mas o almirante não parece estar convencido.

O debate prolonga-se e é indecifrável para quem não é familiar com fórmulas matemáticas. "Quero convencer-vos, não quero vencer-vos", assinala o almirante, que já preencheu de novo o quadro com números, letras e fórmulas.

"Ou se é o vento ou a bandeira, e nós aqui somos o vento, quem dita a direção da bandeira. Por isso tudo tem de estar muito claro. Regras rígidas e simples", assevera. Levanta-se e todos voltam aos seus lugares, focados na missão que lhes foi dada.

Ao final da tarde, no seu gabinete, depois de mais uma longa videorreunião de coordenação com as ARS, SPMS e oficiais de ligação da task force, entre outros - a que também não pudemos assistir -, estica um pouco as pernas e olha para a "to do list" que preparou de manhã.

"Disse, na entrevista, que a vacinação nos hospitais ia começar para a semana e estamos a preparar tudo. Não somos só nós na task force, tenho todo um exército no SNS cheio de boa vontade para fazer esta máquina andar. É uma questão humanitária. Se calhar, estou a atirar-me para fora de pé com botas pesadas, mas não concebo que pessoas com doenças graves tenham de ir a um centro de vacinação quando são acompanhadas nos hospitais."

Tem o semblante carregado quando se vai despedir à sala de operações. São quase oito da noite e ainda lá estão militares a fazer os cálculos para a matriz. "Quantas pessoas foram hoje vacinadas?", pergunta. "Até às 19 horas, mais de 86 mil. Possivelmente amanhã chegamos aos 100 mil", respondeu Costa Ramos, o chefe das Operações Correntes, despertando um sorriso no rosto de Gouveia e Melo.

No dia seguinte confirmar-se-ia que foram vacinadas 100 226 pessoas e atingida a marca de um milhão de pessoas com vacinação completa , correspondendo a mais de 10% da população.

Gouveia e Melo não faz parte desta percentagem. Momentos antes, tínhamos ficado a saber que o coordenador da task force da vacinação, com 60 anos feitos este ano, ainda não foi inoculado.

Confirma Ramos de Oliveira: "O Sr. Almirante faz questão em só ser vacinado depois de todos os da sua faixa etária o serem. Primeiro até queria ser o último de todos os portugueses, mas explicámos que isso iria ser difícil. Na equipa, incluindo eu, só somos vacinados quando nos chamarem pela nossa faixa etária, não por sermos militares ou estarmos na task force."

valentina.marcelino@dn.pt