08 novembro 2018 às 06h20

Benfica volta a falhar no último lance e fica com um pé fora da Champions

A equipa de Rui Vitória somou o quarto jogo seguido sem vencer. Desta vez empatou 1-1 com o Ajax em casa e nos instantes finais falhou o golo que daria a vitória. Já em Amesterdão tinha perdido no último suspiro da partida. A Luz vive tempos de crise...

Carlos Nogueira

O Benfica ficou esta quarta-feira com um pé fora da Liga dos Campeões ao ceder um empate 1-1 com o Ajax, no Estádio da Luz. As contas, se já estavam difíceis, ficaram agora bastante complicadas, pois este resultado mantêm a vantagem de quatro pontos dos holandeses, quando estão apenas seis pontos em disputa.

E a verdade é que a história desta luta pelo apuramento poderia ser bem diferente, pois os últimos minutos das duas partidas com o Ajax foram fatais para os encarnados, que em Amesterdão sofreram o golo da derrota (0-1) na última jogada da partida, e agora na Luz foi Gabriel a ter a possibilidade de dar a vitória no último lance, mas o guarda-redes Onana defendeu com os pés quando os adeptos já gritavam golo.

Foram dois detalhes que em competições como a Champions fazem toda a diferença e que derrubam o ânimo de qualquer equipa. E como o Benfica precisava de algo que o animasse, pois ontem somou o quarto consecutivo jogo sem vencer (três derrotas e um empate), algo que não acontecia desde a época 2011/12, quando Jorge Jesus orientava a equipa.

Os encarnados entraram bem na partida, como que querendo demonstrar muita vontade de acabar com a crise, com Grimaldo e Franco Cervi a testarem a atenção de Onana, guarda-redes camaronês que estaria em foco na partida, pelas melhores e as piores razões.

No entanto, aos poucos o Ajax começou a tomar conta do jogo, com o seu estilo de jogo de pé para pé, com os encarnados a recuarem no terreno, provavelmente de forma estratégica, para aproveitar os espaços que lhe eram concedidos assim que recuperava a bola.

Jonas quebra pacto de não agressão

Assistiu-se a um período de cerca de 20 minutos em que as equipas pareciam ter assinado um pacto de não agressão... mas que na prática tinha a ver com a estratégia. Aos holandeses convinha conservar a posse de bola para aproveitar o menor deslize encarnado para chegar à baliza de Vlachodimos, enquanto os benfiquistas sabiam que não podiam correr riscos desnecessários.

Quando o relógio chegava já à meia hora, Jonas quase aproveitou um deslize de Onana, que se atrapalhou com a bola nos pés. Era um aviso para o que iria acontecer no instante seguinte, quando um lançamento lateral longo de Salvio não foi intercetado pelo guarda-redes camaronês, tendo a bola chegado a Jonas, que solto na área abriu o marcador, dando esperança de que a noite seria encarnada. Foram instantes de grande fulgor da equipa de Rui Vitória, que no lance seguinte poderia ter aumentado a vantagem, não fosse Salvio ter chegado atrasado ao cruzamento de Jonas.

O Ajax parecia estar perdido no jogo, não conseguia conservar a bola em seu poder e permitia ataques rápidos do Benfica, que estava a ter o melhor período no jogo. Ainda assim, em cima do intervalo, um livre direto de Lass Schöne quase empatou o jogo, não fosse Vlachodimos a fazer uma excelente defesa... na recarga Van de Beek falhou o golo de forma escandalosa.

Estava dado o aviso para o que se passaria na segunda parte, na qual o Benfica começou uma espécie de suicídio. Aos 55 minutos, Salvio e Jonas, dois dos melhores jogadores da equipa até então, já tinham sido substituídos devido a lesões e a partir daí os encarnados como que, por artes mágicas, desapareceram do jogo.

O golpe duro de Tadic

O Ajax voltou a assumiu o controlo absoluto do jogo, mas agora com a clara intensão de procurar o empate, começando a criar vários problemas ao lado direito da defesa do Benfica, onde o brasileiro David Neres era uma espécie de abre latas, que deixou André Almeida em dificuldades. Mas aos poucos foi emergindo Ziyech, que passou a surgir em zonas mais recuadas para fazer valer o seu talento e visão de jogo. E foi ele que aos 61 minutos fez um passe fantástico para solicitar a velocidade de Dusan Tadic, no meio dos centrais encarnados. O sérvio ultrapassou Vlachodimos e desviou para a baliza, de nada valendo o esforço de Rúben Dias.

O Benfica sentiu o golpe duro e os minutos que se seguiram mostraram uma equipa a querer resolver na base dos lançamentos longos para Seferovic ou por lances individiuais que, invariavelmente, resultavam em posse de bola para o adversário. Gabriel era dos poucos jogadores encarnados a ter alguma lucidez, sobretudo através da sua capacidade de passe. Foram dois passes do médio brasileiro que abriram a defesa holandesa, primeiro valendo um grande corte de De Ligt e depois Onana que defendeu um remate de Seferovic.

Gabriel falha pontapé na crise

Apesar da vontade dos benfiquistas, o Ajax estava confortável no jogo, trocando a bola entre os seus jogadores e sempre longe da sua área. E quando o adversário se aproximava da baliza estava lá Onana, que depois do erro no golo de Jonas, tornou-se o herói nos instantes finais, defendendo um remate de Rafa para canto, na sequência do qual negou o golo a Gabriel.

Chegava o apito final do árbitro e na Luz ouviu-se um coro de assobios e viram-se lenços brancos. O Benfica continua em crise e a contestação a Rui Vitória continua, afinal os quatro jogos sem vencer atiraram a equipa para o 5.º lugar da Liga e deixam-na praticamente fora os oitavos-de-final da Liga dos Campeões pelo segundo ano seguido.

Salvaram-se apenas os 900 mil euros de prémio da UEFA pelo empate, escasso para quem dependia dos dois jogos com o Ajax para uma boa carreira na Liga dos Campeões. Resta agora garantir pelo menos a passagem à Liga Europa... Quanto a Rui Vitória, o jogo de domingo com o Tondela, será fundamental para a sua continuidade na Luz, pois a paciência dos adeptos parece estar a esgotar-se.

A FIGURA - JONAS

Voltou a mostrar que é um jogador essencial para a equipa do Benfica. Não foi só o golo que marcou, típico de um goleador, mas também a forma como faz a equipa jogar, como a mantém ligada e a saber o que fazer para chegar à baliza contrária. A maior prova da sua importância é a forma como os encarnados jogaram depois de o brasileiro ter sido substituído já na segunda parte, parecendo que perdeu o seu cérebro e passando a jogar de forma mais desgarrada e em esforço.

FICHA DO JOGO

Estádio da Luz (51 328 espectadores)
Árbitro: Gianluca Rocchi (Itália)

Benfica: Vlachodimos; André Almeida, Rúben Dias, Jardel, Grimaldo; Fejsa, Gedson Fernandes (Pizzi, 75'), Gabriel; Salvio (Rafa Silva, 48'), Jonas (Seferovic, 55'), Franco Cervi
Treinador Rui Vitória

Ajax: Onana; Mazraoui, De Ligt, Daley Blind, Tagliafico; Frenkie De Jong (Wöber, 86'), Lass Schöne, Van de Beek; Ziyech, Dusan Tadic, David Neres ( Kasper Dolberg, 74')
Treinador: Erik Ten Hag.

Cartão amarelo a Tagliafico (34'), Jonas (39'), De Ligt (42'), Fejsa (45'+1), Jardel (70'), Van de Beek (72') e Tadic (83')

FILME DO JOGO