Montenegro. A espera para primeiro-ministro 

Mala de viagem (123). Um retrato muito pessoal de Montenegro.

Quem espera sempre alcança, diz o ditado. Há poucos anos, quando estive no Montenegro, governava Zdravko Krivokapić como primeiro-ministro. O seu vice era Dritan Abazović, de quem assisti a uma conferência subordinada ao tema "Política Global - Aspectos Éticos da Globalização", precisamente o título da sua tese de doutoramento (2019) na Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Sarajevo. Eu estava perante um jovem albanês étnico e muçulmano, nascido em 1985, marcadamente ambicioso. Antes, em 2010, publicara o seu primeiro livro intitulado "Cultura Cosmopolita e Justiça Global" e estivera envolvido na vida política do Montenegro desde muito cedo. Naquela circunstância em que o ouvi, já o Movimento Cívico URA, liderado por ele, decidira concorrer de forma independente, apresentando a sua plataforma eleitoral de centro-esquerda, sob o signo "Preto no Branco". A lista foi formada por candidatos independentes, incluindo a conhecida jornalista e ativista Milka Tadić, vários professores universitários, jornalistas, ativistas da sociedade civil e ONG. A lista eleitoral do URA também incluiu um representante do partido SPP, de interesses minoritários bósnios, bem como várias sensibilidades locais, com menor expressão. As eleições parlamentares de 2020 alcançaram a primeira mudança democrática de Governo na história deste país. A lista eleitoral de Abazović ganhou quatro mandatos, o que provou ser crucial para derrubar o Partido Democrático dos Socialistas liderado pelo presidente da República. Após dois anos de dificuldades de Krivokapić, em 3 de março de 2022 o presidente Dukanović pediu a Abazović que formasse um novo Governo após um voto de desconfiança, no início de fevereiro, contra Krivokapić. Em 28 de abril, o Parlamento do Montenegro aprovou o Governo, composto por uma ampla coligação de partidos pró-europeus e pró-sérvios, com Abazović como primeiro-ministro. Abazović disse que o foco principal seriam as reformas exigidas pela União Europeia para que o Montenegro pudesse pedir para acelerar o seu processo de adesão. Neste sentido, o novo primeiro-ministro podia pôr em marcha o Programa do Movimento que criara, o que significou a chamada de atenção para vários pontos-chave no sentido de melhorar o padrão de vida de todos os cidadãos do Montenegro. Alguns desses pontos são o estabelecimento do Estado de direito e a luta intransigente contra a corrupção e o crime organizado e, ainda, a reforma do sistema económico, do sistema educacional e do sistema de saúde, bem como a proteção do ambiente e o desenvolvimento sustentável, pretendendo afirmar o Montenegro como país claramente europeu e ecológico. A sua ambição de ser líder do Governo montenegrino estava alcançada. E, naquela sessão em que observei a defesa acérrima da sua tese, a globalização foi apresentada como meio para operar em benefício de todos, em particular dos mais pobres, porque num mundo cada vez mais interdependente a prosperidade dos povos não é sustentável se não for amplamente partilhada. Oxalá que quem esperou ser primeiro-ministro consiga dar um exemplo à Europa e ao mundo, no sentido de se respeitarem e se seguirem os aspetos éticos da globalização.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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