Política
06 setembro 2021 às 22h54

Frente-a-frente. Medina versus Moedas numa pré-campanha que já azedou o futuro 

Candidato socialista e social-democrata travam hoje um debate a dois, um confronto inédito numa pré-campanha em que o ambiente azedou por causa do Russiagate. BE e PCP apresentaram queixa por discriminação.

É o único frente-a-frente televisivo previsto entre os dois principais adversários à liderança da Câmara de Lisboa nos próximos cinco anos: Fernando Medina e Carlos Moedas travam hoje argumentos num debate a dois, na TVI. Claramente atrás de Medina em todas as sondagens divulgadas até agora Moedas tem neste "duelo" um momento particularmente importante para chamar a si o eleitorado lisboeta, contra o atual presidente de câmara, que faz contas a eventuais futuras coligações, assumidamente à esquerda.

Os programas de candidatura, as entrevistas e o primeiro debate a sete, na passada semana, na SIC Notícias, já mostraram quais as principais linhas de confronto entre o socialista e o social-democrata - e que têm passado mais pela atualidade política do que propriamente por divergências de fundo na visão para a cidade, numa disputa que já passou por nomes como ... Vladimir Putin e José Sócrates.

A polémica em torno da entrega de dados pessoais de manifestantes a embaixadas estrangeiras - nomeadamente de opositores ao presidente russo - continua a ser uma das principais armas de arremesso da oposição contra Fernando Medina - Carlos Moedas incluído. No debate da passada semana, o cabeça-de-lista da coligação Novos Tempos (PSD/CDS/PPM/MPT e Aliança) insistiu que cabia ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa assumir o erro e demitir-se do cargo "e não demitir um técnico". Moedas escusou-se, no entanto, a repetir a acusação feita há semanas de que Medina seria "cúmplice" de Putin, uma expressão que azedou o ambiente. Logo a seguir o autarca lisboeta contrapôs, na RTP, que "a acusação de que a Câmara Municipal de Lisboa está conluiada com o regime de Putin é simplesmente o mais puro oportunismo, um delírio". No meio de acusações mútuas de desespero, Medina garantiu entretanto que não há qualquer hipótese de acordo no executivo camarário: Moedas tem sido "lamentável", disse ao Observador.

Outro ponto de ataque de Moedas tem sido o urbanismo, com o candidato social-democrata a eleger a "transparência" como uma bandeira de campanha e a trazer para cima da mesa os processos que impendem sobre Manuel Salgado, o antigo vereador do urbanismo da câmara. Outra questão que Moedas não tem deixado passar em branco é a promessa de Medina - não cumprida - de 6000 casas de renda acessível em Lisboa, numa área que é o eixo central do programa do candidato socialista às autárquicas. No plano inverso, Medina tem focado as críticas na proposta de isentar de IMI (Imposto Municipal sobre o Património) os jovens com menos de 35 anos que comprem casa na cidade. Uma medida sem nenhum efeito prático, contrapõe o autarca socialista que, no debate a sete, teve uma "ajuda" do comunista João Ferreira, que qualificou a proposta de Moedas como um "desconto" a quem tem dinheiro para comprar casa em Lisboa, e não uma solução para o problema de quem não tem - um argumento recebido com um "claro" de Fernando Medina.

A mobilidade na cidade é outro foco de controvérsia entre os dois candidatos. Medina tem tecido fortes críticas à proposta social-democrata de baixar as tarifas de estacionamento da EMEL para residentes, defendendo que esta medida é um incentivo à utilização do carro. Já Carlos Moedas não tem poupado as ciclovias construídas na cidade pelo executivo socialista e é certo que uma das mais polémicas - na Avenida Almirante Reis - deixará de existir em caso de vitória do social-democrata. Neste capítulo, Moedas também já ouviu críticas por ter integrado o governo de Passos Coelho que avançou com a privatização da Carris - aconteceu no último debate a sete, com o candidato a responder "estou aqui para ir para a frente com o que está a ser feito". E a contra-atacar com um "não podemos continuar a politizar a Carris".

Limitado ao candidato socialista e ao número um da coligação Novos Tempos, o debate da TVI foi alvo de uma queixa à Comissão Nacional de Eleições (CNE), quer por parte do Bloco de Esquerda, quer do PCP, com os dois partidos a queixarem-se de discriminação. A queixa foi remetida pela CNE para a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC), que ontem confirmou ao DN "que se encontra a analisar duas queixas", mas sem avançar qualquer prazo para a decisão. A CDU marcou, entretanto, uma iniciativa de João Ferreira para a mesma hora do debate da TVI, no que diz ser "uma forma de protesto contra a discriminação no debate em curso sobre as eleições autárquicas de Lisboa" e o "silenciamento" do um "projeto alternativo" para Lisboa, em "oposição às candidaturas de Fernando Medina e Carlos Moedas que, no essencial, representam uma mesma visão da cidade". Estão na corrida à presidência de Lisboa Fernando Medina (PS/Livre), Carlos Moedas (PSD/CDS/PPM/MPT/Aliança), Beatriz Gomes Dias (BE), João Ferreira (CDU), Manuela Gonzaga (PAN), Bruno Horta Soares (IL), Nuno Graciano (Chega), Tiago Matos Gomes (Volt), Ossanda Biden (Somos Todos Lisboa) e João Patrocínio (Ergue-te).

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