Internacional
05 outubro 2022 às 18h37

Simone Tebet junta-se a Fernando Henrique Cardoso e vota Lula

Antigo presidente recebe apoio do governador do Pará e de barões do PSDB. Bolsonaro conquista mais dois governantes estaduais, além do antecessor, Michel Temer.

João Almeida Moreira, São Paulo

Simone Tebet, terceira classificada na primeira volta das eleições do Brasil, com 4,2% dos votos, equivalentes a 4,9 milhões de eleitores, declarou apoio a Lula da Silva, o vencedor do pleito, com 48,4% dos sufrágios, após encontro em São Paulo. Depois de conquistar o apoio, tímido, de Ciro Gomes, quarto mais votado com 3%, o presidente do Brasil de 2003 a 2010 tenta, com Tebet a seu lado, ganhar avanço decisivo sobre Jair Bolsonaro, candidato à reeleição e escolhido por 43,2% dos brasileiros.

"A minha decisão é por um projeto de país", disse Tebet, ainda antes de almoçar com Lula, em encontro com Geraldo Alckmin (PSB), o candidato a vice-presidente. Na ocasião, ela entregou o seu programa de governo, fez cinco sugestões a Lula, em caso de vitória deste, no dia 30, e comprometeu-se a participar na campanha do antigo presidente.

No final do encontro garantiu: "Apesar das críticas que fiz, depositarei nele o meu voto. Seu compromisso é com a democracia e Constituição, o que desconheço no atual presidente". Tebet afirmou ainda que não "cabe omissão" neste momento e que, "até ao dia 30 de outubro" estará nas ruas em campanha pelo petista. "Meu grito será pela defesa da democracia e por justiça social", afirmou....

Uma posição que repetiu no Twitter, onde explicou que "meu apoio é por um Brasil que sonho ser de todos, inclusivo, generoso, sem fome e sem miséria, com educação e saúde de qualidade, com desenvolvimento sustentável".

A luta entre os candidatos por apoios é renhida, já que parte dos partidos deu liberdade de escolha. Por exemplo, Michel Temer, presidente de 2016 a 2018, anunciou apoio a Bolsonaro instantes antes de Tebet se juntar a Lula - e ambos são do MDB.

Uma situação equivalente ao PSDB, partido de centro-direita que durante 20 anos rivalizou no poder com o PT, de Lula, e fez parte da coligação de apoio a Tebet, no último domingo, dia 2. Rodrigo Garcia, o governador de São Paulo que não chegou à segunda volta, declarou apoio ao atual presidente, o que motivou uma debandada no seu governo, incluindo de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados.

Já José Serra, histórica liderança do partido, candidato derrotado à presidência em 2006 e em 2010, opta por Lula, assim como Tasso Jereissati, um dos mais destacados senadores do partido.

Mas o apoio mais aguardado entre tucanos, como são chamados os membros do PSDB, era o de Fernando Henrique Cardoso, aos 91 anos o patriarca da formação. O presidente de 1995 a 2002 vota Lula "pela democracia". "Nesta segunda volta, voto por uma história de luta pela democracia e inclusão social", escreveu nas redes sociais como legenda a duas fotos antigas de ambos, aliados e rivais ao longo de todo o período de redemocratização do Brasil. "Pela democracia e pela inclusão social. Obrigado pelo seu voto e confiança. O Brasil precisa de diálogo e de paz", respondeu Lula.

O Cidadania, terceiro partido, ao lado de MDB e PSDB, da coligação de Tebet, também apoia Lula, assim como o PDT, partido de Ciro, enfático a pedir voto ao presidente de 2003 a 2010 no último domingo de outubro. "De um lado, tem o Lula, que é um democrata. Do outro, o Bolsonaro, que é um aspirante a ditador, que representa o atraso do nosso país, que é um malversador do dinheiro público e que é um falso cristão", disse Carlos Lupi, presidente do PDT. Ciro seguiu a indicação do partido - "endosso-a integralmente" - mas sem se referir a Lula.

Lula e Bolsonaro lutam ainda, palmo a palmo, pelos governadores dos estados, embora parte já tenha tomado partido na primeira volta. Além de Garcia, em São Paulo, o atual presidente recebeu a confirmação do apoio de Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e de Cláudio Castro, seu correligionário no PL, do Rio de Janeiro, ainda na terça-feira, dia 4, e de Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, e de Ratinho Junior (PSD), do Paraná. Helder Barbalho (MDB), do Pará, confirmou aliança com Lula.

O principal aliado de Bolsonaro na campanha, entretanto, tem sido a máquina estatal. O governo gastará 6,4 mil milhões de reais até 25 de outubro com benefícios que não estavam incluídos no Orçamento. A conta soma, segundo reportagem do site PoderData, o valor extra no Auxílio Brasil; aumento do vale-gás; e vouchers aos camionistas e taxistas. Os beneficiários já haviam recebido 12,2 mil milhões de agosto a setembro, às vésperas da primeira volta. No total, são 18,6 mil milhões de reais, cerca de 3,6 mil milhões de euros.

O PT chama as medidas de "eleitoreiras". O candidato à reeleição garante que o seu ministro da economia, Paulo Guedes, já sabe de onde virão os recursos, mas não especificou o local.

No primeiro caso de assassinato conhecido depois da primeira volta, um eleitor de Lula matou um bolsonarista, após discussão ao almoço. Luiz Ferreira, eletricista, alegou legítima defesa para esfaquear o estilista José Mendes. "Devido a uma crítica política da vítima, o suspeito sentiu-se ofendido. Ambos passaram a discutir e evoluíram para a agressão. Um deles, a vítima, muniu-se com uma faca e, na luta com o autor do crime, este conseguiu pegar a arma da vítima, e esfaqueou-a", disse o delegado Arilson Brandão.

dnot@dn.pt