Internacional
05 outubro 2022 às 22h22

Adolescentes iranianas juntam-se aos protestos que chegam às salas de aulas

Movimento de protesto tornou-se no mais importante desde as manifestações de 2019 contra o aumento do preço dos combustíveis.

DN/AFP

"Desaparece, Basiji", grita um grupo de alunas adolescentes a um elemento desta milícia paramilitar iraniana enquanto acena com os véus que acabaram de arrancar da cabeça, vê-se num vídeo agora colocado online. Este parece ser o último de uma série de protestos contra o governo que se multiplicaram nas últimas três semanas desde a morte de Mahsa Amini e que mostra como este movimento, que não se limita às mulheres, está a alastrar até às salas de aulas.

Mahsa Amini, uma jovem iraniana de origem curda de 22 anos morreu a 16 de setembro, três dias depois de ter sido presa pela polícia dos costumes por supostamente violar o rígido código de vestuário feminino, que inclui o uso de véu a cobrir o cabelo.

Uma onda de indignação agitou o país e o movimento de protesto tornou-se no mais importante desde as manifestações de 2019 contra o aumento do preço dos combustíveis.

A Basij tem sido chamada a controlar os protestos das últimas semanas, o que explica a fúrias das jovens que o vídeo mostra e que a BBC diz não confirmar se foi gravado em Shiraz. Outras imagens, também publicadas online na terça-feira e cuja veracidade foi confirmada pela AFP mostram um homem a gritar "morte ao ditador" de dentro do seu carro acompanhando os cânticos de um grupo de adolescentes que passa no meio do trânsito depois de terem tirado os véus. Gritos que têm como alvo o guia supremo do Irão, o ayatollah Ali Khamenei. Outro grupo gritava "Mulher, vida, liberdade", enquanto se manifestava também nas ruas de Karaj, a oeste da capital, Teerão.

"São cenas verdadeiramente extraordinárias. Se essas manifestações conseguirem algo, será graças a essas estudantes", declarou à AFP Esfandyar Batmanghelidj, do portal de informação e análise Bourse&Bazaar.

Desde o início do movimento de protesto, o governo iraniano intensificou a repressão procedendo à detenção dos apoiantes das revoltas mais prominentes e impondo duras restrições no acesso às redes sociais.

Pelo menos 92 pessoas morreram desde 16 de setembro, segundo a ONG Iran Human Rights, com sede na Noruega. Por sua vez, as autoridades iranianas informaram da existência de 600 mortos, incluindo 12 agentes de segurança. Mais de mil pessoas foram detidas e 400 já foram libertadas, segundo as autoridades.

Na madrugada de terça-feira para ontem, o cantor pop Shirvin Hajipour - que foi detido depois de divulgar uma música a favor dos protestos que se tornou um sucesso viral - foi libertado sob fiança.

Ao mesmo tempo, as autoridades judiciais iranianas abriram uma investigação sobre a causa da morte de uma adolescente, supostamente assassinada durante uma manifestação.

A violenta repressão das manifestações gerou uma onda de condenação em todo o mundo e manifestações de apoio às mulheres iranianas numa dezena de países.