Política
03 agosto 2021 às 05h00

Três candidatos à liderança do Grande Oriente Lusitano

Antigo secretário de Estado dos governos de Guterres, jurista e gestor, Luís Parreirão desafia os "irmãos" a assumirem-se como tal.

João Pedro Henriques

As atividades presenciais vão reabrir no Grande Oriente Lusitano - GOL, a mais antiga obediência maçónica em Portugal - e afinal não haverá, conforme o DN noticiou ontem, dois candidatos à liderança, mas sim (pelo menos) três.

As eleições do novo grão-mestre foram convocadas para 30 de outubro e os candidatos para já afirmados são, para além de Fernando Cabecinha (um histórico da organização) e Carlos Vasconcelos (atual vice-grão mestre), também Luís Parreirão, jurista e gestor, antigo secretário de Estado nos tempos dos governos de António Guterres. Hipótese é também a candidatura de Daniel Madeira de Castro - mas por ora não oficialmente confirmada. Madeira de Castro presidiu à "Grande Dieta" (o "parlamento" do GOL) há 25 anos e em 2017 candidatou-se contra o atual grão-mestre, Fernando Lima Valada, sendo derrotado.

Parreirão já declarou à revista Sábado a intenção de se candidatar, mobilizando-se "pela vontade de ajudar a construir a maior unidade possível entre todos os maçons". Em abril de 2021, num artigo que fez publicar no Observador, insurgiu-se contra o "voyeurismo doentio" que a confidencialidade maçónica suscita, "a pretexto de uma necessidade de transparência" que pretende impor "regras que o mais elementar respeito pela liberdade de consciência não tolera".

O que advogou foi, então, a necessidade de os maçons se assumirem voluntaria e publicamente como tal. "Sempre entendi que o maçon se deve assumir enquanto tal e sempre o fiz, incluindo quando, circunstancialmente, desempenhei funções públicas. Entendo mesmo, que quantos mais de entre nós o fizermos, mais prestigiada sairá a Maçonaria e maior respeitabilidade lhe será dada", escreveu.

Acrescentando que a "respeitabilidade" da maçonaria será conquistada "pelo exemplo cívico e ético dos seus membros, pelo sentido do bem comum que norteia" a sua ação e "pela promoção e a defesa da fraternidade entre os homens, independentemente das convicções políticas, religiosas ou filosóficas de cada ser humano".

Segundo afirmou também no mesmo artigo, "de tempos a tempos surge, ou ressurge, na opinião pública, uma recorrente discussão sobre a Maçonaria, sobre a sua natureza e princípios e sobre a obrigatoriedade de declaração de pertença à maçonaria". E isso acontece "frequentemente, para não dizer quase sempre, tomando a parte pelo todo, desconsiderando e esquecendo a história, ocultando os bons exemplos e hiperbolizando os desvios".

Mas a verdade é que "a condição essencial e intemporal" dos maçons é a de serem "livres pensadores", o que explica que os regimes totalitários, "todos", nunca tenham permitido a existência da maçonaria, "porque nunca permitiram o livre pensamento". "É sempre isto que está em causa, é a dimensão maior da liberdade - a liberdade de consciência e de pensamento".

Carlos Vasconcelos - que encabeça a lista de continuidade face ao atual grão-mestre - já afirmou perante os seus "irmãos", num documento interno, que "o Grande Oriente Lusitano não pode viver fechado sobre si mesmo". O objetivo é "a afirmação da maçonaria como uma elite moral, cada vez mais rigorosa e exigente consigo própria e como uma vanguarda social interveniente".

Fernando Cabecinha, por sua vez, enfatizou a necessidade de uma "comunicação eficaz". Fernando Lima Valada, agora de saída, chegou à liderança do GOL em 2011, estando a terminar o seu terceiro mandato.

joao.p.henriques@dn.pt