exclusivo
02 JUN 2019
02 junho 2019 às 06h02

1958. Campanha por Salazar

A campanha de Humberto Delgado desgastava o regime e o DN apresentava os diversos "apoios" ao presidente do Conselho - até das Irmãs Carmelitas.

DN

A manchete era dedicada ao general De Gaulle, que tinha iniciado funções como presidente do Conselho de Ministros. Mas outro general agitava Portugal a dias das eleições (8 de junho de 1958): Humberto Delgado e a sua candidatura à Presidência da República, que recolheu o apoio de toda a oposição e fez tremer o salazarismo.

Na primeira página há três chamadas em claro apoio da ditadura de Oliveira Salazar. A mais pequena a dar o eco de um discurso do homem de Santa Comba Dão na imprensa espanhola (também ela o espelho de outra ditadura); outra, mais desenvolvida, "Um artigo sobre Portugal", sobre um texto de opinião do diretor do Courrier de l'Ouest; e outra ainda sobre as "mensagens de apoio e gratidão ao presidente do Conselho". Estas eram mensagens chegadas à redação de apoio ao ex-professor de Finanças na Universidade de Coimbra, como por exemplo a das Irmãs Carmelitas de Beja, que "cumprimentam a V. Ex.ª de todo o coração e oferecem as suas fervorosas orações e sacrifícios pedindo ao bom Deus guarde a preciosa vida do nosso queridos Salazar".

O texto publicado no periódico francês, da autoria do seu diretor, Albert Blanchoin, comparava a França da IV República com o Estado Novo e realçava o "curioso" de um regime ditatorial ter três candidatos à presidência e, mais ainda, que um deles, o general Humberto Delgado, "ataca violentamente e livremente Salazar" e que o militar tem como programa a destituição do governo. O jornalista francês lembrava ainda que, ao contrário do regime francês, em que não existia ainda sufrágio universal nem direto, o português era-o e, mais ainda, "convém precisar que têm direito de voto (...) todos os cidadãos sem distinção de raça, quer sejam da Metrópole ou dos territórios do Ultramar".

Um direito de voto que, sabemos bem, não era universal nem livre e cujos resultados, nas eleições de 1958, foram adulterados.