Tonga. As ilhas amigáveis da Oceânia

Mala de viagem (179). Um retrato muito pessoal de Tonga.

Começo com uma pergunta. Saberão que a causa mais comum de morte prematura em Tonga é resultante de um coco que cai na cabeça dos residentes em 36 das 177 ilhas? A verdade é essa. Porém, mesmo assim, as ilhas continuam a "ser amigas" de quem passa. Esse foi, pelo menos, o epíteto que receberam quando foram descobertas por europeus: "Ilhas Amigáveis". A capital é Nuku'alofa, de onde foram os representantes do país à já referida reunião na Nova Zelândia de peritos em turismo. Perguntei a um deles se seria necessário usar capacete por causa daquela fatalidade. Respondeu-me que tal nunca acontecera com turistas. A independência em relação ao Reino Unido foi adquirida em 1970, mas apenas Fiji, Nova Zelândia e Austrália têm voos de Tonga. O afastamento da civilização afeta, por exemplo, na variedade de bens alimentícios, onde predominam os enlatados, bem como por causa da existência de uma só embaixada no mundo, em Pequim (China). Quase 60% da população de Tonga vive na maior ilha, Tongatapu, onde a capital está localizada e se consegue um relacionamento nem sempre fácil com a população, dado que o inglês, conjuntamente com o tonganês, tem estatuto oficial no reino, mas na prática é falado e compreendido por poucas pessoas. Dois dos problemas transmitidos pela delegação presente na reunião são, em primeiro lugar, a escassez de água doce potável, pelo que os tonganeses ainda coletam água da chuva para posterior purificação e uso, e o outro problema prende-se com os diminutos 200 quilómetros de estradas cobertas de asfalto, aliás a falta de materiais de construção é real, a tal ponto que as casas são construídas em madeira. Foi referido que o final da década de 1990 foi um período de estagnação económica, segundo alguns indicadores. As exportações primárias na agricultura, na silvicultura e na pesca diminuíram, como resultado da seca, dos danos causados ​​por furacões e dos preços mundiais instáveis. No entanto, a balança de pagamentos manteve-se positiva, em resultado de algum crescimento dos serviços e da regularidade das remessas. Tanto o setor público quanto o privado têm feito uma tentativa contínua de identificar nichos de mercado para empresas tonganesas, desde a exportação de novos produtos agrícolas, como a "kava", vagamente narcótica mas supostamente terapêutica, até à aquisição de várias bandas de televisão por satélite, que Tonga alugou com sucesso. Apesar de uma relativa falta de recursos, há algum otimismo para o futuro com base nos níveis de ensino da população e nas redes internacionais estabelecidas pelos migrantes tonganeses. Ao mesmo tempo, haverá pressão contínua para democratizar ainda mais o sistema político de Tonga. A longo prazo, a monarquia pode sobreviver, acompanhada por um Parlamento mais democrático, embora tal mudança provavelmente não tenha um impacto económico significativo, exceto talvez permitir uma distribuição mais equitativa da riqueza, afinal um problema de tantos e tantos países. O Quadro de Desenvolvimento Estratégico de Tonga 2015-2025 está inserido nos fundamentos de valores cristãos e culturais: sustentabilidade e inclusão. Tonga priorizou a proteção social na saúde, no ensino e nos direitos humanos, com foco nos grupos vulneráveis. Para informar plenamente as mudanças e as intervenções políticas, os especialistas utilizaram técnicas estatísticas avançadas para a elaboração de relatórios sobre a pobreza, que incluíram comunidades insulares menores, e desenvolveram uma medida de pobreza multidimensional robusta, que é confiável, válida e contextualmente apropriada. A mudança climática continua a representar sérias ameaças ao ambiente e à subsistência do povo de Tonga. Uma Política Nacional de Mudanças Climáticas e um Plano de Ação Nacional Conjunto 2018-2028 fornecem estratégias para ações climáticas. A finalizar, o responsável do Tonga desafiou os restantes presentes: "Continuamos comprometidos em apoiar o incremento da nossa agenda de desenvolvimento por meio de parcerias genuínas e sustentáveis com pares, financiadores e partes interessadas locais, reconhecendo que as prioridades e os sistemas nacionais são críticos. A jornada é longa, considerando as limitações de capacidade e recursos que enfrentamos. Com adesão aos nossos valores culturais e tradicionais de longa data sobre o desenvolvimento sustentável, pretendemos alcançar as nossas prioridades nacionais em parceria sustentável com as principais partes interessadas." Assim será, espero, nas 36 ilhas habitadas, onde o coco cai sem rede, mas deve abrir com água da vida e não da morte.

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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