Política
01 outubro 2022 às 07h00

Costa e Governo em queda, Marcelo positivo, mas a perder

Pensionistas juntam-se ao castigo ao primeiro-ministro e contribuem para uma segunda avaliação negativa consecutiva. Presidente tem saldo muito positivo, mas é o mais baixo desde julho de 2020.

O ambiente político está a degradar-se e todos pagam uma parte da fatura: António Costa desde logo, mas também Marcelo Rebelo de Sousa. De acordo com a mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, o primeiro-ministro e o seu Governo afundam-se na avaliação dos portugueses. O presidente da República continua com saldo positivo (24 pontos), mas está em queda desde dezembro do ano passado.

Foi há seis meses que o Governo tomou posse. Mas o estado de graça do primeiro-ministro durou pouco. Com a maioria absoluta não veio, como se previa, a estabilidade política. O barómetro de julho já assinalava uma situação muito rara: António Costa registava um saldo negativo na avaliação dos portugueses (dois pontos). Chegados a outubro, os resultados mostram uma situação inédita: duas avaliações seguidas em terreno negativo e o pior resultado de sempre do primeiro-ministro (oito pontos de saldo negativo) desde que se iniciou esta série de barómetros, em julho de 2020.

Mais velhos castigam Costa

Os sucessivos casos e as controvérsias com ministros contribuíram para a degradação, mas talvez seja a crise económica e, em particular, o aumento do custo de vida que dão o empurrão final. Quando se analisam as avaliações ao líder do Governo entre os diferentes segmentos em que se divide a amostra, há uma alteração fundamental face a barómetros anteriores: os inquiridos com 65 ou mais anos, os que lhe garantiam sempre mais aplausos, deixaram de lhe dar o benefício da dúvida e o saldo é, agora, negativo (nove pontos). Um reflexo do desagrado com a solução para as pensões, como demonstram os resultados da sondagem que divulgámos ontem: cerca de 70% dos inquiridos das duas faixas etárias mais velhas consideram que a "meia pensão" é uma medida negativa que penaliza as pensões futuras.

Para a queda de António Costa também contribuiu a mudança de avaliação entre os que habitam nas áreas metropolitanas do Porto e de Lisboa, bem como os dois escalões sociais de menores rendimentos (em todos os casos, passou de saldo positivo em julho, para negativo agora). Os únicos que não abandonam o primeiro-ministro são os que votam no PS (consegue um saldo de 66 pontos positivos). O problema é que tudo indica que o eleitorado socialista estará a encolher (amanhã, com a publicação de uma projeção sobre legislativas, veremos se é assim ou não).

Descida contínua de Marcelo

O presidente da República continua a ser o político mais popular do país. E está muito acima do primeiro-ministro (24 pontos de saldo positivo). Mas a trajetória deste ano tem sido de descida. E este é o pior barómetro de sempre para Marcelo Rebelo de Sousa, com a percentagem mais baixa de avaliações positivas (49%) e a mais alta de negativas (25%). O inquérito não inclui perguntas que ajudem a explicar as razões para a queda, mas adivinha-se que também estará a pagar o preço da degradação da situação económica e social. E à acusação, pela oposição, de estar demasiado colado ao Governo.

Quando se analisam os segmentos da amostra, percebe-se que, no que diz respeito à geografia, e apesar de manter um saldo positivo em todas as regiões, foi em Lisboa que a queda foi mais acentuada (de um saldo positivo de 46 pontos, em julho, para os 16 atuais). No que diz respeito à idade, os mais velhos ainda são os que lhe dão mais avaliações positivas (53% agora, 64% em julho), mas já não é aí que tem o melhor saldo (24 pontos agora, 37 em julho). Estariam os seniores à espera que o presidente confrontasse o Governo com a solução para as pensões?

Para além de Marcelo, só há mais um dirigente político que se pode gabar de ter um saldo positivo entre os portugueses: a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva (oito pontos, mas em queda). No outro extremo da avaliação, no que a ministros diz respeito, está o das Finanças, Fernando Medina. Neste último barómetro, consegue ficar pior do que Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas (e da novela do aeroporto).

O também ex-presidente da Câmara de Lisboa já começou estes barómetros em terreno negativo, mas desde abril que vai caindo sempre mais fundo: o saldo negativo é agora de 27 pontos (era de 12 em julho), destacando-se o trambolhão entre os mais velhos (ou seja, os pensionistas), que passaram de avaliação positiva para negativa. Resta-lhe o eleitorado do PS, mas com margem cada vez mais estreita.

Pedro Nuno Santos já não é o pior ministro deste Governo, mas continua com um saldo negativo (21 pontos agora, 32 em julho). O tempo foi passando sobre a desautorização de António Costa na questão do novo aeroporto de Lisboa e os primeiros a perdoar ao ministro das Infraestruturas foram os que votam no PS, onde consegue desta vez um saldo positivo.

Carneiro no vermelho

O ministro da Administração Interna, que esteve sempre no fio da navalha, é igualmente prejudicado pelo atual clima de crise, e passa de saldo positivo (dois pontos) para negativo (três pontos). Ao contrário de Medina, são os mais velhos que evitam uma queda mais pronunciada de José Luís Carneiro: em contraciclo com outras figuras políticas, melhora o seu resultado e tem 18 pontos de saldo positivo entre quem tem 65 ou mais anos.

Uma última nota para a estreia de Manuel Pizarro nestes barómetros. Ainda sem grandes conclusões para tirar, uma vez que o trabalho de campo decorreu poucos dias depois de ter sido nomeado ministro da Saúde. Menos mal que, em tempos agrestes para o Governo, se estreie com saldo zero. Mas, somados os que se refugiam numa resposta neutra aos que não sabem ou não respondem, temos 70% dos inquiridos. Vai ser preciso esperar até ao final do ano para fazer uma avaliação mais informada.

Ainda não foi desta que André Ventura perdeu a "corrida" a principal figura da oposição. Mas o líder do Chega já tem Luís Montenegro a par, mesmo que o presidente do PSD não tenha lugar no Parlamento, o que provavelmente o prejudica em termos mediáticos. Têm ambos 30 pontos e estão muito longe de todos os restantes líderes partidários, de acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF.

Foi em maio passado que Luís Montenegro foi eleito presidente do PSD. E foi em julho que o congresso lhe deu todas as ferramentas de liderança. No barómetro desse mês, não conseguiu mais do que 19% na "eleição" para principal figura de oposição. Mas, o verão passou e o social-democrata não só conquistou mais apoios, como cresceu à custa do líder da direita radical.

PSD metropolitano

Quando se analisam os diferentes segmentos, percebe-se que há diferenças de vulto entre os seus "apoiantes". No que diz respeito ao género, os homens inclinam-se para Montenegro (36%) e as mulheres, de forma um pouco surpreendente, para Ventura (29%). Quando o critério é a geografia, o líder do PSD está à frente nas duas áreas metropolitanas, e o do Chega no resto do país. No que diz respeito às idades e às classes sociais, a diferença também é bastante evidente: Montenegro vence entre os mais velhos e entre os dois escalões com maiores rendimentos; Ventura está à frente entre os mais novos e nos dois escalões mais pobres.

Quando a atenção incide sobre o voto partidário, Ventura domina entre os eleitores do Chega (82%), nem tanto no caso de Montenegro. Os eleitores do PSD até lhe dão o título de principal figura da oposição (54%), mas ainda há 29% que apontam ao líder dos radicais de direita. Tivesse Montenegro já convencido os seus próprios eleitores e estaria na liderança.

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA
A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre a atualidade política.
O trabalho de campo decorreu entre os dias 21 e 24 de setembro de 2022 e foram recolhidas 810 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal. Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 810 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,44%). Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.