O André Ventura tem repetido que o combate à corrupção é uma das suas grandes prioridades e do partido que lidera, o Chega, mas das 91 iniciativas legislativas apresentadas pelo Chega neste primeiro ano de legislatura, apenas uma é sobre corrupção, sobre o endurecimento de penas. Com este contexto, esse seu objetivo, tantas vezes vincado é mesmo para levar a sério?
Há várias propostas que não são diretamente ligadas com a corrupção, mas o aumento genérico de penas acaba por ter que ver também com a corrupção em caso de cúmulo de penas porque também afetaria, em casos muito graves, crimes de corrupção. Portanto, foram mais iniciativas, mas é preciso termos em conta que temos aqui dois cenários. Primeiro, o contexto da pandemia, que bloqueou na verdade o trabalho parlamentar durante muito tempo e o tornou praticamente à volta da pandemia por muitos meses da última sessão legislativa. Depois, temos o cenário de o primeiro-ministro me ter dito - no primeiro debate fui eu o primeiro a confrontá-lo com a questão da corrupção e lhe perguntei quando é que vamos avançar na questão da corrupção - para não me preocupar porque iria haver um grande plano do Governo apresentado na Assembleia e que eu teria oportunidade de fazer as minhas propostas de alteração até ao final do ano. Ficámos à espera até ao final do ano, depois ficámos à espera até ao final de março, depois de abril, depois de maio, e o plano chegou no verão. Ora, se o plano chegou agora no fim e nós votámos contra a orientação política e criminal do Governo, houve duas coisas que ficaram claras: não só não podemos confiar neste Governo - estávamos à espera de um plano e, na verdade, não existiu de todo; em segundo lugar ficámos à espera que este Orçamento trouxesse o tal aumento do combate à corrupção e, como eu disse no Parlamento onde mostrei uma folha em branco, o tal combate à corrupção no Orçamento do Estado é um artigo. Portanto, o Chega o que fará a partir de agora é não confiar mais em qualquer iniciativa que o Governo diga que vai apresentar para nós depois alterarmos. Vamos fazer nós mesmo que não passe, que é o que tem acontecido. Aliás, a esquerda quando sabe que o projeto é do Chega... Nós chegámos ao ridículo de em várias sessões do Orçamento do Estado, o Bloco de Esquerda e o PCP votarem diferentes propostas que são iguais, uma porque é do Chega, a outra porque é do PAN. O ridículo do Parlamento chega a este ponto de se votar uma proposta a favor e outra contra ou abstenção e quando se vai ver o porquê, uma é do Chega e outra é do PAN. É ridículo!