Mauritânia. Olho do Saara

Mala de viagem (116). Um retrato muito pessoal da Mauritânia.

Imagine-se olhar do Espaço para a Terra e ver um olho que nos "observa". Essa estranha formação geológica, chamada cientificamente "Estrutura de Richat", tem cerca de 45 quilómetros de diâmetro. Curioso é saber que a cidade perdida de Atlântida pode estar escondida no Olho do Saara ou Olho de África, designações mais comuns. Esta convicção tem sido matéria de discussão entre investigadores de todo o mundo, desde a década de 1960, que admitem isso neste local da República Islâmica da Mauritânia. Importa lembrar que esse território foi colonizado, pela primeira vez, pelos portugueses, no século XV, no entanto, no século XIX, os franceses ganharam o seu controlo, passando a fazer parte da África Ocidental Francesa. Durante estes séculos, permaneceu o Olho do Saara, cuja formação ainda é desconhecida, cientificamente. No entanto, existem várias teorias sobre essa formação geológica, que afirmam que poderia ter sido um vulcão ou mesmo o local da Atlântida perdida. Segundo Platão, ficcionando os factos históricos contados por egípcios, pelas características da antiga ilha Atlântica localizar-se-ia nesta zona do Planeta, pelo que os investigadores atuais admitem que essas características e um eventual maremoto sejam bases de estudo que podem confirmar essa localização. Aliás, os egípcios creem que são originários dos habitantes da Atlântida que se salvaram e que rumaram para o delta do Nilo. Tal como a cidade de Troia, contada por Homero, foi encontrada em 1868 e deixou de ser ficção, também agora se admite que a Atlântida será encontrada, apontando-se o Olho do Saara como o local mais provável, até porque a estrutura anelar concêntrica de água e terra da descrição de Platão coincide com os anéis do Olho do Saara. A existência de sal, nesse local do deserto, induz que terá vindo do Atlântico. Depois da descoberta desta estrutura a partir do Espaço, em 1965, a Central Intelligence Agency (CIA) do Governo dos Estados Unidos passou a estar interessada no local, estabelecendo-se nesta anomalia geomagnética, desde 1967, tal como noutros locais semelhantes do mundo, até porque estes locais coincidem com observações de supostos fenómenos supranaturais. A CIA fez o seu trabalho, cujos resultados estão fechados nos arquivos impenetráveis do Governo norte-americano ou censurados parcialmente nos documentos disponibilizados. Curiosamente, as dimensões territoriais da Atlântida e do Olho do Saara são semelhantes à Cidade do Vaticano, a sede de um só Deus, enquanto havia mais do que um na Atlântida, "levados" depois para o Antigo Egito e que, segundo descrições, se tornaram poderosos, "convivendo" com uma civilização instruída. Sem que a CIA esclareça os resultados que tem ocultos nem promova novos estudos, caberá ao deserto cobrir o Olho do Saara, nos próximos séculos, até à perpetuidade. E a Atlântida continuará como mito. O mesmo não se passa com o enorme cemitério de estaleiros do mundo, na baía de Nouadhibou, com mais de 300 navios abandonados por não atenderem às especificações exigidas. Por isso, este é um país com histórias para contar, desde as relacionadas com o que se vê do Espaço àquelas que estão debaixo do deserto e do mar. Para quem tiver olho!

Jorge Mangorrinha, professor universitário e pós-doutorado em turismo, faz um ensaio de memória através de fragmentos de viagem realizadas por ar, mar e terra e por olhares, leituras e conversas, entre o sonho que se fez realidade e a realidade que se fez sonho. Viagens fascinantes que são descritas pelo único português que até à data colocou em palavras imaginativas o que sente por todos os países do mundo. Uma série para ler aqui, na edição digital do DN.

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