Bento XVI apela ao fim da "hipocrisia religiosa"
O papa Bento XVI apelou hoje ao fim da "hipocrisia religiosa" e "rivalidades" dentro da Igreja Católica, na sua última missa na Basílica de São Pedro, no Vaticano.
"O rosto da Igreja é por vezes marcado pelos pecados contra a unidade da Igreja e divisões no clero", disse o sumo pontífice, trajando as tradicionais vestes roxas das celebrações da Quaresma, período católico de penitência antes da Páscoa.
Bento XVI anunciou na segunda-feira a renúncia ao papado, por falta de capacidade física, tornando-se no segundo sumo pontífice a fazê-lo.
O papa alemão afirmou que "a cara da Igreja" se apresenta "por vezes, desfigurada".
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"Penso nos ataques à unidade da Igreja, nas divisões no corpo eclesiástico", frisou perante os cardeais, apontando a incoerência dos que se insurgem contra "os escândalos e injustiças naturalmente cometidas por outros" mas que não estão "prontos a agir no seu próprio coração, consciência e intenções".
Visivelmente debilitado, o papa foi transportado numa plataforma móvel entre a entrada da vasta nave da Basílica e o altar.
No início do dia, na sua audiência semanal com milhares de fiéis no auditório do Vaticano, o cardeal Joseph Ratzinger foi recebido com uma ovação de pé e aclamações de "Benedetto".
"Continuem a rezar por mim, pela Igreja e pelo futuro papa", disse Bento XVI, com a voz embargada.
O Vaticano anunciou que os 117 cardeais eleitores do novo papa vão reunir-se a 15 de março ou nos dias seguintes para escolher o sucessor.
O conclave terá lugar na Capela Sistina, ao longo de vários dias, e o nome do novo papa deverá estar escolhido a tempo da Páscoa.
Entre os candidatos estão europeus e norte-americanos, mas também sul-americanos e africanos.
Bento XVI deixará de ser papa a 28 de fevereiro, às 19:00 GMT, e seguirá para a residência papal de Castel Gandolfo, perto de Roma, onde irá viver temporariamente, enquanto é renovada a sua nova residência permanente no Vaticano.
Até à saída, manterá ainda encontros com o primeiro-ministro italiano, Mario Monti, e com o presidente Giorgio Napolitano, numa altura em que o país vive a campanha eleitoral para as eleições de 24 e 25 de fevereiro.
O seu último evento público será a audiência de 27 de fevereiro, na Praça de São Pedro.
O sumo pontífice disse hoje ser capaz de sentir "o amor dos fiéis, quase fisicamente, nestes dias difíceis".