Procuradora continua a ser ameaçada por 'skins'

Cândida Vilar, que anda com segurança pessoal depois de acusar Mário Machado, disse que as ameaças dos 'skins' continuam.

Visivelmente nervosa e intranquila, a procuradora da República Cândida Vilar, que desde Setembro de 2007 anda com segurança pessoal, depois de se ter sentido ameaçada pelo líder do movimento neonazi Portugal Hammerskin, a quem acusara pelo crime de discriminação racial, entre outros, disse ontem em Tribunal que as ameaças dos skins permanecem através de escritos na Internet. Mário Machado, ali presente, admitiu que "o grupo está vivo". Facto que foi corroborado pelo inspector da Polícia Judiciária (PJ) Paulo Vaz.

"Tenho medo, claro que tenho medo", sublinhou Cândida Vilar. Não faz ideia do que tem sido a minha vida", acrescentou, frisando: "Eles agridem sem qualquer critério - pedintes, judeus, a filha de uma inspectora da PJ. Uma ofendida ficou sem dentes." A magistrada recordou que, entre as novas ameaças, está o aviso de que colocariam uma bomba no carro.

Em causa está o julgamento de Mário Machado, o conhecido líder dos skinheads portugueses, pelos crimes de coacção, instigação à prática de um crime e difamação agravada, contra a procuradora. Os factos remontam a Setembro de 2007. Cândida Vilar no dia 14 acusa o arguido, que se encontrava em prisão preventiva, pelos crimes de discriminação racial, entre outros. No dia seguinte entrava em vigor a reforma do Código de Processo Penal (CPP). Se a acusação demorasse mais um dia, Machado teria de ser libertado, uma vez que, no novo diploma, os prazos para aquele tipo de medida de coacção tinham diminuído.

Para o líder dos skins não houve qualquer dúvida de que a data da acusação teve o fim de o manter na cadeia. Assim, passados uns dias, através de um membro do grupo, Bruno Monteiro, fez sair uma carta sua no blogue denominado Forum Nacional, onde diz, entre outras coisas, "fiquei nas masmorras de uma nova inquisição cujo rosto é a procuradora do MP da 11.ª secção, Cândida Vilar". E acrescenta: "Os nacionalistas jamais esquecerão este nome, pois esta senhora foi a responsável, e não a PJ (apesar de tudo), pela maior perseguição política dos últimos 30 anos."

Esta mensagem foi interpretada como uma ameaça. Nos dias seguintes, Mário Machado desdobrou-se em desmentidos na comunicação social, garantindo que nunca foi sua intenção ameaçar a procuradora, e que o que havia escrito tinha sido um "puro desabafo". Ontem voltou a reafirmar, frisando jurar por sua honra perante a bandeira nacional (que estava na sala), nunca ter sido sua intenção ameaçar.

Apesar dos desmentidos, Mário Machado foi mesmo acusado pelo MP e ontem iniciou-se o julgamento. Cândida Vilar entrou na sala visivelmente perturbada. Disse que não só conhecia os dois arguidos, Machado e Bruno, como todos os outros skins que estavam na assistência, um deles, pelo menos, arguido num outro processo. E garantiu que as ameaças contra a sua pessoa nunca pararam. A segurança pessoal, que agora tem de suportar, é um "transtorno", desabafou.

Mário Machado disse que se sente um perseguido político às mãos da procuradora. Bruno Monteiro remeteu-se ao silêncio.

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