Um primeiro dia com pompa mas ainda sem consequência
O fumo negro e tardio até fez supor surpresa. Mas o conclave não foi súbito e não repetiu o voto logo no primeiro dia de Pio XII, na véspera da II Guerra Mundial. Assim sendo, hoje haverá novas votações na Capela Sistina
Os romanos, ao Vaticano, chamam Oltretevere, na Outra Banda do Tibre, não para marcar distância mas para sublinhar a identidade: o Vaticano é Roma, só que da outra margem. O conclave que ontem começou na Capela Sistina já outrora se reuniu por quatro vezes no Palácio do Quirinal, construído sobre a mais alta das sete colinas da cidade. A última vez que houve fumo branco no Quirinal foi para Pio IX, em 1846, que faria, por 31 anos, o mais longo pontificado desde São Pedro. Nesse palácio, agora transformado em sede do mais alto poder político italiano, o Presidente Giorgio Napolitano angustiava-se ontem por não conseguir fazer Governo nem por uns meses.
E, do outro lado do rio, também il comignolo, a famosa chaminé de forma chinesa sobre os telhados do Vaticano, anunciava às 19.41 - com um atraso de quase três quartos de hora que chegou a fazer supor uma surpresa de eleição súbita - que os cardeais, na sua primeira e única votação do dia, ainda não tinham escolhido. A eleição do novo Papa será breve - os trovões que ontem se ouviram na cidade ilustram mais o impasse político do que o religioso - mas o facto de ontem Roma se ter deitado ainda sem solução para nenhum dos seus dois poderes vazios sublinha, mais uma vez, a simbiose do destino espiritual e terreno que é a marca milenar da cidade.
Fumo negro, pois (muito negro mesmo, a caldeira é eficaz, até na noite cerrada). Ontem não se repetiu a eleição de Eugenio Pacelli, que logo no primeiro dia de conclave se tornou Pio XII, é verdade que na véspera da II Guerra Mundial, março de 1939, e urgiam decisões. Mas este conclave deve ser breve, como aliás foram todos nos tempos modernos: nos últimos 11 conclaves, em 167 anos, o mais longo foi o de 1922, de Pio XI, que, no entanto, só precisou de cinco dias e 14 escrutínios. Longe os tempos em que os conclaves duravam meses: Bento XIV, em 1740, teve de esperar meio ano para ser eleito e, entre os cardeais eleitores, quatro morreram antes do fim. Mas nos dois últimos pontificados, João Paulo II, em 1978, só precisou de oito votações e Bento XVI, em 2005, de metade.
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