Consultora: Medidas de austeridade foram além do necessário
As medidas de austeridade foram muito para além do que seria necessário no âmbito do acordado com a 'troika', dando sinal ao exterior de uma "real consolidação orçamental", mas poderão fomentar "a fraude e a evasão fiscal", diz a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC).
"As medidas de austeridade foram muito para além do que seria estritamente necessário para cumprir o acordado no Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF), procurando mostrar ao exterior que, pela primeira vez em muitos anos, se conseguirá obter uma real consolidação orçamental, com obtenção de um saldo primário nulo", segundo a análise da PricewaterhouseCoopers & Associados feita à Lusa.
Todavia, de acordo com a PWC, "o aumento da tributação, bem como o corte dos subsídios de férias e de Natal de funcionários públicos, trabalhadores das empresas públicas e pensionistas, conduzirão a uma fortíssima redução do rendimento disponível", pelo que "a capacidade de consumo e de poupança das famílias será assim afectada, podendo assistir-se a uma contracção do consumo privado".
Apesar de, "sem surpresa", a aplicação da taxa intermédia de IVA ter sido "fortemente reduzida," um conjunto de bens e serviços não estritamente essenciais foram alterados da taxa mínima para as taxas intermédia e normal, os impostos especiais de consumo foram aumentados e foi ainda criado um novo imposto sobre a energia. As deduções em IRS e os benefícios fiscais nos vários impostos foram também largamente reduzidos.
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De acordo com as estimativas do Governo, haverá uma contracção do consumo das famílias na ordem dos 4,8 por cento em 2012.
A PWC entende ainda ser imperioso reduzir a dimensão do Estado e os respectivos gastos, "procedendo a fusões e extinções, a privatizações, à introdução de mais serviços partilhados na administração e sector públicos".
A consultora destaca ainda que "após a repressão da despesa, há que estimular a economia e para crescer há que reformar as leis laboral, do arrendamento e da concorrência e fomentar os sectores primário e secundário, a par do turismo, sobretudo nos subsectores do turismo residencial, de saúde, sénior e do MICE".
No entanto, a PWC deixa um alerta: o "aumento da tributação poderá fomentar a fraude e evasão fiscais, o que justifica o reforço dos meios de repressão de tais condutas".
Ainda assim, "a proposta mostra, contudo, sinais de apoio à economia, nomeadamente, a manutenção dos regimes fiscais das SGPS, da concentração e reestruturação empresarial, da criação líquida de postos de trabalho, do SIFIDE e do RFAI, bem como a possibilidade de informações prévias vinculativas".