BPI propõe fusão com fragilizado BCP

Concentração na banca. O BPI decidiu avançar sobre o BCP, mas sem OPA. O banco propôs à administração concorrente uma fusão por incorporação. Caso o BCP aceite, será criado o maior banco português, mas assente no modelo de governo do BPI. O mercado já reagiu

Um ano e meio depois de ter sido alvo de uma oferta lançada pelo Banco Comercial Português (BCP), o Banco BPI apresentou ontem um projecto de fusão por incorporação do seu concorrente, aproveitando o momento de fragilidade que o banco atravessa. A proposta implica trocar uma acção do BPI por cada duas do BCP.

O resultado será a criação do Banco Millennium BPI, um novo banco que terá um capital de 2,5 mil milhões de euros e deterá uma quota superior a 30% na maior parte das áreas de negócio. "Esta é uma proposta construtiva, que visa criar um banco português, independente, multidoméstico e com boas regras de governo", afirmou Fernando Ulrich aos jornalistas, rejeitando a expressão "amigável".

O modelo de governo que é proposto à administração do BCP é o do BPI: um conselho de administração, conselho fiscal e revisor oficial de contas, existindo ainda comissão de auditoria e de controlo interno.

O BCP já reagiu à proposta enviada ontem pelo presidente do conselho de administração do BPI, Artur Santos Silva. Num breve comunicado, o banco informa ter recebido a proposta, que "irá analisar". A análise, no entanto, terá de ser rápida. O BPI anuncia que a proposta se manterá eficaz só até 15 de Novembro. Ulrich admite uma prorrogação deste prazo, de acordo com um manifesto interesse do BCP.

As posições accionistas cruzadas vão ser vendidas aos respectivos accionistas (6,2% do BPI no BCP e quase 10% do BCP no BPI), o que poderá permitir o reforço de posição de alguns accionistas. À partida, o La Caixa e a Eureko serão dos dois maiores accionistas do novo banco, com cerca de 8% cada um. Ulrich diz que o La Caixa "não é nenhum papão", mas o Governo está atento à presença forte dos espanhóis. Por outro lado, não existe intenção de vender activos, alienar balcões ou reduzir pessoal.

Como salientou o presidente executivo do BPI, a proposta enviada ao BCP constitui uma base de trabalho para as eventuais conversações que se seguirão. Mas, caso a proposta seja rejeitada, não haverá o lançamento de uma OPA sobre o BCP.

Ulrich explicou o timing desta iniciativa com a actual situação vivida pelo banco de Jardim Gonçalves . "Considerámos que existiam boas condições para avançar", referiu. Os rumores de uma possível OPA de um banco estrangeiro também ajudaram. Nada impede que esta surja e que concorra com esta fusão, adiantou, explicando que neste caso o BPI analisará se fará contra-oferta.

O presidente executivo do BPI revelou que desenvolveu contactos, nas últimas duas semanas, com o primeiro-ministro, ministro das Finanças e governador do Banco de Portugal. Não contactou com nenhum accionista do BCP. Jardim Gonçalves foi avisado na quarta-feira e Filipe Pinhal só ontem soube da proposta. Com Ana Suspiro e Márcio Alves Candoso
 

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG