Ernesto de Melo e Castro em Serralves

O Museu de Arte Contemporânea de Serralves (MACS), no Porto, inaugura hoje a exposição O Caminho do Leve , de Ernesto M. de Melo e Castro. Da poesia concreta e experimental à infopoesia, passando pela vídeopoesia, sem esquecer a criação de imagens fractais, a mostra reúne uma selecção de obras representativas dos quase 50 anos de trabalho do artista e poeta visual, nascido na Covilhã em 1932.


Figura marcante no contexto artístico português das décadas de 60 e 70, Melo e Castro tem-se dedicado, sobretudo desde os anos 80, a investigar e a espelhar no seu trabalho as relações entre a arte e o desenvolvimento tecnológico. Daí, aliás, o título da exposição, como o próprio explica: "Refere-se ao caminho da imagem virtual, o caminho das relações entre a arte e a tecnologia, ultrapassando o peso pesado do átomo, com que a arte normalmente se faz: os átomos das tintas, das telas, das madeiras, dos metais, da pedra..."


Hoje, durante a noite da inauguração, o visitante deparar-se-á, logo à entrada, com duas performances , que ficarão gravadas para reprodução contínua ao longo da carreira da exposição. A primeira, Incomunicação à Distância , decorre num espaço fechado, concebido pelo arquitecto Luís Pereira, onde são metidas vinte pessoas, cada uma com o seu telemóvel ligado, marcando os números umas das outras. Cá fora, o espectador acede apenas a imagens do interior captadas por câmaras de vídeo em infravermelho; a segunda, Pensar-fotografar = Paz comunicante , resulta da exibição, em monitores colocados à entrada do museu, de inúmeras fotografias digitais obtidas no momento por dez executantes, relativas a tudo quante se passe no espaço de exposição.


Ler textos e imagens virtuais em movimento e transformação é outra das propostas, ou "provocações", de Melo e Castro. Entre os vários vídeopoemas expostos destaca-se o seminal Roda Lume (1969), talvez o primeiro de sempre, já que, como sublinha João Fernandes, director do MACS, "a vídeopoesia só viria a desenvolver-se, como novo género poético, a partir dos anos 80".


Há depois séries de poesia concreta, sintagramas ("poemas concretos de um tipo especial, em que a combinatória geométrica e visual é a gramática da construção"), infopoemas (onde se explora a relação entre a palavra e a imagem criada em computador) e fractopoemas (ou poemas feitos com fractais, de cuja observação prolongada, segundo o autor, se conclui que Décio Pignatari tinha razão quando disse: "Poesia é cocaína em estado puro").


Fundamental para a exposição, como Melo e Castro referiu, foi Joaquim Pedro Jacobetty, membro da equipa de produção e co-autor da instalação Poesia Sonora Interactiva , em que o movimento do visitante acciona pontos sonoros, provocando a audição de combinações de fonemas ou palavras.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG