Zona euro arrastada para a estagnação pela Alemanha e Itália

"Sinais de pausa na política monetária ajudaram à recuperação", mas agora "corre-se o risco de acumulação de vulnerabilidades financeiras, diz OCDE.

A zona euro e outras grandes economias estão a caminhar rapidamente para a estagnação em 2019; a maior economia do euro, Alemanha, sofre a maior revisão em baixa de crescimento do grupo dos mais desenvolvidos (mais de 30), Itália entra em recessão e, fora da Europa, quase todos perdem, diz a OCDE. A zona euro estava para crescer 1,8% (previsão em novembro), mas agora não vai além de 1% e os riscos de isto vir a piorar são elevados. China, Brasil, Japão e Rússia vão no mesmo caminho.

As novas projeções intercalares (outlook da primavera) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) revelam, esta quarta-feira, um cenário bastante sombrio para a expansão nas grandes economias do planeta. Mais incertezas, indefinição total quanto à saída do Reino Unido da União Europeia, menos trocas comerciais em geral explicam o clima adverso. Os maiores parceiros económicos de Portugal, por exemplo, estão a perder gás na economia, o que deve significar, a prazo, menos procura por exportações e menos investimento externo.

A Alemanha cresce 0,7% este ano, menos nove décimas do que previa a OCDE há seis meses. França avança apenas 1,3% em termos reais (menos 0,3 pontos percentuais face a novembro) e a previsão de crescimento para Itália, ainda a terceira maior economia do euro, sofre um corte a fundo de 1,1 pontos percentuais, entrando assim numa nova recessão (contração de 0,2% em 2019). Só estes três mercados valem quase metade do mercado de exportação de Portugal, são fontes muito importantes de faturação, via investimento direto e turismo, por exemplo.

"A expansão global continua a perder força. O crescimento global deverá diminuir para 3,3% em 2019 e 3,4% em 2020, e os riscos de queda continuam a crescer", avisa a organização dirigida por Angel Gurría. "O crescimento foi revisto em baixa em quase todas as economias do G20 (o grupo dos 20 maiores países do mundo), com revisões particularmente grandes na área do euro em 2019 e 2020."

"A elevada incerteza política, as tensões comerciais em curso e uma maior erosão das empresas e da confiança dos consumidores estão a contribuir" para esta desaceleração. Em concreto, a OCDE nota já que "o crescimento do comércio mundial desacelerou acentuadamente e as novas encomendas continuam a diminuir em muitos países".

"As barreiras comerciais introduzidas no ano passado são um obstáculo ao crescimento, investimento e padrões de vida, particularmente para as famílias de baixos rendimentos", acrescenta o novo outlook intercalar. Relativamente aos mercados de trabalho, a OCDE ainda diz que, "por enquanto" continuam "resilientes", notando que o crescimento dos salário "está a aumentar lentamente, o que suporta o rendimento e os gastos das famílias". Fora da Europa, "o crescimento na China deverá moderar gradualmente para 6% até 2020", mas a OCDE assume que Pequim tomará "novas medidas" que compensem "a fraca evolução do comércio".

"Uma desaceleração mais acentuada na China afetaria o crescimento e as perspetivas de comércio em todo o mundo", avisa a mesma entidade. De volta à Europa, subsiste o vazio. "Uma incerteza substancial no campo político continua na Europa, sobretudo em relação ao Brexit". E, uma vez mais, "a saída desordenada do Reino Unido da UE aumenta substancialmente os custos para as economias europeias". A OCDE também deixa um recado aos bancos centrais, entre eles o BCE. "Os sinais de pausa na normalização da política monetária ajudaram à recuperação dos mercados", mas agora "corre-se o risco de uma maior acumulação de vulnerabilidades financeiras.

A economia mundial deve crescer 3,3% este ano, quando há seis meses a OCDE previa 3,5%. A maior economia global, os Estados Unidos, avança 2,6% em 2019 (menos uma décima face a novembro). A Rússia ainda fraqueja mais: perde uma décima e cresce apenas 1,4%. Neste jogo de perdedores, a única revisão em alta do crescimento é para a Argentina (mais 0,4 pontos percentuais), mais ainda assim continuará em recessão (contração de 1,5%), projeta a organização chefiada por Gurría.

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