Web Summit em Lisboa em risco após 2018
Nem governo nem Cosgrave comentam o assunto. Mas enquanto o irlandês visita várias cidades europeias, as negociações com Lisboa estão paradas
Da especulação nas redes sociais, pelo menos, Paddy Cosgrave não se livra. O fundador da Web Summit andou a passear pela Europa, publicando fotos que geraram dúvidas aos seus seguidores. Estaria ele à procura da próxima localização para a cimeira de tecnologia, indagaram. O irlandês podia estar apenas de férias, mas uma fotografia junto ao famoso número 10 de Downing Street, onde se situa o escritório da primeira-ministra britânica, com a legenda a indicar que estaria a ter "reuniões" no local, e ainda um check--in no Palácio do Eliseu, a residência oficial do presidente francês, podem indicar que Cosgrave anda a ter encontros de alto nível. O motivo para tal é, para já, desconhecido. Mas é habitual no seu estilo de comunicação deixar pistas sobre o que anda a preparar. Além de Londres, no Reino Unido, e Paris, em França, o fundador da Web Summit passou ainda por Milão, na Itália.
Quando questionado pelo DN/Dinheiro Vivo se estaria a considerar alternativas a Lisboa para a realização da cimeira tecnológica, o irlandês não quis responder. Antes preferiu frisar que estava "impressionado com o sucesso da Web Summit em 2017 e a planear torná-la ainda melhor para os participantes da edição de 2018". E quando insistimos para saber se ficaria em Lisboa para lá dessa data, Paddy Cosgrave sublinhou que não faria comentários sobre o assunto. Contudo, assumiu que "continuava a ter uma forte relação de trabalho com as autoridades portuguesas" e que está "entusiasmado para trabalhar com elas outra vez, no ano novo". Em 2018, portanto.
A equipa da Web Summit realiza vários outros eventos, além da cimeira que acontece em Lisboa e que o fundador considera ser a principal: o Collision, em Nova Orleães, nos Estados Unidos, o RISE, em Hong Kong, o MoneyConf, em Dublin, na Irlanda, e o SURGE, em Bangalore, na Índia. Sabe-se que Cosgrave pretende mudar a localização do Collision, mas não faria sentido trazê-lo para a Europa, onde já tem outros dois eventos. Mudar o MoneyConf também será pouco provável, uma vez que esta conferência saltou muito recentemente de Madrid para a capital irlandesa. Sobra a Web Summit a justificar o recente périplo que foi documentado nas redes sociais.
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O acordo inicial com o governo português previa a permanência do evento em Lisboa por três anos, de 2015 a 2018, podendo o período estender-se por mais dois anos, até 2020. Especula-se que o episódio do jantar no Panteão Nacional possa ter gerado algum mal-estar e esfriado relações. Ou que a saída de alguns dos seus principais interlocutores, como João Vasconcelos, ex-secretário de Estado da Indústria, tenha abrandado o ritmo das negociações. Outra das hipóteses é uma possível falta de concordância em relação às condições para a permanência da Web Summit em Lisboa. Recorde-se que, só para trazer a cimeira para cá, o Estado teve de desembolsar 1,3 milhões de euros por cada ano, financiados pelo Turismo de Portugal, pela AICEP e pela Câmara Municipal de Lisboa, e garantir vários itens de uma lista de exigências que ia desde a rede de transportes à cobertura wi-fi. Contudo, o investimento parece ter valido o esforço. O executivo aponta para um retorno de 200 milhões de euros em 2016 e de 300 milhões em 2017.
Quando confrontado com o tema, o governo manteve a mesma postura de Paddy Cosgrave, indicando que não tinha nada a comentar. Até à realização da Web Summit em 2017, ambas as partes se mostravam otimistas quanto à permanência da cimeira em Lisboa por mais dois anos para além dos estipulados. O fundador da cimeira assumia-se rendido a Lisboa, esperando que o evento continuasse na capital portuguesa para lá de 2018. Já o primeiro-ministro, António Costa, mostrava-se confiante de que tal se iria mesmo concretizar, dados os bons resultados que o evento estava a alcançar. Mas deixava a ressalva: iria depender das decisões do irlandês e da sua equipa.
Contudo, nenhum acordo de prolongamento foi assinado e o DN/Dinheiro Vivo sabe que, neste momento, as negociações estão paradas. Em 2015, o último ano da Web Summit na sua cidade natal, em Dublin, na Irlanda, Paddy Cosgrave só anunciou a mudança para Lisboa a pouco mais de um mês do evento, através de uma publicação no blogue oficial da cimeira. Mais tarde, Leonardo Mathias, ex-secretário de Estado adjunto e da Economia, do executivo de Pedro Passos Coelho, viria a afirmar que a decisão estivera pendente até ao último minuto. Talvez tenhamos de esperar também pelo decorrer da edição de 2018 para conhecermos os planos do irlandês quanto ao futuro da cimeira e a sua permanência - ou não - em Lisboa.