Venda de casas cai e preços desaceleram 7,1%
Até setembro venderam-se menos dez mil casas e registaram-se transações no valor de 18,6 mil milhões de euros.
A pandemia colocou um travão na venda de casas no país e acentuou a tendência, já verificada no fim do ano passado, de abrandamento dos preços dos imóveis. Nos primeiros nove meses do ano, foram comercializadas pouco mais de 122 mil habitações, que geraram um volume de transações da ordem dos 18,6 mil milhões de euros. Entre janeiro e setembro de 2020, o mercado absorveu menos dez mil casas do que em igual período de 2019, mas o valor global das operações imobiliárias manteve-se no mesmo patamar. É que apesar da crise sanitária, o preço dos imóveis não deixou de aumentar. No terceiro trimestre, subiu 7,1%, ainda assim o menor incremento desde o início do ano e um valor que já não se registava desde 2016, segundo dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística.
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Naturalmente, foram as duas regiões de maior densidade habitacional que mais contribuíram para a retração na aquisição de casas. Na Área Metropolitana de Lisboa foram vendidas 41 287 habitações nos nove primeiros meses deste ano, menos 4512 face ao mesmo período de 2019. O valor global das transações nesta região caiu 1,9% para 8,5 mil milhões de euros. Já na Área Metropolitana do Porto foram alienados 19 844 imóveis residenciais entre janeiro e setembro, uma quebra em 1601 unidades de alojamento. Mas a AMP registou 2,9 mil milhões de euros em volume de transações nos nove primeiros meses do ano, um aumento de 3,7% quando comparado com o homólogo de 2019.
Falta de oferta
Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária em Portugal (APEMIP), frisou ao DN/Dinheiro Vivo que o mercado imobiliário "continuou a registar um ciclo de valorização", "ao contrário daquilo que seria expectável e num cenário de crise pandémica". O responsável sublinhou, contudo, que a resiliência do setor neste ano marcado pela pandemia se prende também com a falta de oferta. Como adiantou, "continua a não haver stock imobiliário suficiente para dar resposta à procura dos segmentos médio e médio baixo, que continua elevada por não haver no mercado de arrendamento uma verdadeira alternativa".
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Mas a quebra no número de casas vendidas reflete já "uma situação de crise global e de retração da procura externa", que Luís Lima admite ser uma tendência que se irá acentuar. Para já, o líder associativo reconhece que "no corrente ano, e apesar de todas as dificuldades, o setor imobiliário revelou-se resiliente". Luís Lima justifica o abrandamento na valorização dos imóveis pela quebra considerável da procura externa e pelo adiamento das famílias das decisões de compra de casa.
O último trimestre do ano não deverá trazer um novo fôlego ao setor. O presidente da APEMIP considera que este último período de 2020 irá espalhar "as incertezas decorrentes da segunda vaga da pandemia". As empresas do setor já deram nota que desde setembro se sente um arrefecimento do mercado.
Sónia Santos Pereira é jornalista do Dinheiro Vivo