Tabaqueira alerta para risco de comércio ilícito com mudança da Lei do Tabaco

Proposta Federação Portuguesa de Grossistas de Tabaco diz que limitações à venda de cigarros vai ter impacto sobre um setor que empregava em 2021, direta e indiretamente, 44 mil pessoas. Tabaqueira pede "debate alargado" das medidas.
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Foi aprovada na quinta-feira, em Conselho de Ministros, a proposta de lei que pretende impedir a venda de tabaco em espaços onde atualmente já não se pode fumar, como gasolineiras, cafés e restaurantes, e que proíbe, a partir de outubro, a comercialização do tabaco aquecido com aromas.

A Tabaqueira/ PMI - Philip Morris International alerta que estas medidas podem vir a "criar um cenário propício ao comércio ilícito" de tabaco, ao mesmo tempo que garante disponibilidade para dar o seu contributo neste processo de mudança, que considera dever "ser alvo de consulta prévia, debate alargado e diálogo participado com todas as partes impactadas."

A primeira medida - que tal como a segunda ainda vai ser debatida e sujeita a aprovação da Assembleia da República - deve entrar em vigor em 2025 e mal se tornou pública, na quarta-feira, foram várias as reações negativas. O alerta para a possibilidade da medida governamental poder vir a reduzir postos de trabalho ligados à indústria tabaqueira, bem como impactar as receitas que esta gera para o país chega através da Federação Portuguesa de Grossistas de Tabaco (FPGT).

Em comunicado, citado pela Lusa, a federação declara a prematuridade da revisão da Lei do Tabaco de 2007 e remete para as perdas económicas da indústria, que "assegura três mil empregos diretos e 44 mil indiretos e gera receitas consideráveis no comércio".

Para justificar as suas declarações, a FPGT evoca ainda o estudo "O Impacto Económico e Social da Indústria de Tabaco em Portugal", levado a cabo pelo Iscte, que detalha que, por exemplo, o volume de negócios (VN) médio das empresas de tabaco (138 milhões de euros) é 106 vezes superior à faturação das empresas dos vários setores da Indústria Transformadora (1,3 milhões de euros).

O documento acrescenta ainda que, em 2021, foram 43 848 as pessoas impactadas pelo setor do tabaco em toda a cadeia de valor e que destas, 3186 eram trabalhadores diretos da indústria. "Destes, 1528 trabalhavam nos três grupos empresariais em estudo e 1658 em empresas fornecedoras. O número total de trabalhadores impactados diretamente correspondia a 0,07% da população ativa empregada em Portugal", pode ler-se nas conclusões do relatório.

A Tabaqueira diz que está disponível para debater todos os aspetos desta proposta governamental, alertando que, atendendo às informações que são públicas, é necessário "considerar as potenciais consequências negativas decorrentes de medidas com um alcance bastante vasto nas dimensões económicas e sociais, ainda não quantificadas, e que podem criar um cenário propício ao comércio ilícito".

Ao mesmo tempo, a Tabaqueira relembra que a Comissão Europeia tem em curso uma consulta pública para rever a diretiva europeia dos produtos de tabaco, tendo em vista o controlo do tabagismo e critica a proposta do governo por não levar em consideração esta realidade.

Segundo o estudo do Iscte "em termos fiscais, no mesmo ano (2021), a operação e a comercialização dos produtos fabricados pelos três grupos empresariais do setor do tabaco (Tabaqueira| PMI, Fábrica de Tabaco Micaelense e Empresa Madeirense de Tabacos) gerou receitas para o Estado de aproximadamente 1,2 mil milhões de euros - o equivalente a quase 3,3 milhões de euros por dia".

O que, dividido por 365 dias, corresponde a uma entrega na fazenda pública superior a 3,27 milhões de euros por dia, em 2021, por parte dos três grupos empresariais, destaca o estudo.

No entanto, e apesar destes valores, o ministro da Saúde declarou na conferência de imprensa após a reunião do Conselho de Ministros de ontem, que "essa receita fiscal é indispensável mas é indesejada, porque resulta em larga medida da tentativa de fazer com que o preço do tabaco seja também um dissuasor do consumo".

E adiantou que a medida vem para ajudar a garantir a saúde dos portugueses. "Que não haja dúvidas que aquilo que os portugueses pagam com a sua saúde, com a sua vida no Serviço Nacional de Saúde por causa do tabaco é muito mais do que qualquer receita fiscal sobre o tabaco". "Do ponto de vista fiscal, uma sociedade sem tabaco seria uma sociedade com contas públicas muito mais saudáveis", sublinhou Manuel Pizarro.

Mas, como esclarece o estudo do Iscte, em "2020 o peso da produção portuguesa (15%) nas vendas totais de produtos de tabaco produzidos na UE foi 10 vezes superior ao peso do PIB português (1,5%) no PIB da UE" e que em 2021, excluindo Estado, banca e o intragrupo PMI, "a Tabaqueira|PMI contou com 258 fornecedores, aos quais fez um pagamento total de 164 milhões de euros".

Destes, 93% são fornecedores nacionais, aos quais foi entregue 70% do total de pagamentos . O que naquele ano contabilizou "um volume de compras de cerca de 114,5 milhões de euros". No que às exportações de bens procedentes da indústria transformadora diz respeito, o relatório do Iscte revela que "os grupos empresariais da indústria de tabaco são responsáveis por um valor de exportações superior a 719,34 milhões de euros (1,21% das exportações totais da Indústria Transformadora), cabendo a quase totalidade deste valor (719,17 milhões de euros) à Tabaqueira|PMI".

Combinados todos estes fatores, o estudo conclui que os grupos de empresas da indústria de tabaco contribuíram com mais de 260 milhões de euros para o PIB nacional em 2021 (que andou nos 214 471 milhões de euros). "O maior contribuinte do setor para este indicador de quantificação de atividade económica tem sido a Tabaqueira|PMI, representando mais de 94% do PIB setorial", lê-se no documento.

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