Aeroporto. Santarém puxa dos galões: "Esta é a melhor solução"

Até ao dia 27 de abril ainda podem surgir outras propostas, mas para já são nove as que estão em cima da mesa da Comissão Técnica Independente. Santarém apresentou a proposta que desvia para o Ribatejo o novo aeroporto "de Lisboa".
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Santarém é agora a cidade de que se fala: um consórcio privado, constituído por várias empresas nacionais, que garante estar há três anos a trabalhar "com os agentes locais", apresentou-se por estes dias como promotor do futuro aeroporto. Esta terça-feira, uma aura de entusiasmo pairava no Convento de São Francisco, onde, durante a manhã, decorreu a apresentação pública do projeto Magellan 500 Airport.

Depois da sessão para as entidades oficiais, a população foi convidada a deslocar-se ao Convento, durante a tarde, por forma a ficar a conhecer mais pormenores sobre a iniciativa. Ou seja, quase 30 anos depois das primeiras notícias sobre a importância de construção de "um novo aeroporto de Lisboa", e numa altura em que a Comissão Técnica Independente (CTI) se prepara para finalizar a avaliação das diversas propostas, Montijo e Alcochete parecem perder peso. E o novo aeroporto pode não ser "de Lisboa", mas antes de Santarém. Isto se a decisão política recair sobre esta proposta. É que, no momento, são 9 os projetos considerados pela CTI: além de Santarém, estão em cima da mesa as hipóteses de Montijo + Portela, Portela + Montijo, CT Alcochete, Portela + Santarém, CT Alcochete + Portela, Alverca + Portela, Beja e Monte Real.

Mas a história das últimas três décadas -- que começou por destacar a Ota como localização privilegiada -- tem sido feita de muito mais opções. De resto, decorrido um mês sobre o lançamento da plataforma Aeroparticipa, disponível online e acessível a todos os cidadãos, a comissão que vai decidir a localização do aeroporto já recebeu "mais de uma centena" de sugestões, admitiu Rosário Partidário, que lidera a equipa de peritos. Além das nove soluções em cima da mesa, Também a Ota, Rio Frio, Castelo Branco, Évora ou Coimbra chegaram às mãos da CTI, que garante apreciar apenas "as soluções com algum fundamento", e que serão posteriormente analisadas por uma equipa de especialistas. E essas serão conhecidas no próximo dia 27 de abril.

A proposta de Santarém -- que ganhou fôlego nos últimos dias -- é sustentada por quatro municípios do Médio Tejo: Santarém, Golegã, Torres Novas e Alcanena. Este quarteto defende que a solução Magellan 500 é "a mais vantajosa para o país", por estar situada junto ao nó da A1 e ao lado da Linha do Norte, o que iria permitir a ligação a duas das principais infraestruturas nacionais de transportes.

A proposta do projeto Magellan 500 começa por defender um aeroporto regional com uma única pista, com capacidade para 10 milhões de passageiros/ano, sendo posteriormente alargado para três pistas, assegurando o transporte de cem milhões de passageiros por ano.

O promotor do projeto (custeado por privados, mas alicerçado nas autarquias) defende o que considera serem "vantagens diferenciadoras" desta localização. Ao mesmo tempo, os autarcas da região criticam o surgimento de novas opções "a meio do processo". O projeto prevê criar um total de 820 empregos diretos na nova infraestrutura aeroportuária, que poderá gerar um milhão de passageiros.

Quanto ao investimento, será inicialmente entre 1000 e 1200 milhões de euros.

Citado pela Agência Lusa, o porta-voz do Magellan 500, Carlos Brazão, considera que Santarém é "uma opção com vantagens diferenciadoras relativamente a todos os projetos". Antigo diretor da Cisco, o fundador deste consórcio está seguro de que será simples "convencer as companhias aéreas a voar para Santarém", tal como o afirmou esta semana em entrevista ao Dinheiro Vivo. Fala em nome de um grupo que fundou há três anos, em que se inclui a transportadora Barraqueiro, além de "investidores internacionais".

"Sendo nós entidades e grupos empresariais, (...) se nós o propusemos é porque achamos que tem vantagens claras e benefícios únicos e, portanto, estamos confiantes", afirma Carlos Brazão, que levanta bandeiras como a proximidade a Lisboa e o facto de ser um projeto de iniciativa privada, "que poupa muito dinheiro aos contribuintes. É um projeto de rápida implementação e escalável, para que nunca mais se tenha de voltar a discutir aeroportos", sublinha o empresário.

Ainda assim, só na sessão de apresentação no Convento de São Francisco a autarquia de Santarém terá gasto 38 mil euros, o que o presidente da câmara municipal local, Ricardo Gonçalves, reputa de investimento.

Ao contrário do que ficou claro nas declarações de alguns dos autarcas envolvidos -- que criticaram o aparecimento de novas propostas nos últimos dias -- Carlos Brazão diz compreender "perfeitamente a entrada de novos projetos, porque pretende-se que esta seja a última avaliação que se faz, tratando-se de uma decisão definitiva".

"E sendo a última avaliação, quanto mais inclusiva for, quanto mais olhar para todas as avaliações possível, quanto mais for no espírito de que não se deixou de olhar para nenhuma solução, melhor, mais credível será. Vemos com bons olhos e só reforça a possibilidade que seja a opção final", adiantou, em entrevista à Agência Lusa.

Ao contrário, a presidente da comunidade intermunicipal do Médio Tejo, Anabela Freitas, que também preside à Câmara de Tomar, considerava no final da apresentação que "não é muito cordial, a meio do processo, entrarem novas localizações".

A representante dos autarcas da região considerava que, porém, os mesmos estão "confiantes naquilo que é a mais-valia do projeto face às restantes localizações, sobretudo estas duas últimas que surgiram na semana passada". Uma delas é Monte Real, já tantas vezes apontada como hipótese, à conta da Base Aérea n.º 5, que seria convertida para uso da aviação civil. A proximidade a Fátima - porta de entrada de um volume de turistas considerável -, mas também à Batalha ou Alcobaça, onde estão alguns dos monumentos mais visitados do país, foi sempre apontada como uma vantagem.

Gonçalo Lopes, presidente da Câmara Municipal de Leiria, reagiu no sábado à inclusão dessa proposta por parte da CIT. "Esta notícia vem dar-nos ainda mais alento para continuarmos a lutar para que Monte Real possa vir a ter aviação civil, um investimento que, consideramos, vai ter um efeito multiplicador e contribuir de forma decisiva para o desenvolvimento da Região Centro", afirmou o autarca, em comunicado.

A Comissão Técnica Independente que agora avalia cada proposta foi criada pelo governo no final do ano passado e está instalada no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), em Lisboa. É presidida pela professora do Instituto Superior Técnico Rosário Partidário e conta com uma equipa de seis coordenadores técnicos, todos ligados ao Ensino Superior.

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