Receios de recessão podem colocar travão aos preços dos combustíveis

Depois de terem batido máximos, os preços dos combustíveis têm vindo a descer, refletindo o alívio dos valores do petróleo nos últimos meses do ano. Abrandamento da economia sugere que o pior na subida de preços já passou. Mas especialistas alertam para riscos.

A subida dos preços do petróleo e a queda do euro face ao dólar levaram os preços dos combustíveis a atingirem máximos em junho de 2022, quando o custo para os consumidores superou os dois euros por litro. Na média do ano, o preço do gasóleo foi 27% mais alto face a 2021 e o da gasolina 14%. No entanto, nos últimos meses houve algum alívio, motivado pela descida dos preços do crude no mercado internacional. O ouro negro desvalorizou devido às perspetivas de que a desaceleração económica no próximo ano faça abrandar a procura. Mas os especialistas alertam que há riscos de alta volatilidade no mercado devido a problemas na oferta motivados, sobretudo, pela guerra lançada pela Rússia à Ucrânia.


Depois da invasão de 24 de fevereiro, o Brent [barril de referência na Europa] disparou para mais de 100 dólares pela primeira vez desde 2014. E à medida que a produção de petróleo ia sofrendo perturbações e as sanções à Rússia iam ganhando força, o desempenho da matéria-prima ia refletindo a situação tendo chegado a negociar nos 140 dólares em março, máximos de quase 14 anos. No entanto, os últimos meses foram de queda e a cotação do petróleo ronda os 80 dólares, o que trouxe o preço do litro de gasolina e de gasóleo para cerca de 1,60 euros. Durante todo o ano de 2022, o valor médio da gasolina e do gasóleo foi de 1,85 e 1,80 euros, segundo cálculos do DV baseados nos dados da Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG). No ano anterior, esse número tinha sido de 1,62 e 1,42 euros.


"Desde a segunda metade do ano que os preços dos combustíveis têm vindo a cair gradualmente, devido às fortes correções nos preços do petróleo, onde o Brent já caiu quase 40% desde os máximos relativos atingidos em março deste ano", explicou ao DV Henrique Tomé. Além disso, como acrescentou o analista da XTB, "o facto de o euro estar a recuperar em relação ao dólar americano também está a apoiar as descidas nos preços dos combustíveis".

No mercado da energia, a expectativa é que o petróleo não valorize de forma expressiva no próximo ano. Uma sondagem recente da Reuters junto de 38 economistas e analistas aponta para um preço médio de 93,65 dólares ao longo de 2023, abaixo da cotação média de cerca de 100 dólares este ano. Já o Governo espera, segundo o Orçamento do Estado para 2023, um valor de 77,8 dólares para 2023. Henrique Tomé sublinha que a tendência de descida dos preços "seja para continuar ao longo do próximo ano sobre os preços das matérias-primas energéticas, que por sua vez irá também influenciar os preços dos combustíveis, dado que a procura continua a ser penalizada pelo abrandamento da atividade económica e também pelos receios sobre o risco de recessão".

Em circunstâncias normais quando a economia abranda os preços descem porque a procura desce. Mas há vários elementos no mercado que estão longe de ser normais e alguns analistas admitem que existe o risco de os preços poderem voltar a subir, num contexto marcado por alta volatilidade. "Apesar de os preços mais baixos do petróleo serem um alívio para os consumidores confrontados com a subida da inflação, o impacto total dos embargos ao petróleo russo ainda não foi visto", alertaram os especialistas da Agência Internacional de Energia num relatório recente. Consideram mesmo que "à medida que avançamos nos meses de inverno em direção a um equilíbrio mais apertado no mercado no segundo trimestre de 2023, não se pode excluir nova subida nos preços".


Taxa de carbono de volta


Outra das componentes que pesa na fatura dos combustíveis é a fiscalidade. E neste campo, o Governo anunciou esta quinta-feira que retomará a cobrança da taxa de carbono, mas de forma gradual.


Numa conferência de imprensa sobre os preços de energia para 2023, o ministro do Ambiente rejeitou seguir o modelo de Espanha que decidiu terminar os benefícios em sede de ISP, pondo fim ao desconto de 20 cêntimos por litro que estava em vigor. "Não vamos adotar uma medida idêntica à que foi adotada em Espanha. Em Portugal estamos a trabalhar para uma solução gradual, de progressiva redução da isenção do pagamento da taxa de carbono, portanto não vai ser nos mesmos termos", revelou Duarte Cordeiro. O ministro do Ambiente detalhou que está atualmente a decorrer um trabalho em conjunto com o Ministério das Finanças para decidir a data em que voltará a ser cobrada e os pormenores da medida.


No início do mês, o ministério encabeçado por Fernando Medina anunciou que a atualização da taxa de carbono iria continuar suspensa até ao final do ano, aquando da redução do desconto do imposto sobre produtos petrolíferos (ISP) em 3,9 cêntimos por litro de gasóleo e 2,4 cêntimos por litro de gasolina.

Sara Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo

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