Lucros das empresas da Bolsa aumentam 1,1 mil milhões
A reviravolta nos bancos, que passaram de prejuízos para lucros, explica a melhoria de 71,5% nos resultados do PSI 20 nos primeiros nove meses. Construtoras é que não ajudaram
As empresas cotadas na Bolsa de Lisboa já deram a volta à crise. No conjunto, as 17 empresas do PSI 20 - a Pharol só hoje apresenta as contas do terceiro trimestre - aumentaram os lucros em 1,1 mil milhões de euros nos primeiros nove meses do ano. É uma subida de 71,5%. Esta melhoria fica a dever-se ao bom desempenho da banca, que passou de prejuízos a lucros e compensou as quedas acentuadas dos lucros das construtoras.
Ao todo, as 17 empresas registaram um resultado líquido superior a 2,68 mil milhões de euros, contra apenas 1,56 mil milhões alcançados entre janeiro e setembro do ano passado. A banca foi um dos setores que mais contribuíram para esta melhoria. Em setembro do ano passado, BCP, BPI e Banif apresentavam, em conjunto, prejuízos superiores a 378,8 milhões de euros; neste ano, todos regressaram aos lucros, atingindo os 421,7 milhões.
"Os bancos não foram tão prejudicados pela necessidade de constituírem provisões para o crédito malparado, como em exercícios anteriores", justifica Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa. "Ainda que a banca não seja a fonte de lucros que era antes do início da crise, já não é, certamente, o gerador de prejuízos do passado recente", acrescenta a equipa de research do BiG.
A explicar o melhor desempenho das empresas da Bolsa está também o cenário macroeconómico mais favorável, consideram os analistas. "A recuperação da economia portuguesa tem levado as cotadas mais expostas ao mercado interno a superarem as estimativas iniciais de resultados. A alteração do comportamento dos agentes económicos, refletidos num aumento substancial da procura interna, está na génese dos bons números", considera Pedro Ricardo Santos, gestor da XTB. Por outro lado, acrescenta, "as cotadas que mais dependem da atividade exterior têm também sido beneficiadas pela atual conjuntura mundial, nomeadamente na força da divisa americana". Apesar da conjuntura mais favorável, as receitas, volume de negócios e, no caso da banca, produto bancário recuaram em 525 milhões, para 48,6 mil milhões. A Galp, EDP e Jerónimo Martins são as três cotadas que mais faturaram, todas com receitas superiores a dez mil milhões.
As empresas beneficiam ainda das "condições de financiamento mais favoráveis e do cristalizar dos efeitos benéficos das medidas de eficiência operacional e cortes de custos encetados anteriormente", aponta a equipa do BiG.
Em sentido inverso estão as construtoras. A Mota-Engil viu os lucros caírem 68% para 16 milhões, penalizada por uma quebra de quase 30% nas vendas para África. Já os lucros da Teixeira Duarte afundaram 76% para 17 milhões, resultado que a empresa justifica com a "variação das diferenças de câmbios" e o "impacto negativo da perda por imparidade na participação no BCP", no valor de 10,7 mil milhões de euros. A retração nas obras públicas também não ajuda.
Otimistas, os analistas preveem que a tendência de recuperação vá continuar. "O anúncio do Banco Central Europeu de uma nova injeção de capital no mercado pode ser uma ajuda preciosa para os bons resultados", diz Pedro Ricardo Santos, embora ressalvando que a incerteza política já adiou algumas decisões de investimento e consumo. Seja como for, "para anular os ganhos já conseguidos seria necessário entrarmos de novo em recessão", conclui Rui Bárbara.