Mulheres a liderar empresas ajudam a aumentar lucros

Estudo do Peterson Institute for International Economics verificou que menos de 5% das empresas têm mulheres CEO. Realidade que Portugal se prepara para mudar em breve
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Uma empresa com cerca de 30% de mulheres na liderança pode ajudar a aumentar até seis pontos percentuais os seus lucros, em relação a empresas lideradas por homens. A conclusão é de um estudo do The Peterson Institute for International Economics e da EY, junto de mais de 22 mil empresas de várias indústrias e setores, em 91 países. Um ambiente de trabalho mais inclusivo, respeito pela paternidade/maternidade e abertura para investimentos em novos mercados são algumas das razões apontadas.

Apesar dos esforços de muitos países, o mesmo estudo constatou que em quase um terço das empresas analisadas não há mulheres na administração ou em cargos de topo - 60% não têm mulheres na administração, 50% não as têm como executivas de topo e menos de 5% têm mulheres como CEO.

Mas o assunto está cada vez mais na ordem do dia com os que apontam que há mais mulheres qualificadas do que homens, sendo preciso deixá-las ocupar esses cargos, e os que defendem que é preciso tempo, pois estas são mudanças profundas nas empresas. E assim o tempo passa com vários países a resistirem a uma diretiva comunitária que vem de 2012 e que define o objetivo de aumentar, até 2020, a proporção de mulheres nos cargos de administração não executivos até 40% e para 33% em todos os cargos de chefia. É o caso da Polónia, da Hungria e do Reino Unido, que usam "argumentos que se escondem em questões formais e que, na verdade, [se baseiam] num preconceito relativamente a esta matéria", dizia recentemente Catarina Marcelino, secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, ao DN/Dinheiro Vivo.

De acordo com o estudo Peterson, nenhum país atingiu a paridade de género, mas há sinais positivos: as médias nacionais para a participação das mulheres nos conselhos de administração variam entre 4% no México e cerca de 40% na Noruega, com a Letónia e a Itália a terem 25% e 24% de mulheres nestes cargos, respetivamente.

Os setores financeiro, da saúde, utility e telecomunicações são os que têm mais mulheres executivas de topo. Em sentido inverso estão os setores das matérias-primas, tecnologia, energia e indústria.

Em Portugal, em junho de 2015, apenas 13 empresas cotadas - nove do PSI 20 - assinaram um acordo no qual se comprometem, até 2018, que os conselhos de administração sejam compostos por, pelo menos, 30% de mulheres. O governo de Passos Coelho queria que as empresas dessem este passo de forma voluntária, mas o governo de António Costa defende que é preciso impor o cumprimento das quotas. Neste sentido, vai avançar "muito em breve" com a imposição de quotas de género para os conselhos de administração das empresas do Estado e das cotadas em Bolsa. A ideia é que até 2020 as empresas cotadas tenham um terço de mulheres nos cargos de topo, enquanto no setor empresarial do Estado as quotas são para cumprir até 2018.

Sobre as quotas o Peterson-EY destaca a preocupação das empresas: "Forçar a mudança pode ter um impacto negativo sobre o desempenho das empresas, talvez devido a uma escassez de mulheres qualificadas para atuar em conselhos de administração."

Uma argumento que Sandra Correio, CEO da Pelcor, e uma das executivas de topo altamente reconhecidas em Portugal e fora, rejeita. Destacando a "sorte de trabalhar no setor privado", a executiva aponta uma grande presença de mulheres na gestão de topo. É o caso de Rita Nabeiro, na Adega Mayor; de Paula Amorim, na Amorim Holding, ou de Maria do Rosário Pinto Correia, na Topázio. "São mulheres que acreditam em si e no seu trabalho, independente do género", diz, advertindo que, "a nível público, o acesso é mais difícil, porque existem os lobbies masculinos, nos quais as mulheres não participam e por isso não são convidadas para esses cargos".

A solução para este desequilíbrio está na educação. Apologista da paciência e determinação, Sandra Correia diz que "é preciso termos uma mentalidade mais aberta, é preciso querer, sobretudo, acreditar em nós e sermos parceiras com o género masculino. Porque, enquanto mulheres, não somos nem mais nem menos, somos diferentes e eu acredito que é no equilíbrio que está a resposta certa para um futuro melhor para todos".

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