"Mercados não vão entrar em pânico se relaxarem no défice"

Um ponto percentual do PIB a menos no ajustamento orçamental português "não vai fazer diferença" para os investidores, defende Nobel da Economia
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O governo faz bem em relaxar "um pouco" a austeridade e o défice público, mas fez mal em subir o salário mínimo, disse Paul Krugman, professor e Nobel da Economia.

O convidado especial do sexto congresso da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), que decorreu anteontem e ontem em Lisboa, falou durante quase uma hora sobre a Europa, a zona euro, os EUA, mostrou-se preocupado por Donald Trump ser o candidato republicano às presidenciais americanas, mas dedicou algumas palavras a Portugal e ao governo. Na primeira fila a ouvi-lo estava o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral.

O professor da City University of New York disse aos jornalistas, à margem do encontro, que "há espaço para um pouco de suavização da austeridade e parece que é isso que o governo está a fazer", acrescentando mesmo que "não penso que os mercados financeiros vão entrar em pânico com isso, um ponto percentual do PIB não vai fazer diferença".

No entanto, continuou, "pode fazer muito a diferença em manter os custos humanos num nível mais tolerável e a situação política mais estável". "No geral, embora não conheça os detalhes, sou favorável" a essa suavização orçamental, referindo que tal não porá em causa a confiança dos tais "investidores", dos mercados. Durante a palestra, Krugman já tinha referido que Portugal deve permitir-se a "um relaxamento orçamental ainda que pequeno" e que o país "precisa de regressar ao crescimento" mais sólido "para a dívida ser gerível". "O que me preocupa é saber se a dívida é gerível", alertou.

O laureado Nobel insistiu que atualmente "não há uma boa razão para sermos religiosos em relação às metas orçamentais" e que, tendo em conta o estado em que estão as economias europeias e a zona euro, "parece-me certo ser menos severo" nas contas públicas.

Quem pode, deve gastar mais

Sublinhou ainda que a Comissão Europeia deve ser menos exigente com os países, menos dura na aplicação do Pacto, e que os países que podem, devem começar a gastar mais e a terem políticas um pouco mais expansionistas. Apontou os casos da "Alemanha, mas também de França", soberanos que se estão a endividar a um custo quase zero.

Para o articulista do The New York Times, a Europa e as economias periféricas, como Portugal, só têm futuro e maior crescimento a prazo "se os países grandes fizerem a sua parte".

Para mais, frisou, o Banco Central Europeu (BCE) já fez muito na política monetária (redução de taxas de juro e lançamento de programas enormes de compra de ativos). "Penso que já estará no limite." Por isso, a bola está agora do lado dos governos e das empresas.

Ainda relativamente a Portugal, Krugman disse que "o que me preocupa é a demografia". "Quando a população fica estagnada não é preciso fazer mais casas, por exemplo", os países entram num problema sério, avisou. "Aqui em Portugal o fenómeno tornou-se muito negativo e foi agravado pela emigração." Nesse sentido, "penso que é mais uma razão para não persistir mais na austeridade". "Um relaxamento, ainda que pequeno, faz sentido."

Subida do salário mínimo foi erro

O economista está solidário com os planos, como o do governo, que libertam "um pouco" a pressão sobre o défice, ajudando a economia, mas contra a subida do salário mínimo.

"Sou a favor de um salário mínimo mais alto, mas penso que em Portugal ele parece ser mais alto do que o país pode comportar" em termos competitivos. "Penso que pode ser um travão à economia", alertou.

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