Elite mundial teme crise de liquidez generalizada
A concentração de investidores em poucos ativos, a China e a constante subida das dívidas marcaram o arranque do Fórum.
Uma rápida e súbita contração da liquidez disponível poderá atirar o mundo para uma nova e profunda crise global, sendo este um dos riscos que assombrou e marcou o primeiro dia do Fórum de Davos. A China e as dívidas foram os outros.
"O fator-chave é que a liquidez pode cair dramaticamente e isso assusta toda a gente", sintetizou Zhu Min num dos painéis organizados ontem naquela estância de ski suíça. Para o subdiretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), a questão é simples: "Temos de estar preparados para agir depressa." Segundo o responsável, atualmente regista-se uma aceleração da concentração de capitais em poucos ativos, o que elevou as correlações nos mercados - grau de concentração em ativos - para níveis históricos. Zhu Min apontou que os mercados norte-americanos apresentam hoje uma concentração quatro vezes maior do que a média desde 1932 e isto quando a Reserva Federal prevê prosseguir com o ciclo da subida da taxa de juro: "Quando as taxas sobem, as avaliações de mercado precisam de se ajustar." E este ajustamento, dado o grau de concentração e a tendência para a movimentação concertada, pode ocorrer de forma rápida e inesperada, puxando o tapete a vários ativos. Basta que todos tentem sair ao mesmo tempo, provocando vendas em massa.
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Colapso das dívidas
Também um responsável da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) aproveitou o foco mundial em Davos para desvendar um pouco o véu do que pode estar ao virar da esquina. "A situação está pior do que em 2007. As nossas munições macroeconómicas para combater recessões já foram todas usadas", apontou o líder do Comité Económico da OCDE, William White, em entrevista ao Telegraph. "As dívidas continuaram a crescer nos últimos oito anos", disse, a tal ponto que tarde ou cedo será "óbvio que muitas destas dívidas jamais serão pagas, o que vai deixar desconfortável muitos dos que acham que os seus ativos valem alguma coisa".
China: a última peça do dominó
A China foi (e continuará a ser nos próximos dias) o tópico incontornável do primeiro dia de Davos. Kenneth Rogoff, professor de Economia em Harvard e ex-economista chefe do FMI, atribuiu o mau arranque do ano nos mercados à perceção de que as autoridades chinesas, afinal, não conseguem controlar o seu setor financeiro. Os acontecimentos de 2015, disse, demoliram o mito que a China é "uma máquina de crescimento perpétuo". Para Rogoff, a China não é mais do que a última peça do dominó e este é o maior fantasma que paira sobre o mundo. "É a terceira via do superciclo da dívida: Primeiro foram os EUA, depois a Europa e agora a China."
Apesar do pânico latente entre investidores e mercados, Rogoff considerou que o comportamento recente nas bolsas é exagerado: "Se a China passar de um crescimento de 7% para um recuo de 2% então temos uma recessão mundial. Mas se cai para um crescimento de 3% ou 4%, provavelmente não será suficiente para provocar uma recessão no mundo desenvolvido."
Controlo de capitais na China?
Para Nariman Behvaresh, economista-chefe da IHS, um maior controlo de capitais na China pode estar para breve. O economista estimou que desde meados de 2015 já fugiram mais de um bilião de euros do país. "As autoridades têm compensado com o recurso e o esgotamento das reservas, mas ao fazê-lo incorrem numa espécie de aperto monetário. O que irão fazer depois?", questionou na intervenção em Davos. "Isto faz-me lembrar a crise ERM [George Soros vs. Libra] na Europa no início dos 1990. Há um risco de assistirmos a uma desvalorização de 20% na moeda chinesa e isso empurrará o mundo para a recessão sem dúvida alguma."