Centeno diz que taxas de juro vão continuar a subir em 2023 mas deverão baixar em 2024

Governador do Banco de Portugal avisou que a "inflação praticamente a zero e taxas de juro muito baixas não são saudáveis para a economia".
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Mário Centeno afirmou esta sexta-feira em entrevista à RTP 3 que "a trajetória das taxas de juro vai continuar em alta mas está estabilizada" e que "as pessoas podem continuar com aumentos nos contratos até setembro/dezembro", mas que estão previstas "quedas efetivas, mas baixas, na taxa Euribor ao longo de 2024".

"Existe um desfasamento do momento em que subida dos juros é determinada e o momento em que essa subida tem efeito das nossas vidas", explicou.

O governador do Banco de Portugal admitiu que o "o impacto que esta subida dos juros tem nos agentes económicos é muito grande", mas avisou que a "inflação praticamente a zero e taxas de juro muito baixas não são saudáveis para a economia".

O antigo ministro das Finanças salientou que a "principal preocupação dos decisores políticos é redução da inflação, o controlo dos preços", e frisou que a "inflação é um problema coletivo, não um problema exclusivo dos bancos centrais". "Controlar os preços é da maior importância, inflação corrói a poupança", sublinhou, frisando depois que "quase metade da população portuguesa nunca viu estes níveis de inflação".

"É preciso acautelar que o efeito na economia não exceda o mínimo necessário", alertou, deixando elogios ao comportamento da economia portuguesa: "nos últimos trimestres tem sido uma exceção que é preciso valorizar, porque a economia europeia não soube reagir".

Centeno admitiu que a "intensidade da politica monetária depende muito das condições da zona euro" e que "estamos muito próximos de ter de pausar a politica monetária".

O governador do Banco de Portugal estabeleceu como objetivo o recuo da inflação "para 2% ao longo de 2025" e que já existem "quedas nos preços de energia e alimentos nos mercados internacionais", mas recorda que "passámos por dois choques de enorme dimensão em pouco tempo: pandemia e guerra na Ucrânia".

"Temos de refletir nos preços a reversão dos dois grandes choques pelos quais passámos", explicou.

Centeno defendeu não só a tese de que Portugal tem a geração mais qualificada de sempre como considera que essas qualificações têm contribuído para o desenvolvimento da economia portuguesa. "As novas gerações em Portugal têm formação superior aos imigrantes que entram. A economia portuguesa tem conseguido criar postos de trabalho com remuneração acima da média. Desde 2019 criámos mais de 100 mil postos de trabalho com salários acima da média, cerca de 1800 euros. Mas o processo é lento, não será de repente que as ambições desses jovens serão satisfeitas", vincou.

Em relação ao endividamento, Centeno saudou o facto de termos "empresas e famílias menos endividadas", o que é a "primeira vez que acontece". "A dívida portuguesa apesar de ser a que mais cai em percentagem do PIB, continua alta. A redução da divida é o melhor seguro para alturas de crise, o melhor para o futuro do país", salientou.

Ainda assim, Centeno frisa que "o rendimento disponível das famílias cresceu 21% em 2021 e 2022", que "nos 20% dos portugueses que têm rendimentos mais baixos o rendimento disponível cresceu 12%" e que "temos cinco milhões de pessoas a trabalhar hoje, quando há dez anos eram quatro milhões", e que por isso não podem ser tomadas "decisões que revertam o que de positivo tem acontecido na nossa economia", apesar de revelar a sua preocupação por a Europa estar "em estagnação".

No que concerne a um eventual esforço dos bancos para rentabilizar os depósitos, Centeno frisa que a "a margem financeira dos bancos portugueses não difere em relação aos outros" e recorda que "a altura em que as taxas de depósitos foram mais altas foi mesmo antes da crise". "Hoje, por cada euro depositado, os bancos emprestam apenas 70 cêntimos. Antes da crise era 1,50€", lembrou.

Centeno recordou também que "mesmo numa crise muito complexa as poupanças dos portugueses nunca estiveram em causa", mas que não se podem "criar realidades que não sejam fiéis aos números, realidades virtuais".

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