Avanço tecnológico vai alterar a mão-de-obra do futuro

Robótica e automação vão trazer mudanças sociais e impacto nos empregos. A área da produção industrial será uma das mais afetadas. Tudo o que envolver um contacto mais humano, à partida, não estará em risco. Especialistas assumem que, quando se trata de novas tecnologias, é difícil prever o que aí vem

Situada no Montijo, a fábrica da Agroleite, na herdade da Canha, é dona de 700 vacas, que produzem, todos os dias, 22 mil litros de leite, exclusivos para produção de queijo. Com mais de meio século de história, a empresa emprega duas dezenas de pessoas e admite que o trabalho ainda é, sobretudo, de base manual. "Já existem robôs que fazem a ordenha de vacas, mas para fábricas mais pequenas, para quem tem 60 ou 70 vacas, por exemplo. Para uma instalação desta envergadura ainda não existe", explica o sócio-gerente Hélder Duarte. No longo prazo, admite que muito irá mudar. "Daqui a 20 anos, acredito que será diferente. Dentro de duas décadas, talvez já se concretize uma total robotização da ordenha, até porque hoje em dia o que sai mais caro em qualquer tipo de produção é a mão-de-obra." A procura de robôs industriais aumentou 59% desde 2010.

Na memória recente dos portugueses está a imagem da robô Sophia, em plena Web Summit, a anunciar que, no futuro, os robôs iriam ficar com os empregos das pessoas - segundo o Fórum Económico Mundial, cinco milhões de postos de trabalho desaparecerão no Ocidente até 2020 por razões tecnológicas. Os especialistas assumem que o cenário é plausível. Mas acreditam que nem toda a gente será afetada. "Sem dúvida que vamos ter uma mudança na forma como trabalhamos. Mas, em muitas áreas de negócio, a tecnologia vem para facilitar, não necessariamente para acabar com postos de trabalho. Há funções em que isso vai acontecer necessariamente, como na produção industrial e em linhas de montagem. Mas depois haverá sempre reconversão de competências, tal como acontece há muitos anos. Antes da revolução industrial também havia empregos que depois foram substituídos por outros", indica Nuno Troni, diretor da Randstad.

Carlos Maia, da Hays, concorda. "No curto prazo, a automação terá um impacto mais forte em profissões menos qualificadas. Concretamente a nível de produção, retalho e também na banca, aqui já com algum grau de qualificação", explica. "Espera-se que, no futuro, as funções mais qualificadas possam também vir a ser impactadas, ainda assim acreditamos que a área de IT continuará a ter muita procura. Tal como tudo o que esteja ligado à investigação e desenvolvimento e ainda a área da saúde, de contacto mais humano."

Tempos de trabalho, remunerações, legislação e até a organização da própria sociedade. Os especialistas da área anteveem que a reviravolta nos empregos trazida pelos avanços tecnológicos não vai deixar nada por alterar. Sem querer fazer futurologia, adiantam tendências que irão marcar as profissões do futuro. "O aeroespacial ainda está muito por explorar e vamos ter de trabalhar essa vertente. É uma das áreas em que se vai criar muitos empregos no futuro", indica Nuno Troni. "Poderá existir espaço para profissões que poderiam estar a cair um pouco em desuso, ligadas mais ao artesanato e à própria agricultura. São profissões mais manuais que, mesmo não voltando em escala, podem encontrar o seu lugar, numa lógica de diferenciação", acredita Carlos Maia.

Será essencial adaptar a formação a esta nova realidade. E começar a fazê-lo o mais rapidamente possível. "Há muito trabalho a fazer na parte da educação. Até porque temos o know-how técnico, mas falta aprimorar os soft skills, que, numa era de robotização, serão cada vez mais essenciais para marcar a diferença."

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