Dinheiro
22 março 2023 às 07h01

TAP volta aos lucros e sindicatos defendem que justifica fim dos cortes

Com um resultado líquido de 65,6 milhões em 2022, antecipando em dois anos as metas do plano de reestruturação, os trabalhadores ganham argumentos para a reposição de salários.

Foram os últimos resultados apresentados com a assinatura de Christine Ourmières-Widener. A gestora francesa está de saída da TAP, ao fim de ano e meio, depois de Fernando Medina ter anunciado o seu despedimento por justa causa, no seguimento da indemnização paga a Alexandra Reis. E sai com as contas de 2022 no verde, com 65,6 milhões de euros de lucro. Luís Rodrigues, que lidera a SATA, irá assumir a gestão da empresa em abril. Vai herdar contas mais sãs, mas também deve esperar ainda mais pressão dos trabalhadores para acabar com os cortes salariais em vigor na transportadora.

"Os resultados da TAP são positivos , mas são acompanhados de um sabor agridoce, pois sabemos que grande parte destes resultados são uma consequência dos cortes salariais impostos aos trabalhadores do Grupo TAP pelo Plano de Restruturação que ainda se encontra em vigor", sublinha ao DN/Dinheiro Vivo Ricardo Penarroias, presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civi (SNPVAC).

O representante dos tripulantes da TAP diz que "está na hora da gestão e do acionista terminar com um Plano de Restruturação e com um ATE [acordo de empresa] que já não faz qualquer sentido, pois os resultados hoje [ontem]apresentados antecipam em mais de dois anos o que seria expectável alcançar apenas em 2025!" Penarroias defende "que os trabalhadores não podem continuar a ser os únicos sacrificados e a ser prejudicados nas suas vidas profissionais e familiares, quando a TAP já apresenta uma saúde económico-financeira e operacional muito saudável. Ou será que querem ir para além do Plano de Restruturação? ", questiona o SNPVAC.

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil (SINTAC) defende o mesmo. "Com 66 milhões de euros de resultados, mais do que nunca defendemos o fim destes cortes", afirmou Pedro Figueiredo à agência Lusa. O dirigente sindical recordou estarem em vigor "cortes muito agressivos até 2025", e pede que "sejam efetivamente abolidos ou negociados o mais brevemente possível".E adianta que vai "ver com os outros sindicatos - que, com certeza, estarão de acordo - que estes cortes tenham um fim o mais rapidamente possível".
Já o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (SITAVA) diz que "a TAP, com a opção pelos lucros antecipados, abriu guerra aos trabalhadores".

O resultado líquido positivo de 65,6 milhões de euros anunciado ontem compara com o prejuízo histórico de 1599,1 milhões em 2021. É a primeira vez em cinco anos que as contas da companhia são positivas - os últimos lucros datam de 2017.

A TAP antecipou, desta forma, em dois anos as metas definidas no plano de reestruturação da Comissão Europeia, que previa que a empresa só regressasse aos lucros em 2025, apontando um prejuízo de 54 milhões de euros para 2022. "Durante o quarto trimestre de 2022 a TAP foi capaz de gerar as receitas trimestrais mais elevadas da sua história e uma rentabilidade recorde, apesar dos contínuos desafios operacionais. Durante o primeiro ano completo do Plano de Reestruturação, a TAP gerou um lucro operacional que é um recorde histórico para a empresa. A TAP gerou também um lucro líquido positivo muito forte, tendo em conta o seu nível de alavancagem", sublinha a CEO em comunicado.

A companhia registou receitas históricas de 3485 milhões de euros, um aumento de 151%, sendo que a maior fatia veio das receitas dos passageiros, que subiram 187,9%, para 3072,4 milhões. Contas feitas, no ano passado a TAP transportou mais clientes, totalizando 13,8 milhões de passageiros (+136,1%), atingindo 81% dos níveis de 2019.

No campo dos custos, as despesas com pessoal foram as que menos pesaram na fatura da TAP, tendo apenas subido 11,6%.
O ministério das Infraestruturas, que tutela a TAP, em comunicado, sublinhou que estes resultados são "passo sólido nas perspetivas para o futuro da empresa e para o país".
Com C.A.R

Rute Simão é jornalista do Dinheiro Vivo