Dinheiro
22 outubro 2021 às 12h02

Floyd, 5G-Auto e City Catalyst. As soluções da Altice Labs para uma mobilidade inteligente

Paulo Pereira, diretor de estratégia de inovação e tecnologia da Altice Labs, apresentou hoje três projetos em desenvolvimento no laboratório aplicado do grupo Altice.

Susana Torrão

A chegada do 5G representa um salto brutal na capacidade das redes que vai traduzir-se numa maior velocidade dos tempos de resposta dos sistemas utilizados na mobilidade inteligente. Esta é a convicção de Paulo Pereira, diretor de estratégia de inovação e tecnologia da Altice Labs, que apresentou hoje três projetos em desenvolvimento no laboratório aplicado do grupo Altice. Com recurso ao 5G, os projetos em curso - Floyd, 5G-Auto e City Catalyst - prometem ganhos de eficiência na circulação dentro e fora das cidades. Assim haja rede que o permita.

Dos três projetos, aquele que apresenta maiores probabilidades de produtização mais rápida (em cerca de cinco anos sem contudo ter caráter massificado) é o Floyd, que explora a comunicação entre veículos. Esta solução está a ser desenvolvida para poder ser usada em cenários de platooning, com a circulação de comboios de veículos em auto-estradas. Com recurso ao 5G e a algoritmos que podem ou não ter inteligência artificial, o que a diferencia é o recurso à proximidade computacional, que dá uma maior rapidez na tomada de decisão, já que a informação captada pelo sistema não é canalizada para uma cloud. "O que se pretende é um consumo razoável, muito otimizado, com tempos de viagem muito otimizados", explicou o responsável da Altice Labs durante a apresentação "O impacto do 5G na mobilidade". "Na presença de uma subida, a utilização de algoritmos permite, por exemplo, decidir quando é necessário reduzir a velocidade, recorrendo à informação comunicada pelos veículos da frente. E esta é uma decisão que tem de ser tomada atempadamente para que o comboio de veículos tenha o trabalho esperado", referiu Paulo Pereira.

Tal como os restantes projetos desenvolvidos pela Altice Labs, as três soluções hoje apresentadas são fruto de um trabalho de co-inovação que, no caso do Floyd, envolve parceiros da área da indústria, da investigação científica e PME. "É fundamental criar este ecossistema", referiu Paulo Pereira, para quem só com esta combinação de esforços é possível, no futuro, avançar para a produtização e lançamento no mercado deste tipo de soluções.

Questionado sobre a real possibilidade de comercialização de uma solução como o Floyd, quando a 5G ainda não é uma realidade e não há certezas sobre a universalidade de acesso a nível do território, o responsável da Altice Labs admitiu que, embora sendo um "business case positivo" este é o tipo de solução que só ganhará dimensão "quando a indústria da mobilidade puder tirar partido destas tecnologias".

Em simultâneo, a Altice Labs está a desenvolver em coinovação com uma PME, o projeto 5G-Auto que, ao criar cenários de colaboração com o meio envolvente, funciona como um complemento ao projeto Floyd. Neste caso, a solução integra informação enviada a partir de entidades fixas, por exemplo edifícios localizados na proximidade de uma estrada. "Vamos querer perceber quando determinado ponto do trajeto vai ter um congestionamento de trânsito, se existe gelo no piso ou outro tipo de problemas", referiu o responsável da Altice Labs. Além de soluções de sensorização, destinadas a recolher a informação, o projeto implica também o hardware destinado aos veículos, que permite processar a informação dada não apenas pelos veículos como pelas entidades fixas, e que está a ser desenvolvida pela PME parceira.

Até que ponto é possível ao cidadão comum sentir-se em segurança com este tipo de mobilidade cada vez mais autónoma? Em resposta à questão, lançada por Pedro Cruz, diretor-executivo da TSF e moderador da apresentação, Paulo Pereira sublinhou o trabalho realizado ao nível da redundância e tolerância à falha. "Estamos ainda numa fase juvenil do projeto e há um longo percurso a percorrer até à massificação e democratização destas soluções. E temos de perceber que não é diferente do que acontece nos setores da aviação ou da ferrovia, onde há imensa automação. Nas telecomunicações lidamos com a tolerância à falha há muito tempo", assumiu. Recordado pelo moderador das falhas do SIRESP e das trágicas consequências que acarretou nos fogos de 2017, Paulo Pereira foi taxativo: "Quando não se investe o que é necessário para que haja redundância, tolerância à falha e atualização dos equipamentos é isto que acontece".

"As cidades apresentam o maior número de desafios possível para a mobilidade inteligente", assumiu Paulo Pereira. Com diferentes tipos de trânsito, semáforos e peões, o nível de imprevisibilidade é grande. É neste ambiente urbano que está centrado o último projeto apresentado na Casa das Histórias, o City Catlyst, que, dado o caráter mais abrangente, integra um muito maior número de parceiros, entre empresas tecnológicas, empresas municipais e o sistema científico nacional.

O projeto implica a recolha, o processamento e a comunicação de informação entre os vários atores, bem como a posterior tomada de decisões. "O comportamento humano é o grande desafio", assumiu Paulo Pereira. "É aqui que entra a inteligência artificial, para prever o comportamento de um peão que se desloca no passeio e que, a qualquer momento pode virar em direção à estrada", exemplificou. O projeto está a ser testado em Aveiro, onde está sediada a Altice Labs, com recurso a uma rede de 5G experimental.

O salto do desenvolvimento de projetos para a comercialização de produtos não é assegurado à partida. E, mesmo quando surgem produtos - Paulo Pereira antecipa que em breve a Altice Labs esteja em condições para produzir as road side units, os equipamentos que asseguram a comunicação entre os veículos e a rede de 5G - tal pode não ter impacto no mercado. "Ter equipamentos é diferente de ter soluções. É preciso ter a rede e criar paulatinamente condições de uso que sejam atrativas para que os parceiros que mais beneficiam com ela adiram à tecnologia", alertou.