Dinheiro
17 outubro 2021 às 10h36

Bicicletas em Lisboa cresceram 25% com a pandemia

Quase 30% das viagens antes feitas com o automóvel em Lisboa já foram substituídas pelas bicicletas GIRA, segundo indicadores que constam no guia do município.

Kátia Catulo

Os dados revelados no guia "Como pedala Lisboa" mostram que 29% das viagens antes feitas com o automóvel já foram substituídas pelas bicicletas GIRA, poupando mais de 100 toneladas de CO2.

O eixo central de Lisboa fervilha de trânsito todos os dias ao início da manhã ou ao fim da tarde. Os carros continuam a dominar a maioria das estradas, mas, com a pandemia, a micromobilidade cresceu 25% na cidade. Agora, à hora do almoço, são mais de 500 bicicletas a passar pelas ciclovias que fazem a ligação ao Marquês de Pombal, sobretudo na da Avenida da República. A contagem, monitorizada pelos investigadores do Instituto Superior Técnico (IST), demonstra também que, pelo menos dois mil ciclistas, circulam por dia na Av. Duque D"Ávila, representando um crescimento de 820% face aos valores de 2016. O mês de março, aliás, acumulou naquela artéria um recorde inédito de 60 mil bicicletas.

Este é o retrato que surge no guia digital "Como_Pedala_Lisboa", que a Câmara Municipal lançou não só para mostrar a evolução da micromobilidade na capital, mas também para traçar a meta das próximas décadas. Até 2030, a autarquia ambiciona reduzir o uso do automóvel privado em 28% e subir para 66% a utilização de transportes públicos, de bicicletas e de caminhada.

Ainda haverá quem fique intimidado pela tipologia geográfica de Lisboa, mas o mito da cidade das sete colinas acaba por se esfumar quando se conclui que 73% das ruas são planas ou com declives inferiores a 5%. E o pedal elétrico, mais do que o esforço físico, é o que faz a maior parte do trabalho. O crescimento da rede ciclável e do sistema público de bicicletas GIRA têm contribuído para popularizar os modos suaves de mobilidade, defende a autarquia. De 2019 para 2020, a micromobilidade cresceu 25% na cidade e 140% com a construção da ciclovia pop-up na Av. Almirante Reis em junho de 2020.

O sistema de bicicletas GIRA - destaca a autarquia - ao ser alargado em 2017 do Parque das Nações para o resto da cidade representou, logo nesse ano, mais de um terço (34%) do total de bicicletas observadas nas contagens do Instituto Superior Técnico. Traduzido em viagens, essa percentagem representa cerca de 3,2 milhões de deslocações feitas desde 2017. Atualmente são mais de 24 mil os utilizadores que usam o sistema todos os dias, a maioria jovens e adultos entre os 20 e os 35 anos.

E o que representa essa mudança para a sustentabilidade ambiental de Lisboa? Desde logo, salienta o município, 29% das viagens feitas com as bicicletas GIRA substituíram as deslocações que antes eram feitas pelo automóvel. Os números retirados do estudo feito em 2018 pelo Instituto Superior Técnico para a EMEL, significam mais de 100 toneladas de CO2 evitadas, com cada utilizador a fazer em média 13 viagens por dia com um tempo médio total de 15 minutos - metade das deslocações dura nove minutos ou menos.

Alargando agora a população de ciclistas que recorre a bicicletas públicas, privadas e particulares, as estatísticas reveladas pelo município mostram que as mulheres ainda estão em minoria, mas a sua adesão à micromobilidade tem vindo a crescer. Um em cada quatro ciclistas em Lisboa é atualmente do sexo feminino. Ou seja, a percentagem aumentou de 17,7%, em 2017, para 26,2% no ano passado. Elas estão sobretudo nas ciclovias e evitam pedalar na estrada. Eles e elas, aliás, praticamente não utilizam o passeio quando têm ciclovias à sua disposição.

O que está também em franco crescimento são as bicicletas elétricas particulares a circular na cidade - de 5%, em 2018, aumentaram para 17,5% no ano passado, chegando a representar 26% em algumas das artérias. Boa parte da explicação para este aumento estará, segundo a autarquia, na adesão ao Programa de Apoio à Aquisição de Bicicletas (PAAB), lançado pelo município em 2020. Criado em contexto de pandemia, a iniciativa estende-se até ao fim deste ano e destina-se a estudantes, residentes ou trabalhadores em Lisboa que apresentem a sua candidatura online.

Foram já investidos cerca de 600 mil euros para comparticipar a compra de 1136 bicicletas elétricas, além de outras 2157 bicicletas não elétricas e 11 de carga. Num inquérito feito junto os beneficiários, a câmara municipal concluiu que 62% dos seus utilizadores passaram a recorrer à bicicleta nas suas deslocações pela cidade e que 93% usa este transporte para a escola ou trabalho.

Os dados revelaram também que há ainda 14% dos 1270 inquiridos a usar a bicicleta para pequenos serviços como ir às compras, ao médico ou aos correios. De destacar igualmente que 41% dos beneficiários do PAAB não andava de bicicleta antes da pandemia. O que também aumentou foi a proporção de bicicletas com cadeiras de criança ou atrelados, com as subidas a representarem mais do dobro entre 2017 e 2020 - são agora 6,2% dos ciclistas monitorizados.

As bicicletas de carga são projetadas para transportar pessoas ou cargas com diferentes formatos, preços e com capacidade a variar entre os 80 kg e 100 kg destinadas ao transporte de crianças, animais de estimação, compras, apoios às atividades de logística urbana ou venda ambulante. A solução tem sido cada vez mais adotada na Europa, salienta o município, recordando estudos feitos em que se mostra que 80% de todas as viagens de compras ou de lazer nas cidades podem ser feitas com as bicicletas de carga a substituírem o segundo carro familiar.

Mas a micromobilidade também inclui as trotinetas, que se estrearam em Lisboa no final de 2018. Chegaram a ser 11 empresas diferentes a operar na cidade, com o pico de oferta a atingir cerca de sete mil veículos, em maio de 2019. A convivência com outros modos de transportes não foi pacífica no início, reconhece a câmara municipal, que diz ter encontrado "um equilíbrio" através de campanhas de sensibilização e a criação de lugares de paragem autorizados.

No final do ano passado havia quatro operadores com pouco mais de dois mil veículos partilhados, mas, desde outubro de 2018, quase quatro milhões de viagens foram feitas com a trotinete, o suficiente para percorrer um total de 7,9 milhões de quilómetros na cidade. Nem todas as trotinetas, no entanto, são partilhadas. Os dados da contagem do IST apontam para que 40% das trotinetas em circulação nas ruas da capital pertencem aos próprios utilizadores, a maioria adultos do sexo masculino - apenas 6% das crianças e adolescentes usa este modo de transporte.