Desportos
18 setembro 2019 às 09h35

Baby Félix vs. Super Ronaldo. O duelo português que promete aquecer a Champions

João Félix tinha três anos quando Ronaldo se estreou na Champions e nesta quarta-feira vão estar pela primeira vez frente a frente em jogos oficiais. Pedro Bouças fala ao DN do duelo entre os dois jogadores portugueses.

Nuno Fernandes

Esta quarta-feira é dia de João Félix vs. Cristiano Ronaldo. Atlético de Madrid e Juventus defrontam-se às 20.00, no Wanda Metropolitano, em jogo da 1.ª jornada do Grupo D da Liga dos Campeões. Frente a frente o jogador mais caro deste defeso (126 milhões de euros) e o craque que tem dividido com Lionel Messi a coroa de melhor do mundo na última década.

Quando Cristiano Ronaldo, 34 anos, se estreou na Champions, no dia 1 de outubro de 2003, num jogo entre o Manchester United e o Estugarda, João Félix tinha apenas três anos e ainda vivia com os pais em Viseu. E estava longe de imaginar que um dia ia atingir o patamar atual, jogar ao lado de CR7 na seleção nacional e ser alvo de comparações ao capitão português.

"Ronaldo é naturalmente o grande candidato a figura maior da Juventus, pois é absurda a sua capacidade para em zona de finalização ler trajetórias, antecipar-se, adivinhando pontos de queda e espaços livres para posteriormente finalizar com mestria. Num jogo de pouca criação, maior dependência haverá de um jogador com tais características", analisou ao DN Pedro Bouças. Para o treinador e autor do blogue Lateral Esquerdo, "João Félix não tem a mesma relação com o resultado, mas pode ter com o jogo, sobretudo se partindo da posição de avançado não precisar de despender tanta energia em tarefas defensivas". "E aí, a forma como se mostra em zonas de criação para posteriormente alimentar Diego Costa, poderá ter um impacto tremendo no jogo do Atlético", acrescentou.

Para Pedro Bouças, a partida desta noite será "um jogo de enorme equilíbrio entre dois candidatos à vitória na Liga dos Campeões, embora o Atlético seja um outsider". "A Juventus chega a este encontro ainda à procura de novas rotinas e de um modelo bem implementado, uma vez que Maurizio Sarri tem paulatinamente abandonado o seu sistema habitual numa tentativa de integrar os melhores jogadores da Juventus no mesmo onze, ao contrário do Atlético que chega com um trabalho de grande qualidade de Simeone, e consolidado por vários anos, tendo apenas substituído algumas individualidades", perspetivou. "É expectável um jogo de pouquíssimos espaços, tanta é a qualidade do Atlético no controlo dos mesmos quando não tem a posse, e onde a individualidade e o detalhe possam fazer a diferença no momento ofensivo", acrescentou.

Dois golos à Juve e as comparações exageradas

João Félix, 19 anos, vai fazer apenas o seu segundo jogo na fase de grupos da Liga dos Campeões - a estreia foi na época passada, pelo Benfica, numa partida frente ao AEK Atenas, em que o destino dos encarnados então treinados por Rui Vitória já estava traçado, com a queda para a Liga Europa.

Ronaldo, 34, já tem 162 jogos na competição de clubes mais importante, é o melhor marcador de sempre da história da competição (126 golos) e já levantou a orelhona em cinco ocasiões - 2007-08 pelo Manchester United e em 2013-14, 2015-16, 2016-17 e 2017-18 pelo Real Madrid.

Este vai ser o o primeiro confronto oficial entre os dois jogadores. Mas Félix e Ronaldo defrontaram-se em agosto, em Estocolmo, na Suécia, num jogo particular inserido no torneio International Champions Cup. Uma tarde de sonho para o jovem ex-Benfica, que apontou os dois golos da vitória do Atlético de Madrid sobre a Juventus, por 2-1, e logo fez as manchetes dos dois jornais desportivos de Madrid (AS e Marca).

Dada a projeção, o mediatismo e os valores envolvidos na transferência, logo começaram as comparações exageradas com Cristiano Ronaldo. Algo que o próprio João Félix fez questão de não alimentar logo no dia em que foi apresentado como reforço do do At. Madrid: "Todos sabemos que o Cristiano é um grande jogador. Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo, talvez o melhor de sempre. Quando estivemos na seleção ele ia falando sobre Madrid, disse que gostou muito. Estou aqui para fazer a minha história, para ser lembrado como o João Félix. Claro que são boas as comparações, mas o Cristiano é o Cristiano e eu sou eu."

Também esta semana, Bruno Lage, grande responsável pela explosão de João Félix no Benfica, veio criticar quem faz esse tipo de comparações, numa entrevista à CNN: "São injustas essas comparações entre alguém que está a começar a sua carreira e um dos melhores jogadores de todos os tempos como Cristiano Ronaldo. Gostaria de ver o João a ser verdadeiro com ele próprio e a manter os atributos que o distinguem dos demais. Ele não se deve comparar com Ronaldo."

Certo é que Ronaldo já elogiou publicamente o adversário de hoje e garantiu que acredita que João Félix vai ter muito sucesso na exigente liga espanhola (em quatro jornadas no campeonato marcou um golo, fez uma assistência e provocou um penálti). "Acredito muito [que vai triunfar em Espanha]. Acho que é um grande jogador, tem muito potencial, tem muito para evoluir ainda - tanto ele como o próprio Bernardo [Silva, do Manchester City], que já está mais maduro nesse aspeto -, não tenho dúvidas de que eles vão triunfar", afirmou numa recente entrevista à TVI.

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Depois de ter tocado o céu, João Félix desceu à terra no último fim de semana, ao ser substituído aos 57 minutos na derrota do Atlético em casa da Real Sociedad, por 2-0. E no final ouviu um recado do treinador Diego Simeone: "Há jovens que têm de ganhar mais peso na equipa."

Ronaldo tem pé quente com o Atlético

Cristiano Ronaldo reencontra esta quarta-feira o Atlético de Madrid, uma equipa com a qual se costuma dar muito bem e que está mesmo entre as maiores vítimas do avançado português - já sofreu 25 golos de CR7, 12 na liga espanhola, sete na Liga dos Campeões e seis na Taça do Rei. Aliás, a última vez que Ronaldo defrontou os colchoneros, na época passada, nos quartos-de-final da Champions, apontou um hat-trick no triunfo por 3-0. E não foi a primeira vez, pois já tinha acontecido noutras três ocasiões (em março de 2012, em novembro de 2016 e em maio de 2017).

Curiosamente, nem Atlético nem Juventus chegam a este jogo como líderes dos respetivos campeonatos. Os italianos treinados por Maurizio Sarri estão no segundo lugar do campeonato, com menos dois pontos do que o Inter (empataram sem golos no último fim de semana com a Fiorentina e colocaram um ponto final numa série de 552 dias consecutivos na liderança da Serie A); os espanhóis dirigidos por Diego Simeone são também vice-líderes, a um ponto do Sevilha, após a derrota recente em casa da Real Sociedad (2-0).

Terça-feira, na conferência de imprensa de lançamento do jogo, Diego Simeone, treinador do At. Madrid, desfez-se em elogios a Cristiano Ronaldo. "É difícil preparar algo contra um futebolista como ele. É um animal de golo. Tem registos tremendos e em qualquer situação perto da área cria perigo. Não é fácil de controlar, tem tudo", referiu o técnico argentino.

Do outro lado, Maurizio Sarri também se pronunciou sobre João Félix. "O Atlético tem uma grande equipa. Perdeu um jogador incrível [Griezmann], mas contrataram outro igualmente bom [João Félix]", disse o treinador italiano, destacando, contudo, Saúl, como um dos jogadores mais fortes da Europa na sua posição.