Desportos
02 outubro 2019 às 12h02

Allyson Felix bate recorde de Bolt: 12 medalhas de ouro em campeonatos do mundo

A corredora norte-americana bateu o recorde que pertencia ao jamaicano e fê-lo 10 meses depois de ter sido mãe e de ter travado uma luta pelos direitos das atletas que são mães.

Maria João Caetano

Aos 33 anos, a corredora de velocidade norte-americana Allyson Felix tem 12 medalhas de ouro em campeonatos mundiais de atletismo. Felix conquistou a sua 12ª medalha esta terça-feira, correndo as estafetas de 4x400 metros com a equipa dos Estados Unidos nos Mundiais de Doha.

O anterior recorde, do jamaicano Usain Bolt, era de 11 medalhas de ouro em campeonatos do mundo de atletismo e mantinha-se desde 2013.

A vitória tem um gosto especial para Allyson Felix: não só porque é uma mulher a bater o recorde de um homem mas também porque acontece 10 meses depois de a atleta ter sido mãe. "É tão especial, ter a minha a filha a assistir significa tudo para para mim. Tem sido um ano de loucos", comentou, feliz, no final da corrida. "Tudo o que passei ao longo deste ano... é muito maior do que eu."

Allyson Felix regressou à competição em julho, oito meses depois de um parto bastante complicado: devido ao estado de pré-eclampsia (tensão arterial alta), mãe e bebé sofriam risco de vida e os médicos decidiram fazer uma cesariana de urgência às 32 semanas de gravidez. "É diferente, é definitivamente mais desafiante. Penso que qualquer nova mãe quando volta ao trabalho sente-se exausta e tem de conciliar com a família. Para mim não é diferente", dizia, em julho, à revista People.

Desde então, Felix tem lutado pelos direitos de todas as atletas femininas que, geralmente, não recebem qualquer pagamento ou recebem menos durante ou após a gravidez. Allyson Felix foi uma das atletas que se insurgiu contra a Nike, levando a que a marca mudasse a sua política de patrocínios e deixasse de discriminar as mulheres que são mães.

Num artigo publicado em maio no The New York Times, Felix explicava: "Decidi começar uma família em 2018, sabendo que a gravidez pode ser 'o beijo da morte' na minha área. Foi terrível para mim porque estava a negociar o meu contrato com a Nike, que tinha terminado em dezembro de 2017". "Fui pressionada para voltar a estar em forma o mais rapidamente possível depois do nascimento da minha filha, em novembro de 2018, apesar de ter passado por uma cesariana de emergência às 32 semanas, devido ao sério risco de a pré-eclampsia ameaçar a minha vida e da minha bebé. No entanto, as negociações não estavam a correr bem. Apesar de todas as minhas vitórias, a Nike queria pagar-me menos 70% do que antes. Se for isso que eles pensam que eu valho agora, eu aceito. O que eu não posso aceitar é este persistente status quo da maternidade. Pedi à Nike para garantir, contratualmente, que não seria penalizada se os meus resultados não fossem os melhores nos primeiros meses após o parto. Queria estabelecer um novo padrão. Se eu, uma das atletas da Nike mais conhecidas, não conseguisse assegurar estas proteções, quem conseguiria?"

A batalha valeu a pena. Em maio, a Nike anunciou que não aplicaria reduções de pagamento às atletas grávidas por um período de 12 meses. Depois, em setembro, a empresa alargou esse período para 18 meses - oito meses antes da data prevista do parto. No entanto, a medida não foi suficiente para manter Allyson Felix que, entretanto, assinou um contrato com a Athleta.

No mesmo dia, em Doha, a jamaicana Fraser-Pryce ganhou a medalha de ouro dos 100 metros e festejou com o seu filho de dois anos: "O que ela fez foi incrível", comentou Allyson Felix. "Ela também teve um caminho difícil até aqui. E encoraja-me imenso. O seu primeiro ano não foi o melhor, mas no segundo ano está melhor do que nunca. As mulheres são fantásticas e ela está a abrir-nos caminho."

Fraser-Pryce contou em várias entrevistas como se sentiu devastada quando descobriu que estava grávida porque temeu pelo fim da sua carreira. Várias pessoas disseram-lhe que estava na hora de desistir, mas ela quis continuar a correr. E a ganhar.