"Há uma hora o Paulo disse-me que estava a caminho de um abrigo"
Numa publicação no Instagram, o treinador português diz estar em Kiev e acredita que "a paz vai prevalecer"
"A última vez que falei com o Paulo [Fonseca] foi há cerca de uma hora e ele disse-me que estava a caminho de um abrigo", disse ao DN o empresário do ex-técnico do Shakhtar, Marco Abreu. O abrigo é no hotel do Shakhtar, equipa de Donetsk que se mudou para Kiev para desde que eclodiu o conflito na região de Donbass, em 2017.
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O empresário do técnico não sabe como a situação de evacuação vai avançar. As indicações da Embaixada Portuguesa, para uma retirada "através das fronteiras terrestres com a União Europeia, preferencialmente na direção da Polónia e da Roménia", parecem impossíveis de cumprir sem um corredor diplomático ou uma trégua para permitir saída de estrangeiros e ucranianos com dupla nacionalidade, uma vez que é uma viagem de mais de 400 km.
Segundo a Embaixada liderada por António Vasco Alves Machado quem quiser seguir estas coordenadas que se faça acompanhar de "água, alimentação, agasalhos e combustível de reserva caso se desloque em viatura própria", sendo de todo importante que os cidadãos se encontrem na posse dos "documentos de identificação e viagem". Mas, segundo os relatos recebidos por Marco Abreu, com o recolher obrigatório decretado pelo governo ucraniano, os civis não podem circular à noite e o combustível já foi confiscado em muitas bombas, para garantir o abstecimento dos veículos militares.
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Paulo Fonseca assumiu esta quinta-feira estar "em situação muito complicada" e formulou o desejo de que "a paz vai prevalecer". "Estou em Kiev, eu e a minha família, em situação muito complicada em momento de guerra, que, para mim, é obviamente inaceitável. Acredito que a paz vai prevalecer e temos de continuar fortes", disse, na rede social Instagram.
Casado com uma ucraniana, o antigo técnico do Shakhtar Donetsk ia viajar esta manhã, mas está impedido de o fazer devido à crise de segurança que se vive no país, ficando retido no hotel, onde, curiosamente, está a sua antiga equipa.
"Tenho recebido imensos telefonemas, imensas mensagens, de Portugal, Itália e todo o mundo. Quero desta forma agradecer a todos a preocupação que têm revelado por mim e a minha família. Espero ver-vos em breve e um abraço a todos", completou.
Horas antes, em declarações ao Jornal de Notícias, revelou o desejo de tentar fugir para Lviv, perto da fronteira com a Polónia, contudo, não sabia como concretizar o plano, dadas as enormes filas de automóveis e a falta de combustível nos postos de abastecimento.
"Só resta rezar para que uma bomba não caía junto de nós. Sinceramente, não sei como vou sair daqui", desabafou.
Atualmente, Paulo Fonseca, que passou ainda por Paços de Ferreira, FC Porto, Sporting de Braga e Roma, não está a treinar qualquer equipa.
A Rússia lançou na madrugada de hoje uma ofensiva militar em território da Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento de alvos em várias cidades, que as autoridades ucranianas dizem ter provocado dezenas de mortos nas primeiras horas.
O presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ataque responde a um "pedido de ajuda das autoridades das repúblicas de Donetsk e Lugansk", no leste da Ucrânia, cuja independência reconheceu na segunda-feira, e visa a "desmilitarização e desnazificação" do país vizinho.
O ataque foi de imediato condenado pela generalidade da comunidade internacional e motivou reuniões de emergência de vários governos, incluindo o português, e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), União Europeia (UE) e Conselho de Segurança da ONU.