Ténis ensaia novos formatos para encurtar as partidas

Supertiebreaks, bolas mais largas ou pontos de ouro são algumas das experiências testadas para assegurar o futuro mediático da modalidade e prolongar a carreira dos tenistas

Em 2010, John Isner e Nicolas Mahut prolongaram a sua luta por um lugar na segunda ronda do torneio de Wimbledon ao longo de 11 horas e cinco minutos (distribuídas por três dias), naquela que ficou para a história como a maior odisseia numa partida de ténis - resolvida apenas aos 70-68 do quinto set. Outras batalhas épicas ganharam direito a eternizar-se na memória coletiva do ténis, como a final entre Novak Djokovic e Rafa Nadal no Open da Austrália de 2012 (5.53 horas) ou o duelo entre John McEnroe e Mats Wilander numa eliminatória da Taça Davis em 1982 (6.22 horas).

Apesar de gravadas como páginas inesquecíveis da modalidade, a verdade é que a cada vez mais frequente proliferação de longas partidas no ténis levanta preocupações várias, que se estendem da saúde física dos atletas (o calendário é cada vez mais exigente) à capacidade para manter audiências mediáticas, numa sociedade que privilegia o consumo rápido. Por isso, a Federação Internacional de Ténis e os principais circuitos profissionais (ATP e WTA) têm intensificado os testes de regras alternativas que permitam acelerar as partidas e encurtar o tempo de jogo.

Entre os novos cenários testados estão regras como a introdução de supertiebreaks nos sets decisivos, bolas mais largas e pontos de ouro em vez das vantagens que são ativadas de cada vez que um jogo de serviço chega igualado a 40-40. "Uma das coisas que contribuem para a beleza deste desporto é que não sabes se vais estar em campo 45 minutos ou três horas. Mas compreendo que isso possa ser complicado para as televisões em termos de programação. No futebol, e noutras modalidades, sabe-se exatamente quanto tempo vai durar um jogo", concede o suíço Roger Federer, dono de uma das mais longas e bem-sucedidas carreiras do ténis mundial, em declarações reproduzidas pelo jornal espanhol El Mundo.

Federer, que em janeiro último aumentou para 18 o seu recorde de títulos do grand slam ao vencer o Open da Austrália, aos 35 anos, concorda com a necessidade de se testarem novas fórmulas que beneficiem a gestão física dos jogadores ao longo da carreira.

"Se um atleta sabe de antemão que a sua partida vai durar 45 minutos, ou uma hora, pode ir mentalmente mais bem preparado para o court. Além disso, não tem de levar sete T-shirts e pode encordar menos raquetes. Estaria tudo mais controlado e ajudaria os tenistas a manterem-se mais tempo no ativo", exemplifica o suíço.

Experiências em curso

A filosofia de pontuação enraizada no ténis baseia-se no princípio de ganhar por uma margem de dois (pontos ou jogos). Daí ser preciso ativar o sistema de vantagens quando um jogo chega aos 40-40 ou recorrer a um tiebreak quando um set está igualado a 6-6.

Se isso permite, por um lado, prolongar o clímax da disputa, também levanta cada vez mais reservas face às modernas exigências mediáticas. Por isso, a ITF, a ATP e a WTA têm levado a cabo algumas experiências alternativas. Uma delas é o ponto de ouro, em detrimento das vantagens, já instituído na vertente de pares da maioria dos torneios (à exceção dos do grand slam, onde a regra é aplicada só em pares mistos). Outra alteração posta em prática nas competições de pares é a do supertiebreak, desempate que substitui o terceiro set e termina com a primeira equipa a chegar aos dez pontos... desde que haja dois de diferença.

Estatísticas recolhidas pela ATP revelam que a duração média das partidas disputadas sob as novas regras baixou 16 minutos. "Há pontos positivos e negativos, mas penso que, em termos gerais, é excitante para o jogo", diz o estado-unidense Mike Bryan, um dos principais especialistas de pares.

Entre outros formatos testados está o do Tie Break Tens, competição que terá a sua terceira edição neste ano, em maio, em Madrid. A prova consiste apenas em tiebreaks de dez pontos e joga-se num só dia, desde os quartos-de-final até à final.

Já a Taça Hopman, competição de pares mistos por países, introduziu neste ano o formato Fast4, no qual não existe let no serviço, não há vantagens também, só são precisos quatro jogos para ganhar um set e em caso de 3-3 disputa-se um tiebreak a cinco pontos.

Para outro veterano, o espanhol Feliciano Lopez (31.º do mundo), "é a prova de que o ténis também pode ser muito interessante jogado de outra maneira". A revolução está em marcha?

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