Serenata dos Lobos na chuva do Dubai

Portugal consegue qualificação para disputar o mais importante troféu no Dubai. Adversário inicial será de montra: a Nova Zelândia.

Graças a duas vitórias totalmente inesperadas na 2.ª etapa do circuito mundial de sevens - a primeira de sempre sobre a África do Sul e a segunda no circuito frente à Inglaterra - Portugal qualificou-se para amanhã discutir a Cup, o mais importante troféu em disputa no Dubai, onde o adversário inicial será de monta: a Nova Zelândia de Gordon Tietjens.

Depois da infeliz participação no torneio inaugural, disputado em Gold Coast (onde só averbou derrotas nos cinco jogos realizados), a seleção nacional surgiu nos ricos Emirados Árabes - e naquele que era considerado o "grupo da morte" - de "cara lavada", sem complexos e com uma atitude completamente diferente da mostrada na etapa australiana. E a essa mudança de comportamento não é estranho ao facto de alinhar, entre os 12 convocados, com quatro jogadores de apenas 18 anos sendo três deles estreantes absolutos (Nuno Sousa Guedes, José Vareta e Pedro Ávila).

Sob chuva inclemente (no deserto também chove?) que tornou as condições de terreno e bola muito difíceis, e impróprias para os movimentados sevens, a equipa de Frederico Sousa - que jogou sempre com o mesmo sete titular nas três partidas - arrancou contra Samoa marcando ensaios (tantos como os conseguidos nos cinco jogos em Gold Coast!) nas três vezes que penetrou na área de 22 adversária, por intermédio de José Vareta (que personalidade e classe tem o jovem de Direito que no mês passado ainda tinha 17 anos!), o predestinado Francisco Vieira de Almeida e o genial Pedro Leal. Todos em jogadas muito bem construídas.

O pior foi a receção de bolas na reposição de jogo, que os Lobos defenderam de forma desastrada, pois dali surgiriam os quatro ensaios samoanos (com hat-trick de Lio Lolo), o último dos quais no derradeiro lance de jogo, quando o empate a 19 pontos foi transformado numa derrota por 24-19.

Contra a África do Sul (até hoje 17 duelos e sempre a perder), Portugal voltou a surgir confiante no ataque e pressionante a defender - e até os pontapés altos passaram a ser agarrados! - e com uma grande 1.ª parte, vencia ao intervalo por 7-0 (ensaio de Pedro Leal). No 2.º tempo os poderosos tanques sul-africanos dispararam de todos os lados e, com dois ensaios, viraram para 10-7.

Mas Frederico Sousa reagiu bem e dois jogadores que mandou para o relvado construiriam o ensaio do triunfo já após o toque da sirene para acabar o encontro. Pedro Ávila (CDUP) fugiu pela linha, levou dois adversários com ele e com um excelente passe nas costas libertou Adérito Esteves que só teve que voar baixinho e mergulhar para o ensaio (12-10) que fazia história: a partir daquele momento, só Fiji e Nova Zelândia nunca perderam com Portugal em sevens!

A derradeira partida, frente a Inglaterra, voltou a ser emocionante... e dramática. Ensaios de Gonçalo Foro e do capitão Frederico Oliveira - ele que fizera os dois do único triunfo até agora frente aos ingleses, há dois anos, também no Dubai - numa 1.ª parte de grande nível, onde Portugal não saiu da área de 22 contrária, pressionando e metendo o adversário numa autêntica camisa de forças do qual só sairia no último lance para marcar por James Rodwell, para 12-7 ao intervalo.

No recomeço Duarte Moreira recebeu a bola roubada por Vieira de Almeida e sprintou 50 metros fugindo a Dan Norton (um dos jogadores mais rápidos do circuito...) para 19-7. A Inglaterra sentiu a desvantagem, partiu para cima de Portugal e, com dois ensaios, virou para 21-19.

Aí foi a vez do público que resistiu à chuva no espetacular The Sevens ver a reação de uma equipa com E maiúsculo. Numa bela arrancada, Diogo Miranda esteve perto de marcar, tendo sido impedido por um agarrão que só o auxiliar do árbitro viu - mas chamou o seu chefe e não omitiu a falta. Cartão amarelo para Dan Norton, penalidade frontal que Pedro Leal (com 23 pontos é o 2.º melhor marcador do dia inaugural) não enjeitou... e 22-21 com a sirene a ouvir-se!

Erro de Pipoca no pontapé de recomeço (a bola, chutada, não andou 10 metros) permitiu sucessão de ataques ingleses, que só a muita coragem e alma dos portugueses impediu ter sucesso. Na enésima placagem nacional a bola caiu para a frente, o árbitro apitava e os Lobos festejavam e dançavam à chuva. Pela quarta vez na sua história, Portugal ia disputar a Cup!

Agora pela frente estarão os All Blacks (pelas 07.56 horas portuguesas), grandes favoritos - tal como eram sul-africanos e ingleses... A seguir Portugal, perdendo ou ganhando, irá defrontar Canadá ou Quénia. E pelo menos10 pontos para o circuito mundial já estão garantidos.

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