exclusivo
Desporto
05 maio 2022 às 22h22

O "garoto de ouro" que escolheu o Real por causa da Champions e CR7

Rodrygo é filho, neto e sobrinho de jogadores. Começou a imitar as fintas de Robinho nas ruas de Osasco (São Paulo). Aos 21 anos ajudou a colocar merengues na final da Liga dos Campeões.

Rodrygo tinha 17 anos quando foi colocado perante uma decisão importante. Tinha um talento impressionante e o Santos tinha recebido duas propostas irrecusáveis: uma do Real Madrid e outra do Liverpool... precisamente os finalistas da Liga dos Campeões deste ano. Escolheu os merengues por causa de Cristiano Ronaldo. Tinha ficado fascinado com uma imagem do português a levantar a Champions pelo Real (2018) e queria isso para ele.

Quando chegou a Madrid, um ano depois, CR7 já se tinha mudado para a Juventus, mas nada apaga a influência que teve na decisão do extremo direito/avançado e agora herói merengue, após ajudar o Real Madrid a eliminar o Manchester City e a garantir um lugar na final da liga milionária.

Nascido em Osasco (São Paulo) a 9 de janeiro de 2001, o "garoto de ouro", como lhe chama a imprensa brasileira, pertence a uma família de jogadores. O avô, o pai, os tios e até a mãe (como amadora) jogaram futebol. Nenhum tinha o talento que ele agora tem ou chegou perto de onde ele chegou. O garoto que dormia rodeado de bolas de futebol começou a jogar nas ruas de Osasco, onde o passatempo preferido era imitar as fintas e os dribles de Robinho.

Aos dez anos seguiu os passos do ídolo e foi jogar para o Santos. Começou no futsal - prática comum no Brasil - e só depois se fixou no futebol. Quando tinha 15 anos e já brilhava no clube que imortalizou Pelé, o pai, Eric Batista, pendurou as chuteiras no modesto Cuiabá aos 32 anos (tinha sido pai aos 17) para se dedicar à carreira do filho. E viu-o chegar à equipa principal do Peixe com 17 anos. Chamado por Dorival Júnior, o jovem estreou-se num jogo da Taça Libertadores e tornou-se o mais jovem de sempre a representar o Santos na prova (17 anos e 50 dias). Duas semanas depois marcou o primeiro golo como sénior, também na Libertadores, e passou a ser o mais jovem brasileiro de sempre a consegui-lo.

Foi premiado como revelação do Campeonato Paulista, mas ficou pouco tempo na Vila Belmiro. Nesse mesmo verão de 2018 foi negociado com o Real Madrid, por um valor recorde de 45 milhões de euros. Rodrygo rendeu mais do que Robinho (30 milhões) e Neymar (17 milhões, numa polémica transferência que chegaria aos 88 milhões com comissões) juntos e salvou o histórico emblema paulista do sufoco financeiro.

Só se mudou para Madrid quando fez 18 anos, no verão de 2019. Esteve (e ainda está de alguma forma) na sombra do compatriota Vinícius Júnior, mas aos poucos Zidane e, agora, Carlo Ancelotti foram olhando para Rodrygo, que ganhou desde cedo uma apetência especial para brilhar na prova maior do futebol europeu, a Champions, que o fascina desde miúdo e que agora pode conquistar aos 21 anos. Tem cinco golos em dez jogos e 504 minutos em campo na Liga dos Campeões deste ano. O ano passado fez um golo em 11 jogos e na época de estreia (2019-20) marcou quatro em cinco jogos.

Na quarta-feira, o brasileiro, que já tinha marcado dois golos no triunfo sobre o Espanyol (4-0), que deu o 35.º título de campeão espanhol aos merengues, saltou do banco para marcar mais dois golos e ajudar o Real Madrid a eliminar o Manchester City (6-5, no agregado das meias-finais) e apurar a equipa para a 17.ª final da Champions da sua história. Ele pode até ser o herói do momento, mas falhou uma promessa ao pai. Tinha-lhe prometido marcar três golos e virar a eliminatória a favor do Real. Só marcou dois: "Ficou a faltar um..."

O talento para fazer golos nasceu com ele, mas não é tudo. "O atleta não pode mais viver apenas do talento. Precisa de ter talento também, mas hoje o futebol exige uma dedicação maior, precisamos de entender o jogo, ouvir os mais velhos, atuar taticamente, sem perder a nossa essência. A parte física também é muito importante e está diretamente ligada a um trabalho complementar fora, com alimentação e descanso. Assim como a parte psicológica, de saber lidar com tudo que o futebol exige", disse Rodrygo numa entrevista ao site brasileiro UOL.

Foi chamado à seleção do Brasil com apenas 19 anos (tem cinco jogos e um golo) e sonha agora com vestir a camisola canarinha no Mundial 2022: "Jogando no Real Madrid ajuda muito".

A vida pessoal é um mistério (ou quase). Tem 21 anos e um processo de paternidade em tribunal. Uma mulher brasileira com quem manteve uma relação engravidou de gémeos, mas o jogador não assumiu ser o pai dos bebés, o que levou a mulher a recorrer aos tribunais. Em fevereiro foi obrigado a pagar uma pensão aos filhos gémeos no valor de vinte salários. Ele reclama que não fez teste de ADN.

isaura.almeida@dn.pt