exclusivo
Desporto
11 março 2021 às 00h34

"O FC Porto pode vencer a Champions. No meu ano também não éramos favoritos"

O campeão europeu pelo FC Porto em 2003-04, elogia no DN a exibição dos dragões frente à Juventus, e diz que a partir de agora nos quartos-de-final a equipa pode sonhar porque tudo pode acontecer. "Tem muito a ver com a componente emocional", diz.

A missão é complicada, mas depois do que mostrou no jogo com a Juventus, o FC Porto tem legitimidade para pensar que pode vencer a Liga dos Campeões. A constatação é de Maniche, antigo jogador portista que se sagrou campeão europeu em 2003-04, numa equipa que era treinada por José Mourinho.

"A partir desta altura tudo pode acontecer. As vitórias trazem confiança e os jogadores podem sentir que estão mais perto desse objetivo. O FC Porto pode vencer a Champions e os jogadores e a estrutura têm toda legitimidade de pensar que podem ser campeões europeus", referiu Maniche ao DN.

YouTubeyoutubeI6hLzbBtlYA

O antigo jogador traçou até um paralelismo com a temporada em que o clube conquistou o troféu: "São épocas diferentes, outros jogadores, outro treinador. Mas a forma de pensar é sempre a mesma, porque o FC Porto entra em qualquer campo para ganhar, apesar de na prova estarem as melhores equipas, com orçamentos muito superiores. No meu tempo também não éramos favoritos, e até nos viam como uma das equipas com orçamento mais baixo. E conseguimos vencer a Champions. Isto tem muito a ver com a componente emocional."

Maniche garante que após a vitória por 2-1 no Dragão, no jogo da primeira mão, acreditou sempre que o FC Porto iria eliminar a Juventus. "Conhecendo o clube como conheço, acreditava que podiam passar a eliminatória. Independentemente de no campeonato não estarem tão bem, o ADN do FC Porto pode transformar-se a qualquer momento e nada melhor do que um jogo da Liga dos Campeões para isso acontecer. Foram uma equipa muito sólida, com um compromisso enorme e uma disponibilidade que já não se via há muito tempo. E quando assim é fica-se mais próximo de cumprir os objetivos, e foi isso que aconteceu", referiu o ex-jogador, que representou os dragões entre 2002 e 2005.

O antigo internacional português, que atuava como médio, confessa que ficou rendido à exibição do FC Porto em Turim, "frente a uma das melhores equipas do Mundo que até tem Ronaldo". "Foi uma exibição fenomenal! O Pepe foi enorme na defesa, parecia um central de topo de vinte e poucos anos e não com 38. O Marchesín esteve irrepreensível na baliza, a mostrar que os melhores guarda-redes aparecem nestes jogos. E destaco também o Mbemba. Este trio deu uma enorme consistência a nível defensivo", opinou, antes de passar a Sérgio Oliveira e à forma como Conceição preparou o jogo.

"O Sérgio Oliveira é um jogador preponderante neste FC Porto, a voz do meio-campo, cheio de confiança, importante na manobra da equipa e que neste jogo marcou dois golos. Mas realço também a estratégia de Sérgio Conceição, com uma organização defensiva muito bem conseguida, que explorou muito bem os pontos fortes da Juventus. E não era fácil, até porque durante bastante tempo jogaram com menos um jogador [expulsão de Taremi aos 53"]. O FC Porto soube sofrer e foi feliz, mas teve todo o mérito", considerou.

Na temporada 2003-04, quando Maniche integrava a equipa que se sagrou campeã europeia ao bater na final o Mónaco, curiosamente a caminhada rumo à final também começou no dia 9 de março. Foi precisamente nessa noite há 17 anos que os dragões empataram (1-1) frente ao Manchester United (que tinha Ronaldo) com um golo de Costinha, beneficiando do 2-1 da primeira mão para seguirem rumo aos quartos-de-final da prova. Será que as semelhanças são um bom prenúncio? "Não sei se é ou não, mas espero que sim. Estamos a viver um ano atípico, devido ao contexto da pandemia, em que tudo pode acontecer. Vai depender muito também da equipa que calhar ao FC Porto no sorteio, mas era bom que fosse um bom prenúncio, que chegariam à final e que no final levantassem a taça como nós há 17 anos."

Como Maniche assinalou, Pepe esteve enorme no jogo contra a Juventus. E por toda a Europa, comentadores, personalidades ligadas ao futebol e a imprensa desportiva em geral fizeram questão de elogiar a grande exibição do defesa central portista de 38 anos.

"Se eu treinasse uma equipa, pegava nestes clipes [de Pepe no jogo de Turim] e mostrava-os a todos os jovens centrais para verem o posicionamento, vontade, comunicação, atenção, noção do perigo e utilização do corpo. Foi uma exibição quase perfeita em termos de defesa do espaço e isso é algo que deve ser mostrado a todos os jovens", elogiou Rio Ferdinand, antigo central inglês do Manchester United. "Pepe encheu o campo todo e esteve impecável com a bola. Continua a ser um dos cinco melhores centrais da Europa", acrescentou Joe Cole, antigo internacional inglês do Chelsea. "Às vezes ele consegue ser irritante. É daqueles jogadores que odeias defrontar, mas queres tê-lo na tua equipa", finalizou Gary Lineker, no canal BT Sport.

Na crónica do jogo, o jornal espanhol Marca também deu grande destaque ao antigo central do Real Madrid, lembrando o número de cortes efetuados (18) pelo jogador nos 120 minutos e recordando um alívio, num pontapé de bicicleta, feito por Pepe em cima do apito final: "38 anos, 18 cortes e uma 'chilena' aos 123" para tombar o amigo Cristiano", podia ler-se.

No final do jogo, em declarações à TVI24, Pepe optou por elogiar toda a equipa. "Merecíamos esta passagem. É muito difícil explicar em palavras... nós, no campeonato, tivemos altos e baixos, mas hoje a equipa demonstrou um caráter enorme."

Se Pepe foi alvo dos maiores elogios de todos os quadrantes, pela negativa o destaque da eliminatória que opôs o FC Porto à Juventus foi Cristiano Ronaldo, considerado mesmo uma espécie de bode expiatório pelo falhanço do clube italiano. A mais dura surgiu pela voz de Fabio Capello, ex-treinador e selecionador italiano. Nos comentários feitos na Sky Itália, Capello deixou críticas à forma como a Juve sofreu os golos na eliminatória e referiu-se sobretudo ao lance do golo de Sérgio Oliveira de livre.

"O primeiro golo no primeiro jogo é uma oferta, há também um grande descuido no segundo. Há golos que não podem acontecer. O penálti foi outra oferta. Demiral foi muito ingénuo, cometeu um erro gravíssimo. Mas isto ainda é mais grave: Cristiano Ronaldo a saltar e a virar-se na barreira. Quem está na barreira não pode ter medo de ser atingido. É um erro imperdoável que não tem desculpas", afirmou.

Na imprensa desportiva italiana, também foram muitas as críticas ao português. "Traída por Ronaldo", podia ler-se na primeira página do Corriere dello Sport. Já a Gazzetta deu a Cristiano Ronaldo a pior nota entre todos os jogadores da Juventus, considerando que o avançado desiludiu e que cometeu um erro na barreira do livre direto que originou o golo de Sérgio Oliveira.