Mundial com 48 seleções: aumentam os jogos, as receitas e a polémica

Alargamento da prova, a partir de 2026, é criticado nas principais ligas europeias. FPF e Sindicato de Jogadores aprovam mudança

Já imaginou um Campeonato do Mundo de futebol com Burkina Faso, Etiópia, Islândia, Jordânia, Panamá ou Usbequistão? Estes e outros países sem tradição no desporto rei - mas que ficaram à beira do apuramento para o Mundial 2014 - vão ter, a partir da próxima década, muito mais hipóteses de chegar à maior competição da modalidade. O alargamento da prova a 48 seleções, a partir da edição de 2026, foi aprovado ontem, por unanimidade, pelo Conselho da FIFA. Mas a mudança - que levará ao aumento do número de jogos e das receitas (mais 605 milhões de euros, projeta a FIFA) em torno do torneio - surge envolta em polémica, com forte contestação nas principais ligas europeias.

Os ecos em solo nacional são paradigmáticos das reações que o alargamento suscita pela Europa. Há quem apoie claramente a mudança, como a Federação Portuguesa de Futebol; quem a aplauda ainda na expectativa, como o presidente do Sindicato de Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista; quem prefira esperar para se pronunciar, como a direção da Liga de clubes; e quem se mostre frontalmente contra, como o líder da Associação Nacional de Treinadores de Futebol, José Pereira.

"Não fazia sentido a FIFA fazer um alargamento sem qualquer estudo. Quanto maior for o alargamento, menos qualidade terá o campeonato, pois haverá equipas teoricamente mais fracas. Este alargamento visa essencialmente fins lucrativos, que prejudicam a essência do futebol, o espetáculo", diz José Pereira ao DN. A crítica às motivações financeiras e a preocupação com a perda de qualidade da prova são também base da argumentação dos clubes e das maiores ligas europeias, principais opositores de uma alteração que deverá beneficiar sobretudo as seleções de mercados emergentes como Ásia e África.

"Não conseguimos ver os méritos de mudar o formato atual [a 32], que provou ser a fórmula perfeita", apontou a Associação de Clubes Europeus, em comunicado. "A prioridade tem de ser a consideração do potencial impacto sobre os fãs, jogadores, equipas e campeonatos, e o reconhecimento da importância da integridade desportiva e da viabilidade comercial", alertou a federação inglesa, pela mesma via.

De Alemanha e Espanha, países que dominaram o futebol europeu nas últimas épocas, vieram reações ainda mais duras. "Ter 48 seleções no maior e mais importante torneio de futebol do mundo é excessivo. E, com isso, a qualidade dos jogos vai ser menor", alertou o diretor técnico da federação alemã, Oliver Bierhoff. "[O novo presidente da FIFA] Gianni Infantino toma as decisões sozinho, sem se preocupar com ninguém. O que ele faz é política: para ser eleito, prometeu mais países no Mundial", atacou o presidente da liga espanhola, Javier Tebas.

A FIFA tem outra justificação para o aumento do número de seleções (de 32 para 48) e de jogos (de 64 para 80) do Mundial: o objetivo de aumentar o número de adeptos (e de receitas) em regiões e países que até aqui não conseguiam qualificar-se para o Mundial. "Temos de moldar o Campeonato do Mundo ao século XXI, o futebol é mais do que a Europa e a América do Sul. Assim, um maior número de países terá a hipótese de sonhar", diz Infantino.

Agora, falta decidir o tema mais fraturante: a distribuição das novas vagas por cada confederação. Infantino garante que "todas terão mais", mas estima-se que a africana e a asiática poderão ser as principais beneficiadas, passando a apurar até oito países cada (cenário hipotético que teria dado para, por exemplo, Burkina Faso ou Jordânia se estrearem no Brasil 2014).

Este alargamento também tinha sido subscrito por Luís Figo na sua candidatura à presidência da FIFA, em 2015. "[Estou] feliz por ver uma das minhas propostas para a mudança do futebol alcançada", escreveu o antigo jogador português na sua conta da rede social Facebook. E isso está na base do aplauso da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) à mudança. "A FPF apoiou as candidaturas de Luís Figo e Gianni Infantino à presidência da FIFA. Por isso, é natural que esteja de acordo", disse fonte do organismo, à Lusa.

Contactada pelo DN, a Liga de Clubes preferiu não se pronunciar neste momento. Já Joaquim Evangelista, "a título pessoal", também se mostra "favorável" ao alargamento: "Porque foi salvaguardado que os atletas não terão de fazer um maior número de jogos, porque pode ajudar ao crescimento do futebol em países de menor dimensão e porque o retorno financeiro mais elevado também é importante e pode ser investido na criação de condições para a prática desportiva", justifica ao DN.

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