26 outubro 2016 às 00h10

John John, o campeão que fez esperar Slater até ser coroado

Havaiano sagrou-se campeão do mundo em Peniche. Uma história que começou aos 6 meses e que aos 24 anos teve um final feliz

Isaura Almeida

Filho de mãe solteira, Alexandra, uma americana de Nova Jérsia que se apaixonou pelo North Shore da ilha de Oahu, John Alexander Florence, mais conhecido como John John, cresceu a ver o mar. Um dos passatempos preferidos, e dos dois irmãos mais novos, Nathan e Ivan, era subir a uma árvore e observar as ondas a crescer. Por isso o destino estava mais do que traçado.

Subiu para a prancha pela primeira vez aos 6 meses, acompanhado e com um colete salva-vidas. Aos 3 anos ia sozinho, aos 6 já era patrocinado pela O"Neill e aos 11 era um profissional do surf. Aos 13 tornou-se o mais jovem surfista a competir no Vans Triple Crown e ontem, aos 24, chegou ao topo do mundo, em Supertubos, em Peniche, sagrando-se pela primeira vez campeão mundial.

A praia de Banzai Pipeline, palco da última etapa do circuito, é como um quintal da casa do novo campeão mundial de surf, coroado ontem em Portugal. Em dezembro, quando for disputar a etapa da consagração, só precisa de sair de casa minutos antes do call. "É uma sensação incrível, nem consigo acreditar, estou supersatisfeito por ganhar o título mundial e o campeonato, é fantástico. É um objetivo vencer a Triple Crown, mas sobretudo vencer em Pipeline, quero muito ganhar em casa, isso seria fantástico, mas vou surfar sem pressão", confessou ontem o havaiano, que dedicou o título mundial à sua família, após vencer o Meo Rip Curl Pro Portugal: "Conquistar o título aqui foi maravilhoso!"

O jovem e introvertido surfista de 24 anos sentia o peso de levar o título mundial para o país do surf, 12 anos depois. É apenas o quarto havaiano campeão do mundo, depois de Derek Ho (1993), Sunny Garcia (2000) e Andy Irons (2002, 2003 e 2004). E o primeiro a conseguir o título mundial antes da última etapa, desde o seu ídolo Kelly Slater, em 2011.

John John cumpriu um sonho de criança. "Desde pequeno que sonho com isto ao ver o Kelly e o Andy, e agora poder ir para a minha onda favorita no mundo e não ter de me preocupar e poder divertir-me é ótimo!", disse, já no pódio e sem saber que Slater estava num palanque a registar o momento.

O norte-americano, ícone do surf e onze vezes campeão mundial, ficou em Portugal até ao fim da etapa (o que não é frequente) na esperança de poder assistir à coroação do seu protegido. "Primeiro, muitos parabéns por confirmares um destino inevitável", escreveu Kelly Slater no Instagram. Palavras que deixaram o novo campeão sem jeito: "É fantástico ter o apoio do Kelly Slater, ele tem sido o melhor surfista do mundo desde que eu nasci, tê-lo aqui e receber os elogios dele foi muito bom."

Com a ajuda de Coffin

Florence sucede ao brasileiro Adriano de Souza com um triunfo inédito em Peniche, a penúltima etapa do circuito que nunca tinha consagrado um campeão, contando para tal com a ajuda de um californiano, a quem o novo campeão não esqueceu de agradecer: "Obrigado Conner [Coffin]." Isto porque o americano eliminou Jordy Smith nas meias-finais, oferecendo desde logo o título a Florence, que depois o bateria na final da prova portuguesa.

O filme do título de John John Florence em Supertubos começou em crescendo no dia 18, mas só ontem se tornou real, nas meias-finais, quando começou por derrotar o norte-americano Kolohe Andino, conquistando 13,84 pontos, contra 8,47. Depois assistiu ao segundo heat da meia-final, talvez o mais espetacular da prova, dado o equilíbrio entre Jordy Smith e Coffin, e viu o amigo californiano sacar um nove aos juízes, que eliminou o sul-africano e fez de Florence campeão mundial!

A caminhada foi um percurso difícil, sobretudo a nível psicológico: "O desafio depois de chegar à liderança é aguentar lá. Começamos a ouvir falar tanto sobre isso e com as especulações se nos aguentamos lá. Aprendes muito sobre ti próprio."

E sem nunca perder a humildade que o caracteriza, disse não saber o que fazer para festejar este seu primeiro título. "É espantoso que me considerem o melhor surfista do mundo. Mas não sei, toda a gente surfa diferente, mas fico muito honrado quando tantos bons surfistas me consideram o melhor", disse o vencedor da etapa portuguesa, a quarta da carreira, depois dos duas no Rio de Janeiro, em 2012 e 2016, e uma em França, em 2014.