Filho de mãe solteira, Alexandra, uma americana de Nova Jérsia que se apaixonou pelo North Shore da ilha de Oahu, John Alexander Florence, mais conhecido como John John, cresceu a ver o mar. Um dos passatempos preferidos, e dos dois irmãos mais novos, Nathan e Ivan, era subir a uma árvore e observar as ondas a crescer. Por isso o destino estava mais do que traçado.
Subiu para a prancha pela primeira vez aos 6 meses, acompanhado e com um colete salva-vidas. Aos 3 anos ia sozinho, aos 6 já era patrocinado pela O"Neill e aos 11 era um profissional do surf. Aos 13 tornou-se o mais jovem surfista a competir no Vans Triple Crown e ontem, aos 24, chegou ao topo do mundo, em Supertubos, em Peniche, sagrando-se pela primeira vez campeão mundial.
A praia de Banzai Pipeline, palco da última etapa do circuito, é como um quintal da casa do novo campeão mundial de surf, coroado ontem em Portugal. Em dezembro, quando for disputar a etapa da consagração, só precisa de sair de casa minutos antes do call. "É uma sensação incrível, nem consigo acreditar, estou supersatisfeito por ganhar o título mundial e o campeonato, é fantástico. É um objetivo vencer a Triple Crown, mas sobretudo vencer em Pipeline, quero muito ganhar em casa, isso seria fantástico, mas vou surfar sem pressão", confessou ontem o havaiano, que dedicou o título mundial à sua família, após vencer o Meo Rip Curl Pro Portugal: "Conquistar o título aqui foi maravilhoso!"
O jovem e introvertido surfista de 24 anos sentia o peso de levar o título mundial para o país do surf, 12 anos depois. É apenas o quarto havaiano campeão do mundo, depois de Derek Ho (1993), Sunny Garcia (2000) e Andy Irons (2002, 2003 e 2004). E o primeiro a conseguir o título mundial antes da última etapa, desde o seu ídolo Kelly Slater, em 2011.
John John cumpriu um sonho de criança. "Desde pequeno que sonho com isto ao ver o Kelly e o Andy, e agora poder ir para a minha onda favorita no mundo e não ter de me preocupar e poder divertir-me é ótimo!", disse, já no pódio e sem saber que Slater estava num palanque a registar o momento.
O norte-americano, ícone do surf e onze vezes campeão mundial, ficou em Portugal até ao fim da etapa (o que não é frequente) na esperança de poder assistir à coroação do seu protegido. "Primeiro, muitos parabéns por confirmares um destino inevitável", escreveu Kelly Slater no Instagram. Palavras que deixaram o novo campeão sem jeito: "É fantástico ter o apoio do Kelly Slater, ele tem sido o melhor surfista do mundo desde que eu nasci, tê-lo aqui e receber os elogios dele foi muito bom."
Com a ajuda de Coffin
Florence sucede ao brasileiro Adriano de Souza com um triunfo inédito em Peniche, a penúltima etapa do circuito que nunca tinha consagrado um campeão, contando para tal com a ajuda de um californiano, a quem o novo campeão não esqueceu de agradecer: "Obrigado Conner [Coffin]." Isto porque o americano eliminou Jordy Smith nas meias-finais, oferecendo desde logo o título a Florence, que depois o bateria na final da prova portuguesa.
O filme do título de John John Florence em Supertubos começou em crescendo no dia 18, mas só ontem se tornou real, nas meias-finais, quando começou por derrotar o norte-americano Kolohe Andino, conquistando 13,84 pontos, contra 8,47. Depois assistiu ao segundo heat da meia-final, talvez o mais espetacular da prova, dado o equilíbrio entre Jordy Smith e Coffin, e viu o amigo californiano sacar um nove aos juízes, que eliminou o sul-africano e fez de Florence campeão mundial!
A caminhada foi um percurso difícil, sobretudo a nível psicológico: "O desafio depois de chegar à liderança é aguentar lá. Começamos a ouvir falar tanto sobre isso e com as especulações se nos aguentamos lá. Aprendes muito sobre ti próprio."
E sem nunca perder a humildade que o caracteriza, disse não saber o que fazer para festejar este seu primeiro título. "É espantoso que me considerem o melhor surfista do mundo. Mas não sei, toda a gente surfa diferente, mas fico muito honrado quando tantos bons surfistas me consideram o melhor", disse o vencedor da etapa portuguesa, a quarta da carreira, depois dos duas no Rio de Janeiro, em 2012 e 2016, e uma em França, em 2014.