17 maio 2017 às 00h23

Viitorul. Da academia de Gheorghe Hagi saiu um campeão jovem e barato

Clube lançado pelo antigo jogador em 2009 - e treinado por ele - chegou ao topo com uma equipa sub-23, quase sem contratações

Rui Marques Simões

Criar um clube do zero e levá-lo ao topo é o sonho de muito aspirante a jogador, treinador ou dirigente de futebol (embora seja algo mais fácil num videojogo do que na vida real). Gheorghe Hagi concretizou-o com a mesma classe com que avançava, em fintas imprevisíveis, passes teleguiados e remates imparáveis, pelos principais relvados mundiais, nos anos 80 e 90. O Viitorul, presidido e treinado pelo antigo jogador romeno - e nascido na sua academia -, é esse género de obra-prima: acaba de se sagrar campeão da Roménia pela primeira vez.

A história de uma equipa jovem e barata, saída de uma academia de formação e capaz de brilhar numa liga ultracompetitiva, onde muitos clubes gastam aquilo que não têm (no último decénio houve seis campeões diferentes: Unirea Urziceni e Otelul Galati faliram e o Cluj passou por grandes dificuldades financeiras....), bastaria para o nome FC Viitorul Constanta correr mundo. Mas, tratando-se de um clube criado apenas em 2009 (em Ovidiu, pequena cidade portuária do mar Negro, no Sudoeste do país) e fundado pela maior lenda do futebol romeno, a fama é ainda maior. Após uma vitória sobre o Cluj, no sábado (1-0), os pu?tii lui Hagi ("miúdos de Hagi") sagraram-se campeões, em igualdade pontual com o FCSB, que reclama o título (ver à direita).

O campeonato romeno foi o último passo da caminhada iniciada em 2009, quando o "Maradona dos Cárpatos" (que se celebrizou ao serviço de Steaua, Real Madrid, Brescia, Barcelona e Galatasaray), criou uma das academias mais modernas da Europa de Leste e comprou os direitos desportivos do CSO Ovidiu para competir na terceira divisão. Com as maiores promessas do país em campo, o Viitorul logo se lançou na escalada até ao topo: na temporada de estreia (2009-10) subiu à Liga II; duas épocas depois (2011-12) ascendeu ao primeiro escalão; e, após se estabilizar na Liga I, com Hagi como treinador desde setembro de 2014, chegou aos lugares europeus (5.º em 2015-16) e acabou por conquistar o título.

"Estou feliz e orgulhoso, porque esta academia e esta grande equipa - estes miúdos - lutaram até à última gota de energia e conseguiram o impossível. Somos os mais jovens campeões da Europa", sublinhou Hagi, após o triunfo. Afinal, não só o clube é recente como o plantel tem uma média de idades de 22,8 anos: são quase todos formados na academia e os raros reforços chegaram a custo zero (só Nelut Rosu, médio vindo do Concordia Chiajna em janeiro, custou 50 mil euros).

Aos 52 anos, após década e meia como técnico, Hagi conquistou o maior troféu da carreira (só ganhara uma Taça da Turquia, pelo Galatasaray, em 2005). "Estou feliz por ter feito a escolha certa. Apostei em jovens e agora esta cidade entrou na história do futebol romeno", disse o treinador, seguidor dos métodos de Johann Cruyff (com que se cruzou no Barcelona). "Fomos campeões de juniores cinco anos seguidos e, agora, conseguimo-lo com a equipa principal. Na vida, nada acontece por acaso", nota o ex-futebolista.

Depois dos frutos desportivos, virá também o retorno financeiro: além do possível apuramento para a fase de grupos da Liga dos Europeus (a duas eliminatórias de distância), o Viitorul começa a exportar talentos. Florimel Coman, extremo de 18 anos, deverá ser vendido ao Galatasaray, por quatro milhões de euros. E os pu?tii lui Hagi vão continuar a dar que falar: afinal, viitorul, em romeno, quer dizer "futuro".