18 julho 2017 às 00h15

Sistema de três centrais "é arriscado", mas pode "ganhar campeonatos"

Mourinho e Jesus testaram novo sistema para as suas equipas. Jorge Andrade não acredita que a defesa de três passe a ser moda

Carlos Nogueira

Juventus, Chelsea e a seleção da Alemanha são os mais recentes casos de sucesso do sistema tático de três centrais, que parece ter voltado com mais força aos planos dos treinadores um pouco por toda a Europa. Neste arranque de pré-temporada já são vários os técnicos a testar esta forma de jogar, desde José Mourinho, no Manchester United, a Jorge Jesus, no Sporting. E até Arsène Wenger, no Arsenal, e Guardiola, no Manchester City, já fizeram incursões durante a época passada.

Os sistemas de três defesas (3x5x2 ou 3x4x3) foram durante alguns períodos da história característicos das equipas italianas, tendo tido o ponto mais alto nos anos 90, altura em que a moda se generalizou e até contagiou a seleção brasileira no Mundial de 1990, em Itália, embora sem sucesso. Contudo, vale a pena lembrar que a última vez que o Brasil conquistou o título de campeão mundial foi em 2002, com Luiz Felipe Scolari a utilizar um esquema de três defesas centrais. Na Alemanha também teve um peso histórico, sobretudo pela influência de Beckenbauer.

Agora, a defesa de três parece voltar a estar na moda. Na época passada, a Juventus conquistou o seu hexacampeonato italiano mais uma vez com o seu sistema de eleição, que começou a ter sucesso em 2011/12 com Antonio Conte, técnico que na época passada o levou para o Chelsea com um êxito retumbante na Premier League inglesa. Talvez impulsionado por esse sucesso, o selecionador alemão Joachim Löw adaptou-o à renovada equipa que venceu recentemente a Taça das Confederações. Quem se seguirá?

Para já, Mourinho parece interessado em testar a fórmula. Será a receita para combater a superioridade revelada pelo Chelsea?

Jorge Andrade, antigo defesa-central que jogou duas épocas na Juventus, não acredita que os três centrais venham a ser o modelo preferencial no futebol. "Acho que é esporádico, porque as equipas precisam de laterais rápidos que possam fazer todo o corredor. No entanto, acredito que é uma forma de jogar que pode ser adotada pontualmente para surpreender um adversário... e pode com isso até ganhar campeonatos", reforçou o antigo internacional português.

Sistema precisa de inteligência

Este é um sistema que, segundo Jorge Andrade, "exige muita coordenação" para que não haja falhas. "Tem de haver mais rotinas do que noutro sistema tático porque a equipa defende com menos jogadores para ter superioridade numérica na frente, por isso se alguém se esquecer da função que tem de desempenhar pode originar que fique um defesa exposto num contra-ataque", explica, acrescentando que esta é uma situação que pode acontecer mais frequentemente contra equipas teoricamente mais fracas. "Isso acontece frente a equipas com apenas um avançado, de preferência rápido. Se o adversário está muito recuado, a tendência é os defesas subirem e esse homem rápido pode tirar benefícios", refere.

Na opinião de Jorge Andrade, o 3x5x2 (ou o 3x4x3) "é um sistema muito arriscado, que obriga a equipa a ter jogadores inteligentes e com um excelente conhecimento do jogo". E, nesse sentido, deixa uma certeza: "É uma maravilha para quem está habituado, como em Itália, onde é utilizado há muitos anos porque a maioria das equipas joga com dois avançados."

Em Portugal foram raros os exemplos de equipas candidatas ao título a jogar com três defesas, a última terá mesmo sido o FC Porto do holandês Co Adriaanse, campeão em 2005/06. "No nosso campeonato, muitas vezes, as equipas mais pequenas jogavam dessa forma por razões exclusivamente defensivas, sobretudo em casa dos grandes, o que fazia com que recuassem muito", recorda Andrade.

No entanto, os tempos mudaram, mesmo na liga portuguesa, pois "já há várias equipas a jogar com dois avançados contra os grandes", razão pela qual fará sentido que Jorge Jesus tenha testado esse sistema no Sporting, no último sábado, frente ao Basileia. "Será uma forma de criar superioridade numérica no meio-campo e no ataque perante equipas que se fecham muito junto à área", explica, embora considere que "muitas vezes o talento individual supera esse tipo de estratégias", daí que faça questão de reforçar que "é preciso criar rotinas para que tudo funcione sem erros que podem ser fatais".