20 maio 2017 às 18h23

Portugal perde em Bruxelas e falha acesso ao Championship

A frustrante derrota desta tarde dos Lobos diante da Bélgica, por 29-18, impede a seleção nacional de regressar, na próxima época, ao principal escalão do râguebi europeu.

António Henriques

23 anos depois e logo no encontro que não podia perder de forma alguma, Portugal voltou, esta tarde, a ser derrotado pela Bélgica, em Bruxelas, no jogo único de "play-off", falhando assim o regresso ao Rugby Europe Championship, o mais alto patamar do râguebi do velho continente. E assim vai continuar, por mais um ano, "ligado à máquina" e a marcar passo no Trophy, o 2.º escalão do râguebi europeu.

Os Lobos de Martim Aguiar - que depois de sete triunfos consecutivos perdeu pela primeira vez como selecionador nacional - entraram a dormir (0-14 aos 7"), mas mostrando ser mais equipa, reagiram em grande estilo e ao intervalo já venciam por 15-14. Contudo, na 2.ª parte, voltaram a sofrer novo ensaio de entrada e a perder por 21-18, ao ficar reduzida a 14 homens por amarelo a Vasco Fragoso Mendes aos 63", a equipa concederia oito pontos e já não mostrou frescura ou cabeça para dar a volta a um resultado bem negativo e que poderá ter graves consequências para o futuro próximo do râguebi português.

Nos momentos que antecederam esta partida tão vital para as duas seleções a pressão asfixiante quase que se podia cortar à fraca sobre o relvado do estádio Heisel. E assim não se estranhou um início hesitante dos dois quinzes: no pontapé de saída português a oval não avançou sequer 10 metros e da mêlée belga decorrente foi a vez dos Lobos roubarem a bola para um bom contra-ataque.

Mas a seleção belga, que por norma começa mal as suas partidas - na última vez que a defrontámos, em novembro passado em Setúbal, aos 33" Portugal já vencia por 26-0! - desta feita resolveu pôr o despertador para mais cedo. E apenas em incríveis dois minutos, aos 7", já vencia por 14-0 à custa de dois ensaios convertidos! Primeiro num impressionante maul dinâmico pelo 2.ª linha Moelants e depois com o ponta Reynaert a escapar colado junto à ponta.

Só aí a seleção nacional acordou para este teste tão decisivo. E mostrando ser um quinze mais adulto e com melhor técnica individual, começou a tomar conta do jogo. A avançada portuguesa mostrava-se mais dinâmica, os médios aceleravam o jogo e, acima de todos, distinguia-se o defesa Pedro Ávila (Carcassonne), que provando estar em bom momento de forma, surgia no ataque em todo o lado. E em tão-só 4 minutos, Portugal iria marcar por duas vezes em lances de râguebi rápido, simples... e muito eficaz.

Alinhamento conquistado nas alturas, e de primeira fase a oval chegou a Ávila que num passe sublime em "off-load" libertou Vasco Fragoso Mendes que encontrou uma autoestrada escancarada à sua frente para o seu segundo ensaio internacional (14-7 aos 20"). E logo a seguir o pack nacional a trabalhar bem, ganhando muito terreno e depois Penha e Costa a descobrir Pedro Ávila que marcou junto à bandeirola (14-12).

Perante a boa reação portuguesa os belgas congelavam, e jogando algo desligados, limitavam-se a dar pontapés sem nexo que permitiam aos Lobos ir dominando a posse de bola e construindo perigosos contra-ataques. E sem ponta de surpresa Pedro Ávila, numa penalidade frontal a 42 metros, colocava Portugal na frente pela primeira vez aos 33", por 15-14, resultado que se verificava ao intervalo.

No recomeço, os "Diabos Negros" - últimos no Championship desta temporada só com derrotas - surgiram mais unidos e decididos a resolver o jogo através dos seus mais pesados avançados. O seu técnico, o francês Guillaume Ajac, começou a mexer primeiro no pack fazendo entrar opções do banco. E aos 45" seria premiado com o ensaio do talonador Dienst, após excelente lance em exclusivo da avançada, com uma imparável sequência de passes em que foram mantendo a continuidade e sempre a avançar perante a incapacidade lusa de travar aquela bela ação (21-15).

Mas a seleção nacional voltava a reagir, somando iniciativas, mas agora os belgas já placavam bem melhor, mostrando estar mais confiantes. Um brilhante slalom de José Lima não teve o merecido final feliz, tal como uma falta jogada rapidamente à mão por Fragoso Mendes em cima da área contrária. Mas Pedro Ávila lá reduziria para 21-18 em nova penalidade aos 58".

E aos 63" surgiria o lance-capital do encontro quando o auxiliar do árbitro irlandês Murphy detetou uma placagem alta e perigosa de Vasco Fragoso Mendes, que veria o cartão amarelo deixando Portugal 10 minutos a jogar com um homem a menos.

E nesse período a Bélgica acabaria com o jogo ao marcar um ensaio (bis do ponta Reynaert, após mêlée inteligentemente jogada pelo lado fechado onde não estava o ponta Gonçalo Foro, que tinha reforçado o pack para compensar a falta do seu n.º 8...) e uma penalidade por Alan Williams, depois da mêlée belga ter novamente feito em picadinho a avançada portuguesa. Eram os finais 29-18, que nem a exclusão do ponta Reynaert por amarelo nos derradeiros cinco minutos de jogo iria alterar.

Portugal alinhou com: Pedro Ávila (5,3,3,2); Gonçalo Foro (Manuel Vilela), Tomás Appleton, José Lima, Adérito Esteves; Nuno Penha e Costa (Nuno Sousa Guedes), Francisco Pinto Magalhães (cap.) (Pedro Leal); Vasco Fragoso Mendes (5), Sebastião Villax (Miguel Macedo), João Lino, Gonçalo Uva (Rafael Simões), Geordie Mcsullea, José Leal da Costa (Diogo Hasse Ferreira), Duarte Diniz (Nuno Mascarenhas) e Bruno Medeiros (João Vasco Corte-Real).

A seleção nacional volta agora a jogar apenas em novembro, em casa, recebendo um adversário que ainda desconhece, em partida de qualificação para o Mundial 2019 do Japão.

Benfica regressa à Divisão de Honra

Entretanto ao vencerem esta tarde os seus jogos relativos às meias-finais da 1.ª Divisão, o CR Évora (que esmagou o CRAV por 67-0) e o Benfica (que bateu o Bairrada, por 33-22), asseguraram a sua presença da Divisão de Honra da próxima época. Será uma estreia para os eborenses no principal escalão do râguebi português e o aguardado regresso dos encarnados, nove vezes campeões nacionais.