30 março 2018 às 01h09

Peseiro em versão fantasma volta à Luz para assombrar o campeão

V. Guimarães defronta amanhã o Benfica sob a orientação do único treinador com saldo equilibrado com as águias e que foi o último a sair da Luz com o triunfo em provas internas

Bruno Pires

Se há um treinador que sabe o que é fazer sofrer o Benfica, esse dá pelo nome de José Peseiro, o ribatejano que em entrevista concedida ao DN a 4 de fevereiro último revelou que treinar o emblema da Luz continua a ser um... objetivo. Amanhã volta a defrontar os encarnados, desta vez no comando do V. Guimarães.

Em 11 partidas realizadas diante das águias a contar para o campeonato, José Peseiro obteve quatro vitórias, três empates e quatro derrotas, com a nuance de ter sido o último treinador adversário a vencer na Luz em provas internas. Estávamos na jornada 22 da I Liga, edição 2015--16, e ao FC Porto só o triunfo interessava para se manter na corrida pelo título. O encontro, arbitrado pelo retirado Marco Ferreira, começou melhor para o Benfica de Rui Vitória, com Mitroglou a marcar o 1-0 aos 18". Mas Herrera e Aboubakar viraram uma partida na qual Casillas brilhou a grande altura.

Após essa jornada, o FC Porto ficaria a seis pontos do líder Sporting e a três do Benfica, que acabaria por sagrar-se campeão ao passo que os azuis e brancos não iriam além do terceiro posto.

Depois disso, para o campeonato, o Benfica fez 36 encontros em casa sem perder, um deles diante do Sp. Braga de José Peseiro na época passada e que terminou com um triunfo dos tetracampeões por 3-1. "Há dois anos que o Benfica não perde em casa para a Liga, mas isso não atemoriza. É difícil, mas não é impossível", reconheceu ontem José Peseiro, deixando um alerta para a partida de amanhã: "Para concretizar o objetivo de vencer ou empatar temos de ser melhores do que o que temos sido até agora."

Estreia em grande

Entre todos os treinadores da I Liga não há um com um rácio tão positivo como José Peseiro diante do Benfica - incluindo Rui Vitória - ainda que seja importante dizer que o agora técnico do V. Guimarães orientou, com exceção do Nacional, equipas da classe alta e média/alta do futebol português - Sporting, Sp. Braga e FC Porto.

Ainda assim, no ano de estreia no escalão maior, José Peseiro recebeu o Benfica de Jesualdo Ferreira à 5.ª jornada e, para espanto geral, o Nacional venceu por 1-0, golo do brasileiro Serginho - naquela equipa do Benfica alinhavam Simão, Petit, Nuno Gomes ou Tiago.

Luisão e Rafa...

Depois da boa temporada no Nacional, Peseiro rumou ao Real Madrid para ser adjunto de Carlos Queiroz, mas passado um ano regressou a Portugal para suceder a Fernando Santos no Sporting. E disputou o campeonato até ao fim. Venceu o Benfica em casa na primeira volta (2-1), foi eliminado na Taça de Portugal nos penáltis após um estonteante jogo que terminou 3-3 no final dos 120 minutos, mas foi o encontro da segunda volta que ainda hoje é recordado pelos amantes do futebol. O Sporting - sem o castigado Liedson - tentava segurar o empate que lhe permitia quase assegurar o título, mas a sete minutos do fim surgiu o golo de Luisão, muito contestado pelos leões, em especial pelo guarda-redes Ricardo.

Na recente entrevista ao DN, José Peseiro voltou a insistir na ilegalidade do golo, validado pelo malogrado Paulo Paraty. "Se existisse VAR... não penalizo muito o árbitro porque no relvado era difícil ver, mas na imagem viu-se que o Luisão tocou com a cabeça no braço do Ricardo e é o Ricardo que faz golo."

Sete anos mais tarde, Peseiro tem um regresso em grande a Portugal. Na jornada inaugural do campeonato, o seu Sp. Braga calou a Luz com um empate (2-2). Nessa equipa alinhavam o guarda-redes Beto, o lateral Ismaily, recentemente chamado à seleção do Brasil, Rúben Amorim, Hugo Viana ou Lima. E os bracarenses até estiveram a ganhar por 2-1 mas Cardozo empataria de penálti.

Nessa mesma época os dois clubes jogaram a meia-final da Taça da Liga em Braga e Peseiro voltou a ser feliz com o Benfica, eliminando a formação de Jesus nos penáltis depois de um teimoso 0-0. Começava aí uma época de horror para o Benfica, culminada na derrota no Jamor diante do V. Guimarães, primeira ironia, comandado por Rui Vitória, segunda ironia. Já os bracarenses festejaram a conquista da Taça da Liga na final com o FC Porto.

Depois, volvidos mais três anos, deu-se a tal última derrota do Benfica na Luz e ano e meio depois José Peseiro regressou a Braga, mas nos dois jogos que faz contra o Benfica e Rui Vitória não foi feliz. Primeiro perdeu a Supertaça por 3-0, num jogo em que Rafa desperdiçou muitos golos frente ao clube pelo qual assinaria 20 dias depois. Finalmente, em setembro de 2016, o Sp. Braga saiu da Luz com uma derrota clara (3-1) capitaneado pelo agora leão André Pinto. Terminaria aí o duelo entre Peseiro e o Benfica que, mesmo assim, tem números equilibrados. Amanhã existe mais um episódio com muitos a lembrarem-se do nome do último técnico que assombrou a Luz.