25 outubro 2017 às 00h25

Kikas caiu frente a Mick Fanning, que pode ajudar John John a ser já campeão

Surfista português "ofereceu" a melhor onda do heat ao australiano. Admitiu o erro, mas mantém liderança para ser o rookie do ano. Fanning elogiou Kikas, mas alerta para o perigo de excesso de expectativas

Elisabete Silva

Foi o adeus de Frederico Morais ao Meo Rip Curl Pro, naquela que foi a sua primeira participação como membro da elite e não como wildcard em Peniche. Caiu frente ao tricampeão do mundo e duas vezes vencedor da etapa portuguesa do circuito mundial Mick Fanning, que só tem elogios para o português, o qual se mantém na liderança para o prémio de rookie do ano. "Vejo-o no top 10/5 nos próximos anos", salientou o australiano, que agora poderá ajudar a definir a luta pelo título.

Mas as atenções estiveram muito centradas em Kikas, como é conhecido, que depois de não conseguir apurar-se diretamente para os quartos-de-final teve de passar pela quinta ronda em Peniche. A derrota frente a Fanning acabou por ser mais uma lição, como o próprio admitiu. "Ele apanhou aqueles 8.50 [pontos] no início do heat. Eu deveria ter esperado por aquela onda", lamentou. Kikas escolheu uma anterior, "uma má onda". "Deixei-lhe a prioridade e acabou por me custar o heat. Estamos sempre a aprender com os erros."

O português estava desanimado, mas não abatido: "Não foi uma ótima prestação, mas não foi má." Se um top 10 no final do campeonato tornou-se mais difícil (é 13.º no ranking), já o prémio de rookie do ano está à distância de mais uma etapa, a última, no Pipeline (de 8 a 20 de dezembro). O australiano Connor O"Leary (15º) e o italiano Leonardo Fioravanti (32º) também foram eliminados na quinta ronda, pelo que esta luta fica igual para o final no Havai. E o surfista português não vai deixar nada ao acaso. Um mês antes já estará na ilha para se ambientar e experimentar pranchas, além de competir na Triple Crown, que termina no Pipeline.

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Agora que irá ver as últimas rondas em Peniche de fora, e com o pensamento a concentrar-se no que tem de fazer no Havai, Kikas realçou que viveu uma "semana inesquecível, inacreditável" e muito devido ao apoio intenso do público na praia dos Supertubos. "Não há palavras. Foram uns verdadeiros portugueses. Mostraram paixão pelo desporto. É um orgulho poder sentir isso", disse, desejando que em 2018 possa fazer melhor. O nono lugar em Peniche é o quarto melhor resultado do ano em dez etapas, depois de dois quintos e um segundo em Jeffreys Bay, na África do Sul.

"Ele está a ter um ano incrível. Quando se vai à final em J-Bay na época de rookie, podemos esperar grandes coisas", salientou Mick Fanning. Porém, o australiano deixa um alerta para que as expectativas não sejam demasiado altas, quando Kikas está apenas na primeira temporada na elite. "Vi a pressão que o Tiago [Pires] teve durante tantos anos. Afetou-o muito", recordou. O tricampeão do mundo explicou que teve um heat difícil com o português: "São sempre, com ele. É muito consistente, ainda mais com o apoio do público."

Aos 36 anos, Fanning está numa fase da carreira em que já não se preocupa tanto em disputar o título, considerando que a nova geração liderada por John John Florence e Gabriel Medina, com Jordy Smith também no seu melhor nas últimas épocas, "está num campeonato próprio". Porém, ele vai estar no meio da luta entre o havaiano e o brasileiro. Smith já foi eliminado em Peniche. Nos quartos-de- -final, se Fanning derrotar Medina, Florence só precisará de chegar à final para ser novamente campeão em Peniche, como em 2016. "Pessoalmente gostava de os ver levar a luta para o Havai, mas não quero perder. De certeza que o John John vai torcer por mim", afirmou, demonstrando boa disposição, apesar de admitir que não se sentiu no seu melhor durante o dia. Fanning frisou que respeita o trabalho que os dois jovens surfistas - e já campeões do mundo - estão a fazer, dizendo que lhe resta aparecer e fazer o seu trabalho. Ainda assim, para o australiano, ganhar novamente em Peniche será sempre especial, até porque foi Mick Fanning a vencer quando em 2009 a etapa passou por Portugal como evento search e foi também dos que apelaram para que os Supertubos passassem a fazer parte do circuito mundial permanentemente. Talvez por isso, mesmo eliminando um surfista português, foi aplaudido e muito procurado pelos fãs.

O Meo Rip Curl Pro poderá terminar já hoje, se o mar apresentar condições. Os quartos-de-final abrem com Julian Wilson e Sebastian Zietz, seguindo-se John John Florence e Kolohe Andino, Kanoa Igarashi e Miguel Pupo, com Gabriel Medina e Mick Fanning a fecharem esta ronda.