02 dezembro 2016 às 00h05

Carlsen adia sonho russo e sagra-se campeão mundial

Norueguês foi superior a Serguei Kariakin no desempate em jogos semirrápidos e revalidou o título no dia em que fez 26 anos

Nuno Fernandes

Magnus Carlsen sagrou-se campeão mundial de xadrez pela terceira vez consecutiva, repetindo os êxitos de 2013 e 2014, agora perante o russo Serguei Kariakin, que aos 12 anos se sagrou o mestre mais jovem de sempre da história do jogo de estratégia e que a determinada altura deu a sensação de poder derrotar o norueguês no Campeonato Mundial que decorreu em Nova Iorque, Estados Unidos.

Obrigado a disputar um desempate de quatro partidas semirrápidas (jogos de 25 minutos e mais dez segundos adicionais por jogada), o mestre norueguês que completou ontem 26 anos superiorizou-se nos dois derradeiros jogos depois de nulos nos primeiros. Para trás ficou uma maratona de 12 partidas, em formato clássico, iniciada a 11 de novembro e nas quais se tinham registado dez empates e um triunfo para cada lado.

Kariakin, de acordo com alguns especialistas, mostrou-se algo nervoso no tira-teimas. Prova disso foi ter pedido um café no início do segundo jogo, algo muito raro no russo. Kiril Zangalis, representante do mestre russo, parecia antever a derrota no final do terceiro round, quando deixou escapar na sala VIP que não acreditava "em milagres". A quarta partida só comprovou as qualidades de Magnus, que jogou mais defensivamente e terminou com uma jogada magistral.

No final, Kariakin admitiu que Carlsen foi um justo vencedor, mas que dificultou ao máximo o trabalho do norueguês: "Carlsen ganha sempre os seus jogos nas primeiras séries, pelo que ter sido obrigado a desempatar em partidas semirrápidas é mais ou menos como chegar aos penáltis ou a um prolongamento num jogo frente ao Barcelona", referiu, numa analogia com o futebol, prometendo que em 2018 vai tentar ser ele a receber a coroa: "Sempre disse que o meu objetivo é devolver o título mundial à Rússia [não vence o Mundial há dez anos]".

"Quero agradecer ao meu pai, ele é sem dúvida o meu maior suporte e a melhor pessoa que conheço. Sempre se sacrificou por mim desde que comecei a jogar. Estarei eternamente grato porque mesmo nos momentos mais complicados esteve sempre ao meu lado. Ele significa o mundo para mim", reagiu Carlsen após o jogo que lhe valeu mais um título.

Este agradecimento tem uma justificação. Henrik Carlsen notou desde muito cedo no filho uma habilidade fora do normal. Antes dos 2 anos já montava puzzles de 50 peças e aos 4, 5 anos fazia complexas construções de Lego. Como adorava xadrez, Henrik tentou ensinar Magnus, que na altura preferia jogar futebol - ainda hoje é um confesso adepto do Real Madrid e fã de Ronaldo.

O pai nunca forçou o filho com a sua paixão. Mas de forma espontânea Magnus começou aos 9 anos a jogar xadrez no computador. "Mas não como uma obrigação, nunca pedimos nada. Era um hóbi. Ele tinha essa vontade. Primeiro queria ganhar às irmãs e depois começou a estudar para me derrotar", contou Henrik Carlsen. Ao contrário de outros jogadores, que se reveem em lendas antigas do xadrez como Bobby Fischer, Carlsen estudou sempre xadrez no computador, desenvolvendo uma habilidade que lhe permite calcular e memorizar cerca de 500 mil jogadas. Um dos grandes trunfos do norueguês, que se tornou mestre internacional de xadrez aos 13 anos, é conseguir calcular de forma extremamente rápida. "Ele imagina como estará o tabuleiro de xadrez 20 jogadas à frente das pessoas comuns. Assim fica mais fácil prever as ações dos rivais e escolher a jogada certa", contou Dirk Geuzendam, especialista de xadrez.

O título mundial valeu ao norueguês um cheque de 550 mil euros. Mas daqui deverá descontar 25,7 mil euros devido a uma multa por ter abandonado uma conferência de imprensa obrigatória.